"Pequenas fogueiras de silvas e mato ardiam por vários sítios, misturando ao nevoeiro matinal o seu fumo, deixando no ar um odor inconfundível.
Este era um cenário único, um cenário mutante. Esta era a imagem de inverno. Na primavera, seria diferente, tudo se iria colorir. Parecia que, embora o palco se mantivesse, a peça era outra. Conseguia-se assim, no mesmo recinto teatral, participar em diferentes performances que poderiam passar desde o cómico ao épico, até ao dramático, dependendo das vontades de São Pedro e da mãe natureza. Do outono à colheita tudo podia acontecer.
Este era o reino de Tomás Aguiar. Um reino de encostas feito. Alguns milhares de cepas desde o topo do monte até ao rio. A quinta do Sabiel, onde ele se sentia bem, onde se reencontrava consigo próprio, onde atingia o equilíbrio. Bem, um dos seus equilíbrios, pois se a vida é desequilibrada, não se pode equilibrar num ponto só. Assim, a sua era já uma derivação das leis da física, equilibrava-se aqui e ali, nunca se adivinhando para que lado pendia o fiel da balança no momento vindouro."
Excerto do livro, Colheita de Incertezas
Armando Sena
Reedição de posts desde o início do blogue
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Gosto do seu livro e da sua escrita.Envio-lhe estes versos do GRANDE ALEIXO
ResponderEliminarCINCO QUADRAS
DE ANTÓNIO ALEIXO
Acho uma moral ruim
trazer o vulgo enganado:
mandarem fazer assim
e eles fazerem assado.
Sou um dos membros malditos
dessa falsa sociedade
que, baseada nos mitos,
pode roubar à vontade.
Esses por quem não te interessas
produzem quanto consomes:
vivem das tuas promessas
ganhando o pão que tu comes.
Não me deem mais desgostos
porque sei raciocinar...
Só os burros estão dispostos
a sofrer sem protestar!
Esta mascarada enorme
com que o mundo nos aldraba,
dura enquanto o povo dorme,
quando ele acordar, acaba.
António Aleixo
Viva, Amigo Armando:
ResponderEliminarTambém eu gosto da sua escrita. Creio que já lho havia dito.
Ainda não tenho um livro seu, mas ando a fazer por isso. E sei que vou gostar de o ler por inteiro em vez de o ler fraccionado, ainda que estes "bocadinhos" espertem o apetite.
Abraço
Júlia
Grato pelos vossos comentários.
ResponderEliminarBem hajam.