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Publicado no "TERRA QUENTE"em 1993
Que bom lembrar aqui o Arnaldo, levou a vida com humor e humor é sinónimo de inteligência. Ele como ninguém conhecia o concelho e as suas pessoas, improvisando inumeras estórias e partidas hilariantes. Pouco antes de ele cair doente veio a moncorvo com um livro manuscrito por ele, que pretendia editar, para isso reconhecendo as suas limitações, pretendia que fosse o Rogério Rodrigues a corrigir e apurar o texto, mas de desencontro em desencontro parece que nunca lhos entregou. Falei há dias com o seu sobrinho no sentido de procurar á tia se esses manuscritos se encontrariam lá em casa. Como dele se conhecem tantas estórias poderia-mos partilhar algumas delas aqui no blogue.
Sim, Paulo. A maior consolação que tive, enquanto director do Terra Quente, foi ter autenticamente descoberto dois homens grandes na escrita: o Arnaldo Gonçalves e o Toninho Gil. Os textos deles dois eram lidos avidamente em quadrantes muito diversos e não apenas em Moncorvo.Recordo-me de ter uma vez ido à Escola Agrária de Carvalhais e vários alunos me terem dito para lhes levar lá o Arnaldo e o Gil T, que eles só conheciam das letras do jornal. Também a morte inesperada de ambos foi uma grande perda para as letras Moncorvenses. Exactamente eu os andava incentivando para escreverem e seleccionarem textos para propôr ao dono do jornal a sua publicação em livro. E este projecto não o consegui realizar. Talvez tenhamos de o repensar. Na memória de Moncorvo não haverá muitos textos mais bonitos e interessantes do que o "Leva - Leva" do Arnaldo e a "Chegada da Malhadeira ao Peredo" do Gil T.
O Manel era o meu companheiro ,amigo e colega na escola primária .Ele saía de casa no Cabo ,em frente ao cineteatro, na esquina da rua do cemitério (rua Santiago), juntávamo-nos à minha porta atrás do adro , seguíamos pela rua do hospital velho,faziamos o sinal da cruz ou erguíamos o braço direito( mais tarde soube o que representava)em frente à capela,passávamos pela casa do motor ,cumprimentávamos o senhor Moura ,escolhíamos as pedras para passar por cima do alpiche do lagar de azeite e ,com o Escatcha, o Migas, o Pintalagorra ,o Barriel, o Cagalheta e o Cabaço (a malta do Cabo) ,disparávamos ao chegar à escola:”Bomdiadonaisabel!”Com a braseira entre as pernas e as “cabras” à mostra ,gritava: “Sentados!”
O Manel morreu em Fevereiro de 1950, de tuberculose. Tinha nove anos. Era irmão do Arnaldo. O pai , o senhor Manuel, era padeiro do Paiva e natural de Vilarelhos. A minha mãe dizia-me, quando me via chorar, que Deus o tinha levado para o céu. Mas no céu não há bugalhas, nem pião ,nem botões ,nem se joga aos polícias e ladrões. Por que não vinha brincar comigo? Que estava lá a fazer?
Nos anos sessenta, das poucas vezes que ia a Moncorvo, tomava a bica no “Moreira” com o Arnaldo e outros amigos. Como diz o Rogério, o Arnaldo reinventava o pícaro , quando começava a contar estórias de Moncorvo ,não sentíamos o tempo passar .Ele ,o Xico do Porto ,o Afonso Pires e o Passarinho (empregado na Farmácia da dona Cármen)criavam as mais divertidas tropelias( o fantasma do Cuco é uma delas)que esperam pela Júlia . “Não vais para a França ou Alemanha como os outros ?”-perguntava eu.“ És maluco ,a minha frança está aqui ,sou o ministro das obras dos que deram o “salto” ,trato da água ,monto a instalação eléctrica, vendo os electrodomésticos(sabes o que é?),bô à cambra pás licenças ,tudo, trocado em miúdos, sou o cônsul deles em Moncorvo. Se te pirares à tropa e à guerra e precisares de francos ou marcos, apita”.
