domingo, 21 de julho de 2013

Toada de Castro Vicente, por Pedro Castelhano

Castro Vicente 
Era uma vez em Castro Vicente
de  almas negras com fumo de maldição.
As mulheres sofriam em silêncio
e as crianças não nasciam em Castro Vicente.

Das ruínas do castro fugiam os corvos
crocitando negros até ao Rio 
e as cobras invadiram as pedras
e sugaram o leite das crias
dormentes e amargas ao anoitecer.

Era uma vez em Castro Vicente
com padre temente que o sino caísse
no silêncio da terra amaldiçoada.
As pedras vertiam sangue e as cobras
falavam a língua rascante do Oculto.

Fugiam as aves  do céu em peste.
Até em Castro Vicente o padre chorava.
Veio o Bruxo quando o Diabo já chegara.
E pela primeira vez em Castro Vicente
um Bruxo foi santo ungido de urtigas
e ossos ressequidos com danças de freira
vestida de sambenito, ave livre do Planalto.
E as crianças começaram  nascer
no tempo em que se anunciava o fim do Mundo.

Era uma vez e aconteceu em Castro Vicente
no dia em que o Diabo se esqueceu do Oculto.


 Pedro Castelhano 

4 comentários:

  1. Pois sim, mas o diabo tem fama de nunca se esquecer de nada. Desta vez pode ter querido falhar a fim de deixar campo aberto a nós outros.
    Se as pedras não falam, ou por outra, nem sempre entendemos o seu estático aceno; se os animais «naquele tempo» falaram e por isso se diz isso, então comunguemos nestes olvidos sem outras armas que não sejam as que são susceptíveis de conduzir ao (re)conhecimento, nas coisas aparentemente espalhadas, daquilo que as origens carregam.
    Carlos Sambade

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  2. Não conhecia a lenda de Castro Vicente de que o nosso amigo Rogério construiu tão fantástica toada.
    Que o Diabo se esquecesse do Oculto só é possível pelos seus muitos afazeres. Mas o Oculto não se esqueceu do Diabo e falou através dos corvos, das cobras e dos bruxos . O Bruxo de Castro Vicente, ungido de urtigas e santificado ... e eis que a maldição se esfuma .
    Belo poema. E eu que gosto tanto da lendas !

    Um abraço grande
    Júlia


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  3. Gostava de ouvir esta balada, musicada e cantada, pelo nosso padre Victor.

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  4. Escreve tão bem este senhor.Bem haja.

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