quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

dos nós em que nos damos, Virgínia do Carmo


                                                       
                                                       Passou o tempo em que o susto de nos continuarmos, trespassados
um pelo outro, nos foi um enxame de âncoras, agitando-nos. Passou
o tempo em que a estranheza nos empurrou para o cais do silêncio
onde recolhemos em gaiolas de água os pássaros que haveríamos de ser.

Agora
temos asas que rasgam oceanos. E temos guelras para respirar as estrelas.

Perdemos o ponto preciso onde as tuas mãos começam e as minhas
terminam. Perdemos o toque da linha onde a nossa pele se divide.

E temos um mastro de sílabas que nos dizem numa palavra única. Um vocábulo
que nos mistura na síntese perfeita de todas as coisas que não têm nome.

E perdemos aquele vazio de procurar significados.
Esse chão de secas raízes.

 
 http://olugardossentidos.blogspot.pt/

7 comentários:

  1. Maria Fernanda escreveu: "Que bonito poema!..."

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  2. E perdemos aquele vazio de procurar significados.
    Podia ser o meu epitáfio.Senti que podia ser escrito por mim.Sinto o que escreveu como meu.Entrou no sangue...não sei escrever.Bem-haja.
    Alberto G.

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    1. Muito grata por ter lido com a alma inteira.
      Um abraço,
      Virgínia

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    2. Grata por ter lido com a alma inteira.
      Um abraço,

      Virgínia

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  3. Apesar do tom sombrio em que cada verso é um punho, sentimos que cada punho é uma asa. Apesar do "cais de silêncio", a poeta voa, é livre em todos os elementos.
    Sabe que perde "aquele vazio de procurar significados", e também sabe que irá encontrar a "palavra única" para o indizível.

    Um grande abraço, Virgínia. Conseguiu comover-me.

    Júlia

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    1. Júlia, obrigada pela leitura e pela forma generosa como aceitou que as palavras ecoassem em si.
      Um beijinho enorme de gratidão e amizade.
      Virgínia

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  4. Bonito poema e bonitos os comentários.
    Esperemos que esse chão de secas raízes se revigore de seiva e de esperança.
    A.A.

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