Este era o Arnaldo que eu conheci, o que se sentava à mesa com os “comunas”e “azuis”(F.C.P.), ele que era “vermelho” do Benfica .Sei agora que escrevia poesia no “Terra Quente” do António Júlio ,com prefácio do seu amigo das letras. E que, em corpo, já não está entre nós.
Lelo Nota: comentário a um texto de Rogério Rodrigues ,que falava da morte do Arnaldo, publicado no nosso antigo blogue.
AQUI VAI UMA; o A.P. era um tipico moncorvense, curioso, uma pessoa que gosta de saber onde os outros desencantam a gravata e os sapatos, então quiz saber como é que o Arnaldo tinha uma carrinha nova, perpiscaz o Arnaldo tirava logo partido das situações e respondeu-lhe; olha pá! eu vou-te contar como arranjo o dinheiro, para levar esta vida. Como sabes tenho um armazém no Carvalhal e nesse armazém tenho uma máquina inventada por mim, com papel próprio e com tintas infalíveis, difíceis de detectar em qualquer casa comercial e instituição bancária, tu como és uma pessoa que eu faço muita «confiança», (escusado será dizer que era mais uma das muitas brincadeiras que ele teve pela vida fora)vou-te levar ao dito armazém. Quando se encontram lá apresenta-lhe uma máquina de moer café manual, com uma fotocopiadora camuflada num cartão, o A.P. muito admirado lhe pergunta oh Arnaldo tu estás a gozar comigo ou quê, ao que lhe respondeu: não P. este cartão que estás a ver esconde o segredo das notas de cinco mil escudos e num gesto contínuo, retira o cartão, aonde aparece uma fotocopiadora normal e lhe diz: o que aqui está mete-se um rolo de papel dentro da máquina de café e ao tritura-lo dá-se uma fusão com esta tinta especial e aguarda-se dez a quinze minutos isto é dependendo quantidade das notas e aí o P. lhe responde; para quantas notas dá este papel que lhe metes-te? o A. responde; isto só dá para uma dúzia de notas de 5 mil escudos. O P. com os olhos esbugalhados, mas muito entusiasmado lhe pergunta; oh Arnaldo tu tens coragem de levar essas notas ao banco nacional ultramarino? ao que A. lhe responde; absolutamente nenhum...o P quiz saber quanto tempo ainda faltava para a saída das notas. Num gesto descontraído o A. cosultando o seu relógio lhe diz; é pa´ainda bem que me avisas-te! mais um minuto e queimavam-se as notas todas e num gesto repentino abre a gaveta da copiadora e escusado será dizer que nessa gaveta ele tinha préviamente posto as notas de cinco mil que totalizavam 45 contos. O P. ao ver as notas espalhadas no fundo da gaveta se antes os olhos estavam bugalhudos mais bugalhudos ficaram ao ver as ditas notas e dizendo ao A. se podia pegar uma delas, ao que ele respondeu eh pá á vontade. O P. Pegou numa delas e mirando-a dos dois lados e estalando-a respondeu; eh pá estão perfeitas!!! o A. sugeriu então uma ida ao banco e assim foi...mas quando chegaram ao BNU.O sr. P. lhe diz: oh pá sou muito teu amigo mas ao banco não vou, porque se tiveres de ser preso, és tu eu não!!! em acto continuo o A. entrou na agência dirigindo-se ao caixa para depositar o dito dinheiro. O sr. P.vendo o ávontade com que ele entrou no banco pos-se um pouco distanciado a apreciar o acto... Quando o viu sair com o talão do dito depósito o P. muito admirado diz-lhe oh pá afinal passaram todas! a ver se me arranjas umas poucas...ao que o A. respondeu nem penses uma pessoa que não faz confiança em mim eu tmb não faço confiança nessa pessoa... continua. recolha feita junto de Manuel Pestana
Tanta vida, tanto entusiasmo a entrelaçarem-se de sentimentos, emoções; gratas recordações, pelo que vejo. Venham mais histórias e comentárias, todos eles cheios de interesse A.A.
