pelo autor
13 Julho 2013 (sábado), pelas 21h00
na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro, em Vila Real
«Este romance conjuga várias linhas de força que o magnificam. Externamente, cada capítulo é precedido de um poema, cuja função emotiva nos dá, em primeira pessoa, um sujeito depois narrado na terceira. Conjunto de vinte e três peças, articula-se, aqui, uma biografia psicológica. Esse direito à palavra ‒ qual didascália no teatro do ser, não só definindo uma voz, mas orientando a leitura ‒ é um traço de personagem tenaz procurando domar o seu destino. Rescende aos heróis antigos, e não seria difícil encontrar concordâncias. (...)»
Prefácio de Ernesto Rodrigues, Presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes
O Manco é uma figura que procura a sua unidade, enquanto ser humano, entre a dura realidade em que sobrevive e a busca de uma religiosidade que parece não lhe trazer respostas. Uma figura que se busca entre o seu mundo interior e exterior. O Manco - Entre Deus e o Diabo é um grito em silêncio de uma revolta contida.
«Sentiu os vapores na traqueia a penetrarem nos pulmões, sentiu arrefecer o seu ser, sentiu os músculos a relaxarem mas sem nunca perder a rigidez de quem está vivo, de quem sente, de quem está sempre alerta. Sentiu os dentes penetrarem no couro duro que lhe tinham colocado na boca. Sentiu o bisturi do médico, a frieza do metal a entrar na pele, sentiu apertarem-lhe ainda mais o torniquete que lhe garrotava a perna, sentiu a desarticulação do joelho, nenhum movimento de bisturi lhe escapou, apesar dos vapores continuarem a penetrar profundamente em si, a retirar-lhe capacidades intelectuais e físicas mas não o sentir. Era como se estivesse num pesadelo, um pesadelo do qual queria acordar mas não conseguia. Um torpor profundo impedia-o de se mexer, de levantar um único dedo para fazer um sinal, um gesto de compaixão, apesar de o pretender fazer com todo o seu querer. Era tudo tão real e paradoxalmente ilusório que lhe parecia estar em um outro mundo. Uma dimensão paralela à realidade, a dimensão dos enigmas da vida, a dimensão dos amargores sempre bebidos com sofreguidão, de um só trago, pela taça de libações sangrantes, deglutidos sem a ternura, sem perfumes, sem a maciez do amor. Seguiu a linha das marcas dos pensamentos gotejantes de sangue vivo, apapoilado, marcados em si com ferros em brasa.
Deixou-se ir naquele enlevo doentio da dor, cavalgou no dorso do rugir do leão, trepou as paredes como animal demoníaco, desafiou a gravidade e suspendeu-se no tecto da sua gruta recôndita como morcego hematófago e, imóvel, ali ficou a alimentar-se do seu sofrimento, a deixar crescer dentro dele aquele animal que lhe rasgava o peito e o devorava a partir de dentro. Ali ficou a olhar-se do alto, a sentir-se, a perscrutar os movimentos do bisturi, a observar-se mutilado mas ainda a sentir a dores fantasmas de uma parte de si já inexistente.»
Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro
Rua Miguel Bombarda, 24 – 26 – 28 em Vila Real
2.ª, 3.ª, 5.ª, 6.ª, Sáb. das 10h00 às 20h00 e 4.ª feira das 14h00 às 23h00
259 103 113 | 935 157 323 | traga.mundos1@gmail.com
Próximos eventos:
- dia 20 de Julho de 2013 (sábado): workshop “fazer tofu em casa” por Maria Feliz;
- dia 21 de Julho de 2013: passeio pedestre por Lagoa Trekking;
- dia 27 de Julho de 2013: workshop de fotografia Pinhole por Catarina Lima.
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