sexta-feira, 22 de agosto de 2014

TORRE DE MONCORVO - 1974 a 2009

 OS ALUNOS DO CICLO E DA ESCOLA INDUSTRIAL SÃO QUASE UM TERÇO DA POPULAÇAO DA VILA

Sede de um concelho potencialmente muito rico, Torre de Moncorvo (ou só Moncorvo, como se lhe ouve chamar no dia-a-dia) atravessa um momento peculiar da sua história. Bloqueada a vários níveis, a vila é hoje testemunho de uma vaga de fundo trazida pela maciça emigração dos últimos anos e que actua por três formas principais: despovoando as zonas rurais e marcando aí a ferro a agricultura; enviando regularmente divisas, aplicadas na compra de propriedades, em outros investimentos ou em depósitos bancários a prazo; e possibilitando a escolarização, não já primária mas secundária, de centenas de filhos dos trabalhadores ausentes. «As aldeias invadiram a vila» – comentou para mim Leonel Brito, moncorvense radicado na capital e meu companheiro de uma semana de reportagem andarilha, quando fizemos o ponto à situação. Eis uma visão do problema menos expeditiva do que poderá parecer, e talvez venhamos a confirmá-la parcialmente na série de textos aqui iniciada.
Em 1960 o concelho tinha 18741 habitantes. Dez anos depois da população descera para 13494. Quanto à vila-sede, houve também decréscimo, embora não tão acentuado: 2689 residentes segundo o censo de 1960 transformaram-se em 2325 de acordo com os dados de 1970, baseados numa estimativa a 20 por cento (sujeita a restrições, conforme advertência expressa do I.N.E.). Quer dizer que o êxodo afectou preponderantemente as aldeias, onda há inúmeros casos de famílias que emigraram na totalidade – pais, filhos, parentes próximos.
Estes emigrantes voltarão, não voltarão? Num outro texto daremos eco às duas hipóteses. Para já a agricultura ressentiu-se com a ausência, ao ponto de vermos trabalhar quase só mulheres, homens idosos e jovens à espera da convocatória para o serviço militar. As «jeiras» (jornas) subiram, já não se pagam 10$00 ou 20$00 por dia com era prática de anos atrás: quem quiser dois braços tem de oferecer por eles muito mais do que essa verba exígua; se os arranjar é feliz.
Ausentes, os emigrantes mandam dinheiro (ou carregam-no consigo nas férias do Natal ou do Verão) para aplicar na compra de prédios rústicos, na aquisição de títulos de férias, na construção de casas – algumas na vila –, na educação dos filhos que deixaram em Portugal.
«Isto esteve mais cheio de dinheiro do que está agora» – disse-me um comerciante da vila –, «mas mesmo assim não anda mal.»
Andou melhor até que há um ou dois anos, termo visível de um eldorado; a regressão dos envios de divisas parece hoje um facto consumado e explica-se pela crescente atracção exercida por oportunidades de investimento nos países para onde marcharam os emigrantes, França e Alemanha Federal à cabeça.
«Os tipos desataram a comprar andares em França» – lamentou-se um homem que ainda no verão de 1973 lidou com centenas de contos da emigração. - «É a mania dos étages…»


In TORRE DE MONCORVO

Março de 1974 a 2009
De Fernando Assis Pacheco ,Leonel Brito, Rogério Rodrigues
Edição da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo



2 comentários:

  1. Amigo Leonel,as aldeias são donas da vila.Já acabou a invasão ,estão instalados e não invadem mais porque nas aldeias não há ninguém.
    Invadiram a vila matando as aldeias.

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