Que bom lembrar aqui o Arnaldo, levou a vida com humor e humor é sinónimo de inteligência. Ele como ninguém conhecia o concelho e as suas pessoas, improvisando inumeras estórias e partidas hilariantes. Pouco antes de ele cair doente veio a moncorvo com um livro manuscrito por ele, que pretendia editar, para isso reconhecendo as suas limitações, pretendia que fosse o Rogério Rodrigues a corrigir e apurar o texto, mas de desencontro em desencontro parece que nunca lhos entregou. Falei há dias com o seu sobrinho no sentido de procurar á tia se esses manuscritos se encontrariam lá em casa. Como dele se conhecem tantas estórias poderia-mos partilhar
ResponderEliminaralgumas delas aqui no blogue.
Sim, Paulo. A maior consolação que tive, enquanto director do Terra Quente, foi ter autenticamente descoberto dois homens grandes na escrita: o Arnaldo Gonçalves e o Toninho Gil. Os textos deles dois eram lidos avidamente em quadrantes muito diversos e não apenas em Moncorvo.Recordo-me de ter uma vez ido à Escola Agrária de Carvalhais e vários alunos me terem dito para lhes levar lá o Arnaldo e o Gil T, que eles só conheciam das letras do jornal. Também a morte inesperada de ambos foi uma grande perda para as letras Moncorvenses. Exactamente eu os andava incentivando para escreverem e seleccionarem textos para propôr ao dono do jornal a sua publicação em livro. E este projecto não o consegui realizar. Talvez tenhamos de o repensar. Na memória de Moncorvo não haverá muitos textos mais bonitos e interessantes do que o "Leva - Leva" do Arnaldo e a "Chegada da Malhadeira ao Peredo" do Gil T.
ResponderEliminarO Manel era o meu companheiro ,amigo e colega na escola primária .Ele saía de casa no Cabo ,em frente ao cineteatro, na esquina da rua do cemitério (rua Santiago), juntávamo-nos à minha porta atrás do adro , seguíamos pela rua do hospital velho,faziamos o sinal da cruz ou erguíamos o braço direito( mais tarde soube o que representava)em frente à capela,passávamos pela casa do motor ,cumprimentávamos o senhor Moura ,escolhíamos as pedras para passar por cima do alpiche do lagar de azeite e ,com o Escatcha, o Migas, o Pintalagorra ,o Barriel, o Cagalheta e o Cabaço (a malta do Cabo) ,disparávamos ao chegar à escola:”Bomdiadonaisabel!”Com a braseira entre as pernas e as “cabras” à mostra ,gritava: “Sentados!”
ResponderEliminarO Manel morreu em Fevereiro de 1950, de tuberculose. Tinha nove anos. Era irmão do Arnaldo. O pai , o senhor Manuel, era padeiro do Paiva e natural de Vilarelhos. A minha mãe dizia-me, quando me via chorar, que Deus o tinha levado para o céu. Mas no céu não há bugalhas, nem pião ,nem botões ,nem se joga aos polícias e ladrões. Por que não vinha brincar comigo? Que estava lá a fazer?
Nos anos sessenta, das poucas vezes que ia a Moncorvo, tomava a bica no “Moreira” com o Arnaldo e outros amigos. Como diz o Rogério, o Arnaldo reinventava o pícaro , quando começava a contar estórias de Moncorvo ,não sentíamos o tempo passar .Ele ,o Xico do Porto ,o Afonso Pires e o Passarinho (empregado na Farmácia da dona Cármen)criavam as mais divertidas tropelias( o fantasma do Cuco é uma delas)que esperam pela Júlia .
“Não vais para a França ou Alemanha como os outros ?”-perguntava eu.“ És maluco ,a minha frança está aqui ,sou o ministro das obras dos que deram o “salto” ,trato da água ,monto a instalação eléctrica, vendo os electrodomésticos(sabes o que é?),bô à cambra pás licenças ,tudo, trocado em miúdos, sou o cônsul deles em Moncorvo. Se te pirares à tropa e à guerra e precisares de francos ou marcos, apita”.
Este era o Arnaldo que eu conheci, o que se sentava à mesa com os “comunas”e “azuis”(F.C.P.), ele que era “vermelho” do Benfica .Sei agora que escrevia poesia no “Terra Quente” do António Júlio ,com prefácio do seu amigo das letras. E que, em corpo, já não está entre nós.
