...e o repuxo de água há muito... |
Não matem os sons da noite
após um horizonte de vermelho
nuclear, com as árvores
feridas
de silêncio e as montanhas
adormecidas
Não matem os sons da noite
ainda que a lava do
crepúsculo
me aqueça a paisagem
neste jardim abandonado
onde as flores já murcharam
e o repuxo de água há muito
que não vibra de pedra imóvel
e costura de grades de ferro.
A secura da noite impele
à sede os trânsfugas da
claridade.
Não matem os sons da noite
só reconhecíveis pelos
vagabundos
do sonho por todos aqueles
que procuram a Luz nas
Trevas.
Não matem os sons da noite
que de qualquer maneira Deus
não chega, eternamente
adormecido na Inexistência.
Pedro Castelhano
Poema sombrio,belo,de digestão difícil.Copiei para o papel e leio como quem mastiga e saboreia.Fica-me o sabor ,o cheiro, dentro de mim.Passar à noite pelo jardim,desembrulhar o poema...sentir com o fervor infantil da primeira hóstia e subir as escadas ,talvez o autor esteja a ler e a beber um gin.Estava.Disfarçei a emoção e balbuciei;olá professor.Pedi uma mini,voltei para o jardim.Regressei a casa sem sair do muro.
ResponderEliminarBem haja.
A fotografia do repuxo parece um dente canino invertido.Um dente gigante igual à raiva contida do poema.São poemas da nossa transmontaneidade(?!),palavras nossas que o corretor informático recusa.O blog tem que publicar todas as crónicas que foram publicadas em vários jornais.Está na hora de se ir ao rebusco.
ResponderEliminarLeitor
Os sons da noite, que nunca são expressos pelo poeta, dominam todo o poema.
ResponderEliminarE os sons da noite - sons de amor e de prazer, sons de dor e de lágrimas, sons de solidão e de raiva estão presentes no seu pungente pedido :"Não matem os sons da noite".
Espera o poeta os sons da manhã, de riso e de luz?
Não me parece que os espere.
Antes, abrindo o seu peito, nos deixa entrever o negrume do desespero :
"Deus dorme eternamente na Inexistência".
Com um abraço imenso
Júlia