
Na manhã em que o automóvel do meu companheiro Leonel (Lelo) Brito parou no Peredo, antes de eu ver qualquer coisa comecei foi a ouvir: era um som esquisito, inidentificável pelo homem de fora, metálico, monótono. «Que se passa?» – perguntei, fiado em que qualquer canalizador de Moncorvo montava na aldeia mais uma casa de banho para emigrante. «Ah, este barulho» – explicou-me o Lelo – «é a partirem amêndoa. Eu já te mostro.»
A amêndoa colhe-se em Setembro-Outubro para ser partida depois de Novembro, mas pode ficar em casca, conforme as conveniências do dono, às vezes um ano ou mais. Todavia, a «partidela» (designação popular da operação, sempre colectiva) faz-se habitualmente no Inverno, a estação das noites longas. E não ocupa só as noites, mas os dias e as tardes. O tal som metálico que eu ouvia era o da percussão (um, dois toques por amêndoa) da amêndoa sobre uma pedra, mediante pancadas dadas com um pedaço de cano de ferro.
No Peredo dos Castelhanos colhem-se 3000 arrobas de amêndoa em anos recentes. A arroba esteve no princípio do Inverno a 1200$00 (em miolo), para subir depois aos 1400$00 ou até 1500$00. A gente do Peredo considera estes preços «uma fortuna», se bem que receie uma baixa do valor do produto já na próxima colheita: é o que lhe ensina a experiência dos altos e baixos…
«Há colheiteiros de amêndoa que tiram duzentas e trezentas arrobas» – asseveraram-me no Peredo. (Os restantes, ou seja a maioria, andam na casa das dezenas, se tanto).
Quem «faz» amêndoa? Os proprietários dos amendoais, claro, frequentemente proprietários novos, pois «os ricos têm vendido aos pobres» (emigrantes). Além dos proprietários, também os rendeiros, quando os há – e há naturalmente muitos. Em tempo: quando a mão-de-obra não faltava como agora, praticava-se o sistema do «terceiro», isto é, quem cuidava da terra para um proprietário ficava com a terça parte da produção, números redondos. Faltaram os braços e… os «terceiros» transformaram-se regra geral em «meeiros». Enfim, há quem disponha de amêndoa por simples compra, sem possuir amendoais.
A «partidela» da amêndoa mobiliza as boas vontades de uma aldeia. O vizinho ajuda o vizinho, que por sua vez o ajudará. (E leia-se «vizinha» que está mais certo.) Um proprietário aflito recorre ao contrato de «partideiras» experimentadas, pagando-lhes em média 50$00 por dia útil e sobrecarregado.
In TORRE DE MONCORVO Março de 1974 a 2009
De Fernando Assis Pacheco ,Leonel Brito, Rogério Rodrigues
Edição da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo
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