Comissão Nacional da UNESCO quer estudar importância económica da classificação dos locais como património mundial
Reforçar a aliança entre a ciência e a cultura e apurar
quais são os benefícios reais que esta união - a razão de ser da UNESCO -
representa para uma região classificada é o principal objectivo de várias
entidades ligadas ao Alto Douro Vinhateiro (ADV) que se reuniram nesta
quarta-feira na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). A Comissão
Nacional da UNESCO, o Comité Português para o Programa Internacional das
Geociências e a UTAD realizaram um ciclo de conferências para debater o futuro
do Douro Património Mundial.
Perceber e demonstrar a importância e o valor da aliança
entre ciência e cultura para um território que conta com duas chancelas UNESCO
- o Alto Douro Vinhateiro e o Parque Arqueológico do Côa - é um dos principais
objectivos da Comissão Nacional da UNESCO. “A ciência e a cultura devem
funcionar em conjunto para promover de forma sustentada o desenvolvimento do
território”, adianta o presidente do Comité Nacional para o Programa
Internacional de Geociências, Artur Sá. Nesse sentido, a organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura já está a realizar um estudo sobre o
real valor da "marca" UNESCO em termos económicos.
Depois do Reino Unido, Portugal é o 2º Estado Membro dentro
dos 195 estados-membros existentes que vai fazer esta investigação. O objectivo
é perceber se esta certificação de qualidade é ou não uma mais-valia, até que
ponto é monitorizado e avaliado o número de turistas, o impacto que causa no
território e que novas oportunidades se criaram com essa chancela.
Para isso, a Comissão Nacional da UNESCO lançou um desafio
aos gestores dos quinze sítios nacionais, classificados como Património Mundial
da Humanidade, às sete reservas da biosfera e aos três geoparques para que colaborem nesse estudo. “Não há
estudos efectivos que apurem se faz diferença ou não um território ter a
chancela da UNESCO. Queremos ter esse estudo para depois, comparativamente,
perceber o que é que podemos melhorar e como é que podemos colaborar para
tentar rentabilizar" essa classficação, adianta Elizabeth Silva,
representante do sector das ciências da Comissão Nacional da UNESCO.
“Estas duas chancelas têm contribuído para uma maior
notoriedade do Douro”, não tem dúvidas o vice-reitor para o Planeamento e
Estratégia e Organização da UTAD, Artur Cristóvão.
Mas, apesar da classificação e das enormes mais-valias da
região, também há fragilidades. Artur Cristóvão, recordou que “o Douro tem
activos fundamentais para o seu desenvolvimento mas também tem debilidades que
têm de ser vencidas com mais articulação”.
João Rebelo, professor da UTAD e um dos oradores do
seminário, adiantou que o Douro está “em condições de manter a sua
classificação apesar de haver algumas actividades que afectam negativamente os
seus valores”. Entre estas ameaças, foram referidas as vinhas em patamares
largos, alguns novos hotéis e problemas pontuais resultantes do próprio
desenvolvimento económico. A barragem de Foz Tua, como as linhas de alta
tensão, foram consideradas por João Rebelo “problemas pontuais que não vão pôr
em causa a classificação do Alto Douro Vinhateiro”. Este investigador está a
participar no estudo sobre o estado de conservação do ADV, que está em fase de
conclusão, para ser apresentado à UNESCO no início do próximo ano.
Uma das principais conclusões do debate sublinhou que só com
uma aliança entre a ciência, a educação e a cultura se conseguem criar
sinergias e parcerias vitais para a salvaguarda, desenvolvimento e
sustentabilidade do Alto Douro Vinhateiro, estando já a ser realizados
projectos nesse sentido.
Célia Ramos, da CCDRN, garante que “é importante uma
aproximação à comunidade científica e cultural pois o Douro transpira valor
económico e social”, acrescentando que, no entanto, “ainda há muito a fazer” no
campo da inovação social.
Incrementar o conhecimento científico como motor de
desenvolvimento regional é, assim, essencial. Nesse sentido, a Fundação Côa
Parque, através do projecto “Côa na escola”, quer que as escolas da região
façam visitas ao património do Vale do Côa para lhes mostrar as facetas geológicas,
os valores culturais e o património arqueológico característico da região, como
a arte rupestre. “É muito importante avançar com este tipo de projectos porque
estamos a preparar as gerações futuras para serem os guardiões destes
patrimónios mundiais”, explica António Batarda Fernandes, da Fundação Côa
Parque.
Elizabeth Silva concorda e reforça que é importante que as
pessoas reconheçam não só os locais classificados como património mundial, mas
que tenham um sentido de pertença a esses bens: “É necessário que as
comunidades escolares estejam envolvidas e sensibilizadas para o património.”
Fonte: http://www.publico.pt/local/noticia/utad-e-unesco-querem-que-ciencia-e-cultura-andem-de-maosdadas-1660494
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