Depois de tantas coisas sérias, eis uma estorinha muito breve
para desopilar.Passou-se há uns tempos em Leiria, mas eu não assisti. Foi-me contada
por uma amiga.
Numa rua estreita do centro de Leiria, em que o passeio era assaz estreito - o que,
aliás, é a norma no centro histórico de
todas as cidades antigas - seguia
apressada uma peixeira da Nazaré,
de canastra à cabeça, apregoando:“Carapau
de corrida! Fresquinho da Nazaré” , enquanto o seu belo menear de ancas, próprio
de quem toda a vida caminhou na areia, dava às suas sete saias um elegante voltear.
No mesmo passeio, mas em sentido contrário, avançava um cavalheiro de fato cinzento e pasta na
mão, talvez um gestor de
florescente (ou decadente)empresa. Vinha
absorto nos seus importantíssimos pensamentos e só viu a peixeira quando quase
esbarrou com ela. O passeio era
demasiado estreito para duas pessoas, por isso o dito cavalheiro, murmurando uma
desculpa, desviou-se dando um passo à direita. A peixeira desviou-se também, mas para o mesmo lado. Em seguida, e em simultâneo, ambos deram novo passo, agora para a esquerda.
E estes passos repetiram-se umas 4 ou
5 vezes, até que a nazarena, já furiosa,
diz : “ Ó home, pára lác’o tango,qu’eu
quero ir vender o carapau”.
27 de Fevº de 2013
Júlia Ribeiro
Reedição de posts desde o inicio do blogue
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E disse muito bem! Mais um momento de bom humor e boa disposição! Obrigada, Júlia. Um abraço
ResponderEliminarÉ verdade, todos, mesmo sem dançar tango, nos envolvemos em cenas destas.
ResponderEliminarJá agora, sabe a origem do "Carapau de corrida"?
Abraço.
Texto limpo,claro, e em português de Portugal.Li o texto, comprei o jornal e li num artigo sobre o mercado da música :streaming,música online ,sem download.A língua portuguesa é a minha pátria,dizia o poeta que viveu a infância e juventude no mundo anglo-saxão.Imagino o Pessoa a ler estes dois textos.
ResponderEliminarA velha do poeta Alexandre O. comprava carapaus para o benfica. "Carapau de corrida"são todos que escrevem como o jornalista do texto citado.E venham mais textos em bom português com boas histórias e carregados de humor.Obrigado minha senhora.
L.A.Guardado
Tango,pasodoble, valsa,disco,tudo se baila menos o fado.Choradinho,brigão escuta-se em silêncio e a comer sardinhas.Não há baile nem carapaus.É a nossa sina.Se cruzarmos com o Relvas o que dançamos?Karaté.Pois claro.
ResponderEliminarJ.
Olá, Amigo Armando Sena:
ResponderEliminarEm tempos idos, tempo da arte xávega, chegavam os barcos à praia e o peixe era vendido ali mesmo. Primeiro vendia-se o peixe melhor e, portanto, mais caro. As peixeiras com mais posses compravam primeiro. Tinham a carroça com o macho ou a mula à espera e toca para a vila ou cidade o mais depressa possível. (Mais tarde as carrinhas substituíram as carroças).
As peixeiras descalças e com menos posses iam ficando para o fim e compravam o peixe mais barato. Então corriam por atalhos de modo a chegar à vila ou à cidade antes das que haviam adquirido o pescado mais caro.
E agora temos dois pregões:
a) As primeiras peixeiras apregoavam o carapau: “Vivinho a saltar” ;
b) as peixeiras descalças apregoavam “Carapau de corrida”.
E temos duas interpretações:
c) As freguesas sabiam que o “vivinho a saltar” era mais caro, deveria ser melhor, mas as peixeiras haviam tido tempo para misturar algum carapau não vendido no dia anterior;
d) O “carapau de corrida” era mais pequeno, mais barato, mas ali não havia carapau do dia anterior, porque as peixeiras descalças não tinham tempo para essas misturas.
Foi este segundo pregão que vingou, pois o pescado passou a ser vendido na lota, daí passou para as peixarias e só as peixeiras descalças continuaram a sua corrida.
Também existe a expressão “armar-se em carapau de corrida” para designar alguém que é “chico-esperto” e tenta passar por “sabichão”.
Mas se houver outras interpretações, serão bem-vindas.
Um abraço
Júlia
Olá, Júlia!
ResponderEliminarMuito bem contado! E cheio de graça...
Beijinho,
Isabel (Mateus)
Olá Amiga Júlia,embora menos detalhada, foi essa a explicação que me contaram.
ResponderEliminarLiteralmente, as peixeiras iam a correr com o peixe do refugo para chegar ao mesmo tempo que o de primeira escolha.
É como os termos usados em Trás-os-Montes, em cada aldeia têm seu siginificado.
Viva a diversidade.
Um abraço,
Armando Sena
Viva, quem é uma flor!
ResponderEliminarHá tanto tempo, Isabel !
Tudo bem consigo e com os seus?
Obrigada pelas suas palavras.
Estas estorinhas destinam-se apenas a aliviar, por um momento, toda a pressão e stress a que estamos sujeitos. Já para não falar na pobreza, na miséria (e até fome) que uns milhões de portugueses estão a viver.
Beijinho
Júlia
ResponderEliminarRaquel Serejo Martins escreveu: Arrancou-me um sorriso. Tão bom! Beijinho grande à menina Júlia, que definitivamente temos que trazer para esta coisa do FB.