sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A Cultura da Amêndoa no Douro Superior – História, Tradição e Património, de Lois Ladra

Sinopse:
A amendoeira no Douro Superior, isolada, plantada em bordadura ou formando amendoal, constitui um património cultural, económico e paisagístico que deve ser preservado e transmitido com orgulho e dignidade às gerações vindouras. As magníficas qualidades organolépticas e o marcado sabor da amêndoa duriense devem constituir a base sobre a qual possam vingar no território novas indústrias artesanais de produtos gastronómicos que tenham a amêndoa como protagonista. Vinho, azeite e amêndoa constituem os três pilares identitários da mesa duriense, sem os quais não se poderia compreender nem apreciar a excelência paisagística e culinária destas terras.

Autor:
Lois Ladra é natural da Galiza. Licenciou-se em Antropologia Social e Cultural na UNED, em Geografia e História na Universidade Complutense de Madrid, e é mestre em Arqueologia pela Universidade do Porto.
Como investigador independente, tem dirigido numerosos projectos no âmbito da etnografia rural, na região das Beiras (Alta e Baixa), Douro Superior, Trás-os-Montes e Galiza. É autor de mais de meia centena de artigos em revistas especializadas e de duas monografias: Arte relixiosa na Terra de Valga. Cruceiros, cruces e petos de animas (Corunha, 2002, Prémio de Investigação Xesús Ferro Couselo) e Caneiros, pescos e pesqueiras. A pesca tradicional nos rios da Galiza (Santiago de Compostela, 2008, Prémio de Investigação Vicente Risco).
Nos últimos tempos tem trabalhado no estudo dos impactos ambientais sobre o património rural construído nas bacias hidrográficas dos rios Tua, Sabor e Ocreza.

Prefácio:
O título do livro que agora é dado à estampa, A cultura da amêndoa no Douro Superior. História, Tradição e Património, espelha cabalmente o conteúdo desta obra. A ampla e sólida formação do autor – licenciado em Geografia e História, licenciado em Antropologia Social e Cultural e mestre em Arqueologia –, atravessa e dá corpo à investigação que lhe serviu de base e deixou-nos, sobre a mesa, um estudo denso e completo sobre o tema.
Lois Ladra começa por nos introduzir a árvore, o fruto e a sua distribuição regional. Num mapa, à décima oitava página, mostra-nos, juntamente com o Algarve, o Douro Superior como a principal zona produtiva do país. Elucida-nos “a amendoeira é uma árvore que não requer um tipo de solo muito desen­volvido nem pesado. Muito pelo contrário, nos países de clima mediterrânico e mais concretamente em Portugal, é frequente encontrá-la nas terras mais pobres e de sequeiro”. Percebemos desde logo que nos vai ser dada a chave para olhar para a paisagem de outro modo e reconhecer na amendoeira um aliado dos solos magros que orlam o Douro quando atravessa as terras em que a densidade de ocupação humana é mais escassa. O capítulo seguinte, no qual o autor nos ilustra o ciclo tradicional dos trabalhos na amendoeira, leva-nos mais longe neste retrato: “a amendoeira é uma árvore que não exige demasiados cuidados”. Uma árvore pois pouco exigente, adaptada aos horizontes onde o calor seca, o frio fustiga, a água escasseia e os homens foram rareando... E chegamos ao olhar do historiador e arqueólogo – a história da amêndoa no Douro Superior. Interessantíssimas páginas. Numa toada quase romanesca, Lois Ladra percorre a principal bibliografia de modo leve, gizando o estado da arte, trazendo-nos, por entre as fontes e os estudiosos, de século em século, até aos dias de hoje. Uma agradável toada galega que, aqui e ali, se intui na construção frásica, acrescenta um sabor literário a este capítulo.
Instalamo-nos, nas páginas seguintes, na tradição e no património que o título nos anunciava, enquanto o autor nos conduz por entre os usos medicinais e alimentares da amêndoa, destacando a amêndoa coberta de Torre de Moncorvo, e seguem múltiplas referências a este fruto na literatura popular.
Termina a obra traçando-nos o quadro actual e conclui: “a amendoeira, isolada, plantada em bordadura ou como amendoal, constitui um património económico, cultural e paisagístico”. Se olharmos atentamente as elucidativas infografias que o autor produziu, percebemos o valor patrimonial da paisagem de que nos fala. Atravessamos dois bens classificados como património mundial, dois amplos territórios – o Douro Vinhateiro e o Parque Arqueológico do Vale do Coa –, a Reserva da Faia Brava e o Parque Natural do Douro Internacional, que ao longo de 87 mil hectares velam as margens deste rio. Um território justamente classificado. Para o perceber, basta vivê-lo uma vez.
Lois Ladra, nascido há 41 anos na Galiza, várias vezes premiado pelos trabalhos que realizou sobre o património vernacular galaico-português, há mais de uma década que decifra e nos transmite os saberes populares e agora nos fala, sapientemente, das “imagens, fragrâncias, sons, saberes e sabores”. Assim mesmo remata a obra que a Fundação Museu do Douro encomendou à Associação para a Pro­moção da Arte e Cultura do Vale do Coa e Douro Superior que a entregou ao experimentado olhar do autor. É a investigação rigorosa que nos permite conservar, divulgar e fruir o património. É afinal a investigação que acrescenta património ao património...

Alexandra Cerveira Pinto
Figueira de Castelo Rodrigo, Julho de 2013

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