Uma tarde destas, a minha colega Vera contou-me uma
estorinha com a sua graça.
Foi morar para um bairro ainda em construção e a
vizinhança resume-se a quatro ou cinco
prédios onde vivem cerca de uma dúzia de famílias.Umas seis ou sete dessas
famílias são casais jovens com um ou dois filhos.No total contam-se onze crianças
entre os quatro ou cinco anos e os oito ou nove.
O curioso é que no meio daquela pequenada só há
uma menina, a Sofia, filha da minha amiga.A miúda tem seis anos e meio, já lê e escreve
razoavelmente.Mais importante do que isso, foi bem aceite pelos rapazinhos
porque, por um lado, ela é muito ágil : joga à bola, salta ao eixo, trepa às
árvores e, por outro lado, não tem meninas com quem brincar.
A certa altura todos os garotitos queriam namorar com ela.
Então a Sofia disse claramente que, para namorar, só gostva dos dois gémeos, o
Carlos e o João, que são seus colegas na mesma sala de aula, e os outros
aceitaram a situação.
No entanto, achavam um namoro muito estranho e um deles
perguntou-lhe : -Como é que namoras com os dois?
A miúda nem hesitou na resposta : -Quando me zango com o
Carlos, namoro com o João ; quando me zango com o João, namoro com o Carlos.
A resposta pareceu-lhes lógica e todos ficaram calados.Mas
na semana passada, um garoto mais espertalhote lançou uma segunda pergunta : -E
quando te casares, como é que é ?
E os gémeos perguntaram também : -E depois? Como é que é ?
Aí é que a Sofia ficou sem resposta.Deve ter pensado longo
tempo e, passados dois dias, pediu à mãe papel de carta e um envelope. A coisa
era formal ! A mãe forneceu-lhe o
material pedido, mas ficou intrigada.
A miúda meteu-se no quarto e encostou a porta. A mãe
perguntou-lhe do corredor se precisava de ajuda e ela respondeu um seco : -Não.
Uma horita depois deu-lhe a fome e foi lanchar.Os parceiros
já estavam todos no larguinho a jogar a bola. Comeu e correu para a
brincadeira. A sua importantíssima tarefa estava esquecida.
A mãe foi espreitar ao quarto.Em cima da mesinha, a folha de
carta estava escrita e o envelope endereçado. Era para o João. Dizia :
-“João,eu gosto muito de ti. Mas gosto mais do Carlos e vou
casar com ele.Não fiques triste, porque depois vais ser meu cunhado”.
A Vera deixou tudo como estava, mas ia pensando : -Que prémio
de consolação!”Júlia Guarda Ribeiro
Videira Félix :Gostei; as crianças têm um coração muito grande.
ResponderEliminarValha-nos a inocencia.
ResponderEliminarE a cunhada do abade de Vinhais disse ao bispo que lhe tinha perguntado quem eram aquelas crianças:são os filhos do meu cunhado.
ResponderEliminarBuicinha
Julieta Pega : Mais um conto de encantar da nossa Amiga Júlia.Beijitos.
ResponderEliminarEla gostava dos dois que não se conheciam.Casou com um e visitava o outro nos tempos livres.Cansada deste jogo divorciou-se e casou com o outro.As saudades eram muitas e começou a encontrar-se com o primeiro nos eternos tempos livres.E assim andou e um dia descobriu que havia mais homens na terra(vila).
ResponderEliminarEstórias da vila e da vida.
Boateiro
As crianças são uma ternura mas vem logo os Boateiros a arranjar otra estória com sal e pimenta.
ResponderEliminarFernanda
Olá Querida Julinha!
ResponderEliminarComo sempre gostei muito...E há alguém como a nossa ilustre contadora ,para escrever e contar histórias que nos deixam maravilhadas?Muito obrigada e apareça mais vezes para nos deliciar.Beijinhos da sua amiga.Irene
Uma saudação aos blogueiros que por aqui vêm e deixam (ou não) uma palavra amiga.
ResponderEliminarUm abraço
Júlia Ribeiro
Para a Ireninha vai um abraço muito especial
ResponderEliminare um bem haja pelas suas palavras
e sobretudo pela sua amizade.
Júlia
Parabéns, Júlia!
ResponderEliminarConcordo com a Irene. É mesmo verdade que ninguém conta estas histórias como a Júlia.
Beijinhos,
Isabel Mateus