segunda-feira, 2 de junho de 2014

A “BRETCHA” *,por Júlia Ribeiro


 O Camané assistiu, encantado, à apresentação do livro do Tiago Patrício  “Mil Novecentos e Setenta e Cinco”, a qual teve lugar no dia 30 de Maio passado, na Biblioteca de Moncorvo.
A propósito, lembrou-se do 25 de Abril de 74, que o apanhou com 12 anos e sem qualquer ideia do que fossem marxismo, comunismo, fascismo ou nazismo.
Era seu professor de Português o nosso amigo A.J.Andrade que foi assediado pela garotada para que  explicasse esses  -ismos todos. O professor explicou. E todos aprenderam, digamos, cada um a seu modo, pois que pais e mães, e vizinhos e o padre também deram a sua achega.
Messes depois chegou a apanha da azeitona.  Com os  -ismos uns mais outros menos arrumados, a canalhada foi ao  rebusco, enquanto as mães andavam na apanha. Era assim nas férias do Natal.
Os garotos maiorzinhos, pelo meio do rebusco, escapuliam-se e iam à bretcha. Sabiam muito bem onde estavam as oliveiras mais carregadinhas. Num virar de mão enchiam os taleigos duas, três vezes e depois podiam ir jogar a bilharda. O dono, latifundiário, não ficava mais pobre por isso.
Uma tarde, andavam todos a ripar azeitona, linda que nem botões de rosa, quando ouviram o feitor que já de longe os ameaçava: “Ladrões, seus ladrões! Eu dou-vos a roubalheira! Já chamei a polícia que vem já aí !” . Os garotos corriam ladeira acima e um disse: “Parecemos judeus a fugir dos nazis”. A essa ideia pararam e começaram a gritar para o feitor: “ Bufo ! Seu bufo! Não temos medo da pide. Não temos medo de fascistas” . E puseram cá para fora todos os ensinamentos que o bom do professor lhes havia transmitido. Ergueram o punho e soltaram o seu grito de guerra: “A terra a quem a trabalha”.
E o feitor desandou.

*”bretcha”, ir à bretcha = roubar azeitona das oliveiras ainda não varejadas. (pronúncia popular).

Júlia Ribeiro

3 comentários:

  1. Enquanto uns andam à brecha eu ando ao rebusco do meu vencimento e de tudo que sem pudor me têm roubado.Nem ismos usam: brecham e pronto.Viva o grande Camané e a sua cronista oficial.
    Leitor.

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  2. amigo Camané,a bretcha tinha que ser na mecha.tens que ler o conto/crónica das 11 castanhas,passado na primeira republica em Carviçais e escrito pela dra Júlia Barros Biló.
    Botem lá no blog.
    Camone

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  3. Vivam Dra Júlia e grande Camané : o que eu me divirto com estas cenas. venham mais.
    AG

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