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quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Jardim I, por Pedro Castelhano

É noite. Nem o vento respira
neste jardim abandonado.Poucas
são as vozes que vão preparando
a morte.Só uma criança perturba
a grama com folhas dispersas de
árvores que nem os pássaros acolhem.


É noite. O relevo das montanhas
com luzes ao alto não sossega a alma.
Como direi aos vindouros que aqui
houve sonhos, sexo sonhado, ternuras
mal encaminhadas? Nem o vento
respira. Que sussurro alonga esta
noite? Que culpas há de envelhecer
com estas cadeiras tão cheias de vazio?


A sombra das árvores reflecte-se no chão
como caminho que não se deve percorrer
nem perguntar aos deuses que passos
inventaram para sair do jardim feito
labirinto. São disformes as sombras.


Inclina-se a noite para um maior
silêncio. Pessoas passam dissolvidas
no tempo, restos de mim de outrora.
Não sei dizer não à melancolia.
Esta noite amaldiçoarei os deuses
que o meu destino é chegar ao fim
sem nada que mereça. AH! O jardim.

Pedro Castelhano

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sexta-feira, 26 de julho de 2013

Jardim III,por Pedro Castelhano

...e o repuxo de água há muito...
Não matem os sons da noite
após um horizonte de vermelho
nuclear, com as árvores feridas
de silêncio e as montanhas adormecidas

Não matem os sons da noite
ainda que a lava do crepúsculo
me aqueça a paisagem
neste jardim abandonado
onde as flores já murcharam
e o repuxo de água há muito
que não vibra de pedra imóvel
e costura de grades de ferro.
A secura da noite impele
à sede os trânsfugas da claridade.

Não matem os sons da noite
só reconhecíveis pelos vagabundos
do sonho por todos aqueles
que procuram a Luz nas Trevas.

Não matem os sons da noite
que de qualquer maneira Deus
não chega, eternamente
adormecido na Inexistência.


Pedro Castelhano

domingo, 21 de julho de 2013

Toada de Castro Vicente, por Pedro Castelhano

Castro Vicente 
Era uma vez em Castro Vicente
de  almas negras com fumo de maldição.
As mulheres sofriam em silêncio
e as crianças não nasciam em Castro Vicente.

Das ruínas do castro fugiam os corvos
crocitando negros até ao Rio 
e as cobras invadiram as pedras
e sugaram o leite das crias
dormentes e amargas ao anoitecer.

Era uma vez em Castro Vicente
com padre temente que o sino caísse
no silêncio da terra amaldiçoada.
As pedras vertiam sangue e as cobras
falavam a língua rascante do Oculto.

Fugiam as aves  do céu em peste.
Até em Castro Vicente o padre chorava.
Veio o Bruxo quando o Diabo já chegara.
E pela primeira vez em Castro Vicente
um Bruxo foi santo ungido de urtigas
e ossos ressequidos com danças de freira
vestida de sambenito, ave livre do Planalto.
E as crianças começaram  nascer
no tempo em que se anunciava o fim do Mundo.

Era uma vez e aconteceu em Castro Vicente
no dia em que o Diabo se esqueceu do Oculto.


 Pedro Castelhano 

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Jardim II, por Pedro Castelhano

Aqui este é um lugar sonâmbulo
com luas cheias expulsas da memória
fartos os homens do passado e o descrédito
do tempo com as montanhas à vista.
Nada nos perdoa das culpas que não tivemos
sombras em viagem permanente
para o Vazio enquanto o Oculto nos seduz
apócrifo revelado como os deuses. É sempre
este jardim com colunas de granito
quais falos de uma juventude morta
enquanto o presente vem interromper
o passado. Não deixes que deserte
quando as árvores denunciam o crepúsculo
e mal cabe no coração a dor do presente.


Espero até que a noite me anuncie
o impossível, a luta vencida da Luz
e os aromas intensos do tempo que gastei
a esquecê-los nestas cadeiras verdes.
O sagrado fulmina  como se o adormecer
´do pássaro fosse a chave da memória.
Passada a ilusão do amor, não arrastes
os olhos à procura da beleza. As dádivas
são raras e nas as aproveitaste. Seja
como os morcegos que vêem o espaço
ao contrário.Seja como casa desabitada
habitada  apenas por presenças de mortos.
As ruínas são o teu ofício alarmes
de pedra e sangue antigo com dores
inauditas e tecidos rasgados pelo vento.

Quem sabe da natureza dos deuses
que deambulam perdidos na imensidão
do Nada? Quem sabe que o Amor perdeu
o leito quando o Sol matou a Lua?
Quem sabe porque a Felicidade não suporta
A Dor?  

Pedro Castelhano

...quando as árvores denunciam o crepúsculo...