Apresentação do livro no "El Corte Inglés". |
Que hei-de eu escrever sobre o deslumbre que são os textos
de Amadeu Ferreira a par das fotografias de Luis Borges?
Penso, ou
melhor, sinto que não devia escrever uma só palavra e antes
dizer aos leitores : - Lede e vereis com os próprios olhos quão perfeita
é cada crónica, quão bela é cada fotografia e à beleza e à pefeição nada se deve
acrescentar .
Li as crónicas,
uma por uma, à medida que elas eram
publicadas no Facebook. Como mandam as regras, observava primeiro as
fotografias de Luis Borges que lhe serviam de mola. E que fantástica mola! Fabulosas
essas fotografias!
É espantoso como
fotografia e texto formam um todo, um nó que não se desata e só possível,
porque de dois enormes artistas se trata.
Através dos textos e das fotografias apercebemo-nos de
diversas facetas dos autores: homens
simples que amam a terra e com ela e com os que a trabalham se identificam: o
pastor, o vaqueiro, o malhador, o gadanheiro ... a mulher que coze o pão e o folar, e lida na
cozinha , e ajudou a construir os socalcos, e que também é pastora, e serve de
arrimo e companhia ao homem, avultam na sua galeria de retratos. Mas esses retratos não são tão somente
físicos. O escritor e o fotógrafo questionam-se sobre a jornada do Homem ao longo da sua existência
e para lá dela.
Outra dimensão,
que não está desligada da anterior, é o seu amor pela Natureza: montanhas,
rochas, fragas, rios, e todas as plantas desde centenários e carcomidos
castanheiros até às ervinhas que o
Amadeu sabe melhor nomear na língua em que bebeu o leite materno: yerba bota,
carniçuolos, garabatina, fedieiras, niebros, scobielha, etc. .
A este apego à
Natureza se associa o apego aos animais, companheiros de caminhos, de solidão e de trabalho: as ovelhas, as mulas, os
burros, os bois, cada vez menos utilizáveis e menos utilizados, substituídos
por máquinas que vão afastando mais e mais o homem da terra, donde tudo nasce e
onde tudo se acaba.
Fotógrafo e
escritor são ambos homens profundamente ligados às suas raízes, mas a sua visão
do mundo não é saudosista nem pretendem um regresso ao modo de vida que os seus
pais e avós viveram.
Muito mais
haveria a dizer, mas vou só deixar mais meia dúzia de palavras sobre Amadeu
Ferreira e Luis Borges, poetas, pois é como poetas que um e outro invadem textos
e fotografias.
Para mim foi, é,
um maravilhamento rever as imagens magníficas, que me trazem à alma visões da
minha infância e dos meus sonhos; reler as crónicas, na sua linguagem pura,
cristalina, que me traz ao ouvido acordes suavíssimos e ao coração o toma de
assalto o seu estilo intenso e arrebatador, com frases que me atingem ora como
afagos, ora como punhos, deixando-me,
por vezes , sem fôlego.
Para terminar,
que a palra já vai longa, quero deixar aqui duas ou três linhas de uma das suas
belíssimas crónicas – acompanhada de um rosto que jamais se esquece – e que
espelham o lado sonhador do fotógrafo-poeta e
do poeta-cronista: Livro de Horas : “desesperas sempre a ler o livro do
rosto, ainda por decifrar essa escrita do tempo com tinta de lágrimas e riso,
iluminura de angústias e de afectos, sempre aberto livro de horas onde o fogo
dos sonhos não se apaga”.
Leiria, 29.07.2014
Júlia Guarda
Ribeiro
Estou a ler e a ver as fotos é tudo uma maravilha
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