O Amadeu Ferreira teve a gentileza de me enviar Norteando,
publicado na Âncora, em que os seus textos e as fotografias de Luís Borges
conseguem o impensável – em absoluto fazer justiça ao Norte que os – e me - viu
nascer. O livro é um deslumbramento, porque nenhuma fotografia é ilustração;
nenhum texto legenda. Viviam já entrelaçados na realidade, muito antes do
projecto ser sonhado. Nesse sentido, ambos são poetas – “limitam-se” a dar a
conhecer ao comum dos mortais a essência da Vida, que se nega ao olhar rápido,
distraído, tangencial; sem ambição, nostalgia ou culpa; alarvemente saciado
pelo efémero.
Deixo-vos um exemplo:
Deixo-vos um exemplo:
“Comedoras de Horizontes, Cabras, Gerês, Terras do Bouro, 2011
estão limpas de ervas as mais altas rochas, e perguntas-te que
buscam as cabras montesas onde ninguém mais se atreve: serenas, altivas,
atentas sentinelas de um mundo onde o seu olhar te faz sentir intruso;
estranhas como quem pergunta porque escrevem poesia os poetas, vestindo-se de
palavras e delas vivendo, mas é para ti mais estranha a resposta que a pergunta:
não precisam apenas de erva comer as cabras, sobretudo de horizonte se
alimentam; ao olhá-las luzidias em seus tronos de pedra, sentes que talvez sem
ele não sobrevivessem: há prisões que nem a melhor erva ajuda a suportar.”
Ámen!
Júlio Machado Vaz
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