Depois de meia hora a vaguear e verificando que era
noite, Videira decidiu-se a apanhar um táxi.
Numa praça próximo, entrou no que estava em primeiro
na fila e desdobrando o papel, mostrou-o ao taxista.
Trés bien, respondeu este.
Depois de se acomodar no interior do Peugeot 304, e
passados os primeiros trezentos metros, o condutor do táxi virou-se para ele e
perguntou:
- Português?
- Sim, como adivinhou, perguntou Videira.
- Como poderia não adivinhar, respondeu-lhe o
motorista de forma enigmática.
Parecia então evidente que os portugueses tinham cara
de portugueses e assim eram facilmente identificados pelos seus pares. E esta
hein?
-O amigo de onde é? Eu sou de Leiria, dizia o taxista
empolgado.
- Transmontano, respondeu o Videira.
- Oh lá lá, retorquiu o taxista, il y a baeucoup de
transmontanos ici.
- Como, perguntou Videira.
- Ah, três bien, há muitos transmontanos aqui. Em
Chaves por exemplo, je ne connais pas, mas já não deve lá haver vivalma. Vieram
todos para Saint Dennis. Boa gente, trabalhadores e sinceros. Bebem menos que
os minhotos. Trabalham todos nos batiments. Todos a pensar em regressar com
retraite.
- Como, perguntou Videira intrigado.
- A reforma, o dinheiro para a maison lá na terra. Por
mim, não volto. Aqui se não pudermos trabalhar temos a chômage, temos
assistência médica. Lá é só miséria, un bordel, c’est un bordel.
Videira já nem perguntou o que é que aquilo de bordel
seria, com a certeza que não era nada agradável.
- Fui dos primeiros a chegar a Paris. Suei muito para
ter esta voiture. Já disse à minha Florentina, por mim não volto.
O Peugeuot seguia lentamente ao sabor do complicado
trânsito de Paris. Depois de passar por cima do Sena, dirigindo-se para sul,
uns quilómetros à frente, o taxista parou em frente de um colossal arranha-céus.
- Vê, há quinze anos não existia nada disto. Tudo
mão-de-obra portuguesa, dizia o taxista.
- É aqui, perguntou Videira.
- Não, é mais abaixo, mas de carro é difícil ir lá.
Segue por esse beco e deve ser aí a meio, do lado direito. Eu conheço porque
mora aí um cunhado meu, também de lá. Se não tivesse arranjado um chauffer
português tenho dúvidas que conseguisse descobrir isto, disse o leiriense.
- Muito obrigado então.
- São cem francos. Devia ser cento e cinco, mas esses,
poupo-lhos para uma bierre.
- Certo. Felicidades, disse-lhe Videira,
estendendo-lhe uma nota de cem.
Um abraço ao autor.
ResponderEliminarJúlia Ribeiro
Obrigado Júlia, um dia destes havemos de nos cruzar por aí.
EliminarUm abraço.