quarta-feira, 17 de julho de 2013

Jardim II, por Pedro Castelhano

Aqui este é um lugar sonâmbulo
com luas cheias expulsas da memória
fartos os homens do passado e o descrédito
do tempo com as montanhas à vista.
Nada nos perdoa das culpas que não tivemos
sombras em viagem permanente
para o Vazio enquanto o Oculto nos seduz
apócrifo revelado como os deuses. É sempre
este jardim com colunas de granito
quais falos de uma juventude morta
enquanto o presente vem interromper
o passado. Não deixes que deserte
quando as árvores denunciam o crepúsculo
e mal cabe no coração a dor do presente.


Espero até que a noite me anuncie
o impossível, a luta vencida da Luz
e os aromas intensos do tempo que gastei
a esquecê-los nestas cadeiras verdes.
O sagrado fulmina  como se o adormecer
´do pássaro fosse a chave da memória.
Passada a ilusão do amor, não arrastes
os olhos à procura da beleza. As dádivas
são raras e nas as aproveitaste. Seja
como os morcegos que vêem o espaço
ao contrário.Seja como casa desabitada
habitada  apenas por presenças de mortos.
As ruínas são o teu ofício alarmes
de pedra e sangue antigo com dores
inauditas e tecidos rasgados pelo vento.

Quem sabe da natureza dos deuses
que deambulam perdidos na imensidão
do Nada? Quem sabe que o Amor perdeu
o leito quando o Sol matou a Lua?
Quem sabe porque a Felicidade não suporta
A Dor?  

Pedro Castelhano

...quando as árvores denunciam o crepúsculo...


3 comentários:

  1. O poeta no lugar sombrio da sua poesia.
    Chego a sentir um arrepio de frio quando leio que "Nada nos perdoa das culpas que não tivemos / sombras em viagem permanente / para o vazio..." ou talvez o arrepio seja de desalento : "Passada a ilusão do amor, não arrastes / os olhos à procura da beleza ." ou, que sei eu, talvez de medo : " Seja como casa desabitada / habitada apenas por presença de mortos " .
    Mas a verdade é que eu e, creio, todo o ser humano goza profundamente este frémito . Será assim, Poeta?

    Um grande abraço
    Júlia

    ResponderEliminar
  2. Leio e como não sei comentar e ao mesmo tempo não queria deixar de expressar a minha satisfação ao ler Pedro Castelhano,deixo um muito obrigado por partilhar connosco.
    Leitor

    ResponderEliminar
  3. Tenho o livro de poesia e fico orgulhoso por ser da nossa terra.

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.