Lelo
Nota: comentário a um texto de Rogério Rodrigues ,que falava da morte do Arnaldo, publicado no nosso antigo blogue.
Mais versos ,textos, seja o que for, mas mais Arnaldo.Publiqem o texto do Leva -Leva e os do Gil T..
ResponderEliminarAQUI VAI UMA; o A.P. era um tipico moncorvense, curioso, uma pessoa que gosta de saber onde os outros desencantam a gravata e os sapatos, então quiz saber como é que o Arnaldo tinha uma carrinha nova, perpiscaz o Arnaldo tirava logo partido das situações e respondeu-lhe; olha pá! eu vou-te contar como arranjo o dinheiro, para levar esta vida. Como sabes tenho um armazém no Carvalhal e nesse armazém tenho uma máquina inventada por mim, com papel próprio e com tintas infalíveis, difíceis de detectar em qualquer casa comercial e instituição bancária, tu como és uma pessoa que eu faço muita «confiança», (escusado será dizer que era mais uma das muitas brincadeiras que ele teve pela vida fora)vou-te levar ao dito armazém. Quando se encontram lá apresenta-lhe uma máquina de moer café manual, com uma fotocopiadora camuflada num cartão, o A.P. muito admirado lhe pergunta oh Arnaldo tu estás a gozar comigo ou quê, ao que lhe respondeu: não P. este cartão que estás a ver esconde o segredo das notas de cinco mil escudos e num gesto contínuo, retira o cartão, aonde aparece uma fotocopiadora normal e lhe diz: o que aqui está mete-se um rolo de papel dentro da máquina de café e ao tritura-lo dá-se uma fusão com esta tinta especial e aguarda-se dez a quinze minutos isto é dependendo quantidade das notas e aí o P. lhe responde; para quantas notas dá este papel que lhe metes-te? o A. responde; isto só dá para uma dúzia de notas de 5 mil escudos. O P. com os olhos esbugalhados, mas muito entusiasmado lhe pergunta; oh Arnaldo tu tens coragem de levar essas notas ao banco nacional ultramarino? ao que A. lhe responde; absolutamente nenhum...o P quiz saber quanto tempo ainda faltava para a saída das notas. Num gesto descontraído o A. cosultando o seu relógio lhe diz; é pa´ainda bem que me avisas-te! mais um minuto e queimavam-se as notas todas e num gesto repentino abre a gaveta da copiadora e escusado será dizer que nessa gaveta ele tinha préviamente posto as notas de cinco mil que totalizavam 45 contos. O P. ao ver as notas espalhadas no fundo da gaveta se antes os olhos estavam bugalhudos mais bugalhudos ficaram ao ver as ditas notas e dizendo ao A. se podia pegar uma delas, ao que ele respondeu eh pá á vontade. O P. Pegou numa delas e mirando-a dos dois lados e estalando-a respondeu; eh pá estão perfeitas!!! o A. sugeriu então uma ida ao banco e assim foi...mas quando chegaram ao BNU.O sr. P. lhe diz: oh pá sou muito teu amigo mas ao banco não vou, porque se tiveres de ser preso, és tu eu não!!! em acto continuo o A. entrou na agência dirigindo-se ao caixa para depositar o dito dinheiro. O sr. P.vendo o ávontade com que ele entrou no banco pos-se um pouco distanciado a apreciar o acto...
ResponderEliminarQuando o viu sair com o talão do dito depósito o P. muito admirado diz-lhe oh pá afinal passaram todas! a ver se me arranjas umas poucas...ao que o A. respondeu nem penses uma pessoa que não faz confiança em mim eu tmb não faço confiança nessa pessoa...
continua.
recolha feita junto de Manuel Pestana
Obrigatório ler!Senhor António Júlio e Paulo Patuleia, mais textos do Arnaldo, por favor.
ResponderEliminarArmando Colaço Grande Homem, Tio do meu coraçao
ResponderEliminarTanta vida, tanto entusiasmo a entrelaçarem-se de sentimentos, emoções; gratas recordações, pelo que vejo. Venham mais histórias e comentárias, todos eles cheios de interesse
ResponderEliminarA.A.
Bem haja por ter publicado os versos do Arnaldo.
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