sexta-feira, 26 de julho de 2013

Jardim III,por Pedro Castelhano

...e o repuxo de água há muito...
Não matem os sons da noite
após um horizonte de vermelho
nuclear, com as árvores feridas
de silêncio e as montanhas adormecidas

Não matem os sons da noite
ainda que a lava do crepúsculo
me aqueça a paisagem
neste jardim abandonado
onde as flores já murcharam
e o repuxo de água há muito
que não vibra de pedra imóvel
e costura de grades de ferro.
A secura da noite impele
à sede os trânsfugas da claridade.

Não matem os sons da noite
só reconhecíveis pelos vagabundos
do sonho por todos aqueles
que procuram a Luz nas Trevas.

Não matem os sons da noite
que de qualquer maneira Deus
não chega, eternamente
adormecido na Inexistência.


Pedro Castelhano

3 comentários:

  1. Poema sombrio,belo,de digestão difícil.Copiei para o papel e leio como quem mastiga e saboreia.Fica-me o sabor ,o cheiro, dentro de mim.Passar à noite pelo jardim,desembrulhar o poema...sentir com o fervor infantil da primeira hóstia e subir as escadas ,talvez o autor esteja a ler e a beber um gin.Estava.Disfarçei a emoção e balbuciei;olá professor.Pedi uma mini,voltei para o jardim.Regressei a casa sem sair do muro.
    Bem haja.

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  2. A fotografia do repuxo parece um dente canino invertido.Um dente gigante igual à raiva contida do poema.São poemas da nossa transmontaneidade(?!),palavras nossas que o corretor informático recusa.O blog tem que publicar todas as crónicas que foram publicadas em vários jornais.Está na hora de se ir ao rebusco.
    Leitor

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  3. Os sons da noite, que nunca são expressos pelo poeta, dominam todo o poema.
    E os sons da noite - sons de amor e de prazer, sons de dor e de lágrimas, sons de solidão e de raiva estão presentes no seu pungente pedido :"Não matem os sons da noite".
    Espera o poeta os sons da manhã, de riso e de luz?
    Não me parece que os espere.
    Antes, abrindo o seu peito, nos deixa entrever o negrume do desespero :
    "Deus dorme eternamente na Inexistência".

    Com um abraço imenso
    Júlia

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