“Ao entrar em Adeganha, o viajante
pasma diante da grande e única laje granítica
que faz de praça, eira e cama de luar no meio da povoação”
“…a igreja é esta. Não caiu em exagero quem a gabou.
A igreja da Adeganha é coisa para se ter no coração”
José Saramago, Viagem a Portugal
Historial
Situada na margem direita do rio Sabor, a dezoito kilómetros de Torre de Moncorvo, a povoação de Adeganha, uma pequena aldeia em pleno Alto Douro, edificada no cimo de um monte, nos confins da serra de Bornes, ergue-se sobre a vasta extensão do vale da Vilariça.
A paisagem local de Adeganha acompanha o irregular da sua topografia: em baixo, no extenso vale, predominam as grandes quintas, o viço das hortas e as muitas plantações da ribeira da Vilariça, que se estendem muito além do rio Sabor; em cima, as leiras de centeio convivem harmoniosamente com os olivais e, estes, com a penedia eriçada.
Aqui tudo se aproveita: as pedras, usadas em pequenas construções, guardam as ovelhas e os cereais, e as rochas são aproveitadas para paredes ou eiras onde se fazem as malhadas. A simplicidade, aliada à nobreza dos seus materiais, o granito, confere-lhe um ar austero, mas rústico, fazendo de Adeganha um dos núcleos de arquitectura rural muito interessante.
As suas casas, de planta quadrada ou rectangular, albergam os animais, em baixo, e os proprietários, em cima, além de exibirem escadarias e balcões exteriores, postigos incrustados nas paredes, que reforçam ainda mais a sua sobriedade.
A origem etimológica do seu nome, Adeganha, é quase tão remota como a própria história, uma vez que este era o nome que se dava às terras do antigo reino de Portugal, tomadas aos montes ou campos vizinhos para formar o termo municipal.
Contudo, perscrutando a população mais idosa, em Adeganha o nome vem associado à história das “Três Marias”. Três Marias, que são três irmãs pastoras, que costumavam apascentar o gado lá para os lados de Frei Vivas, um monte de zimbros, carrascos, sobreiros e giestas.
Conta a lenda que estas três irmãs, juntamente com rapazes, se entretinham a jogar às cartas e que uma delas, dada a manha e o jeito para a batota, acabava sempre por ganhar, ficando as outras duas roídas de inveja.
Para se desforrarem, as duas irmãs fizeram uma grande fogueira, para a qual empurraram a irmã batoteira dizendo: Arde e ganha! Arde e ganha!
Com este nome de Arde e ganha, Adeganha, ficou, deste modo, conhecida a povoação.
Se o nome de Adeganha está envolto num misto de realidade e ficção, o mesmo se pode dizer em relação à sua origem jurídica. Muitos há, como o Abade de Baçal, Pinho Leal e Américo Costa, que corroboram a ideia de que Adeganha recebeu uma carta de foral passada por D. Afonso III, em 16 de Fevereiro do ano de 1258.
Na realidade, não se trata propriamente de um foral, mas de uma carta de um simples emprazamento ou foro entre o referido soberano e um certo indivíduo e sua mulher (Domingos Anes e Teresa Peres), incidindo sobre um casal simples, um casal reguengo no sítio do Costado: in Adegania in loco qui dicitur Costrado cum vinea, devendo os ditos titulares e seus sucessores ter o casal povoado e cultivado com certos encargos, entre os quais o de três soldos.
Mas se restam dúvidas acerca da existência de um foral em Adeganha, o mesmo não se passa coma povoação da Junqueira, que se orgulha de ter recebido das mãos de D. Sancho I, em 15 de Janeiro do ano 1201. A confirmá-lo está o Pelourinho, já recuperado, e a carta de foral: vos homines de Junqueira de Valarisa qui ibidem populatores estis per mandatum meum forandi facienti.
Facto curioso é o de Junqueira ser hoje um lugar da freguesia de Adeganha, quando, no passado, se dava precisamente o contrário: Adeganha na paróquia de Junqueira. Ainda hoje, muitos historiadores defendem a ideia de que a freguesia de Adeganha herdou ou representa a paróquia medieval de Santiago de Junqueira, uma das poucas que ainda existiam na “terra” de Santa Cruz de Vilariça, nos meados do século XIII. Esta ideia fundamenta-se não só pela proximidade de Adeganha e Junqueira, mas também pelo facto de no século XIII, e posteriormente, a paróquia de Junqueira aparecer com o mesmo orago da de Adeganha e não aparecer esta, embora existisse e até se desse o facto de se ter erigido aí paróquia sem extinção da de Junqueira, chegando mesmo a coexistir.
Texto enviado por Eduardo Novo.(continua)
(Reedição de posts desde o inicio do blogue)
(Reedição de posts desde o inicio do blogue)
Rigor na informação .Mais um texto das nossas aldeias.Senhores do blogue, façam uma ronda por todas.
ResponderEliminarSó 2 dúvidas:
ResponderEliminarAdeganha não vem mencionada nas inquirições de 1258 ou, apesar do seu belissimo templo, no rol das igrejas de 1320 e mm. assim diz o escriba que a Adeganha já existia ou coexistia.
Será assim ?
Documentalmente onde se baseia para tal afirmação, porque parece que estes docs.não serão tão completos como se quer fazer crer ?
E, já agora, onde fica o Costrado ou é toponimo extinto ?
gracias !