27.03.1798 – Os habitantes do Felgar fazem uma exposição para o governo pedindo liberdade para quem quiser construir o seu próprio forno de cozer pão, acabando-se com o “monopólio” dos fornos de poia que eram propriedade da câmara municipal que os cedia em exploração a quem mais desse. Vejam as razões apresentadas: - “… De haver fornos de poia se seguia grande prejuízo porque davam dois pães aos arrematantes por cada fanega; e também lenha; e porque o pão era de muitos donos em cada fornada, a alguns se lhe seguia prejuízo já porque se lhe azedava o pão e já porque se lhe queimava; e até às moças donzelas se lhe seguia prejuízo no crédito e honra porque os moços desavergonhados as iam esperar sem quietação para fins torpes e desonestos por as mesmas serem obrigadas a ir aos fornos de noite…”
Felgar (1974) |
António Júlio Andrade
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Os dois machos da fotografia eram do Ti Raul, um Homem com "H" que foi.
ResponderEliminarE...
ResponderEliminarE a loja donde tira o estrume, serviu de paragem de autocarro, nos idos de 1976/79, a uma catrefada de estudantes que nela se recolhiam para fugirem à chuva em dias como o de hoje.
E a casa defronte era do Dr. Urgel Horta, ex-presidente do FCP, singularmente bem recuperada e excelente enqt. turismo de espaço rural.
E se o Ti Raul era um excelente veterenário com grande prática, já a tarefa de tirar o estrume competia ao seu criado Quintanilha.
E se o quadro social representado pela fotografia está definitivamente morto por extinção dos seus agentes : machos, carro de madeira, belfas, jugo, estrume... e à excepção da tabuleta indicativa, a envolvência do local continua lá, passados que foram todos estes anos.
Thomas
..."e até às moças donzelas se lhe seguia prejuízo no crédito e honra porque os moços desavergonhados as iam esperar sem quietação para fins torpes e desonestos por as mesmas serem obrigadas a ir aos fornos de noite…”
ResponderEliminarAinda há donzelas e moços desavergonhados?
Diga quem sabe...
Noitibó
Em memória e homenagem ao Ti Raul Martins..
ResponderEliminarA imagem de 1974 remete-nos para relíquias como os carros de madeira,talvez feito pelas mãos sábias de familiares do Ti Carricas,a pedir meças aos artesãos do mesmo ofício de Gebelim.
Faz-nos recordar o respeito de animais dóceis,respeitadores e, sempre de atalaia,reflectindo, de algum modo,a personalidade de seu dono e tratador.E que artes ele tinha para conviver e dar saúde,calçando-os no Tronco, com sapatos novos,em forma de ferradura,cravados com martelinho certeiro,esperando por lima de fazer a barba a cravos em pontas retorcidas com torquês, apoiada em joelho genuflexivo e crente!
E como "os homens não se medem aos palmos",O ti Raúl,pouco mais de metro e meio,era um grande Homem!
Para além dos seis filhos,ainda acrescentava à mesa o seu cabreiro Cardanha.
No Tronco,ferrava burros,mulas,machos,éguas e vacas.Acresce que que tinha três " artistas da cobrição":o Touro mirandês, o Cavalo e o Burro pimpão,este esguio e de grandes orelhas e de pelagem clara mesclada em tons de cinza.Nos dias da cobrição , de chegar o burro á burra ou o Mirandês ás suas namoradas,era ver a garotada, sedenta da sua iniciação sexual. Quem tinha de esperar eram o Professores Cosme e Armando, talvez com a de marmeleiro,enquanto espreitavam pelos buracos do portão de pinho empenado do palheiro da função.
Então o Ti Raúl,manga direita arregaçada,para que a semente não se perdesse e o Mirandês não espumasse tanto,tudo fazia para que o macho acertasse em fêmea ciosa.O nosso veterinário- ferrador estava sempre pronto para acudir a animal que precisasse.Ele próprio para desempertigar animal, além das vacinas,emborcava-lhe os chás ou garrafa de aguardente pelos focinhos e segurava nas arreatas de passear cólicas.Era, ainda,um grande matador de porcos. Recordamo -lo, pelas manhãs e ás tardes, com seus socos de amieiro e sua boina basca a ordenhar ali na calçada onde os machos se deixaram fotografar em ano de revolução e de sentinela.
Certo dia,tempo de malhadas,o Ti Raul chega ao Prado e com o coração nas mãos atira a meu pai:
- Oh António tenho um problema!
- Diga lá Ti Raul.
- Tenho a cabrada na corriça fechadas pois o Cardanha não pode ir..
- Não se preocupe que aqui o estudante vai tratar delas.Não se preocupe.
E lá fui estudante-pastor ou talvez já professor com guia de marcha para Vale Ferreiro a tirar estágio de cabreiro.Mas o Ti Raul merecia bem o esforço.Lá bem perto onde hoje se ergue a Barragem de Vale Ferreiros até se andava melhor pois havia boas melancias, melões e outras frutas lavadas com água de ferro.As moínhas de fazer cócegas no pescoço eram bem mais incomodativas sob sol de 40 graus..E a bola pela tardinha também podia descansar! Um Abraço para o Ti Raul Martins.
Era ali, naquela loja, que aos domingos o meu avô Raul me dava cinco coroas.
ResponderEliminarCom o Cimo de Lugar cheio de homens, cheio de vida, chamava-me de lado e metia-me na mão a moeda. Estas coisas não são para fazer em público, dizia.
Estou a vê-la: caravela de um lado, escudo do outro.
Sei hoje que era de cuproníquel, que entrou em circulação em 1963 e que foi desenhada por Marcelino Norte e esculpida por Martins Barata.
Sabia na altura que dava direito a um pacote de amendoins torrados, a uma taça de laranjada e ainda sobrava dinheiro.
A compra era feita no café do ti Zé Pinto, na Rua Direita. Pacote de amendoins para o bolso e a taça de laranjada bebida ao canto do balcão em duas goladas, que o café não era para garotos. Saía lavado em lágrimas. A laranjada era poderosa e o gás efervescia na boca, saía pelo nariz, atacava os olhos. Uma festa!
Voltemos ao Cimo do Lugar.
A loja era baixa, o Quintanilha era alto. O estrume acumulado encurtava ainda mais a distância aos caibros. O rapaz entrava encurvado e fazia uma gincana para se movimentar entre os animais sem bater com a cabeça no sobrado.
Nos dias em que tirava o estrume a manobra era mais difícil. As cabeçadas nos caibros eram inevitáveis. De tal modo que um dia o rapaz vira-se para o meu avô Raul e sentenciou: “ou me arranja um capacete, desses das motorizadas, ou não tiro o estrume! “
A. Manuel
Carro de machos:
ResponderEliminarPotência: 2 C.V.(machos) tracção às 4 patas, combustível, palha, feno, cereal ...
2 melei-as, onde encaixa um jugo.
O carro é composto de três partes. O par de rodas o eixo e a mesa, tudo em madeira e ferro. A madeira das rodas é de freixo e o resto de olmo.
As rodas são compostas por: o meão(peça central da roda), duas cambotas(fixadas ao meão por intermédio das arreias) e duas arreias.
Cada roda é revestida com um aro de ferro, fixado com pregos grandes chamados cravos de cabeça grande garantindo maior resistência à roda
A mesa é constituída pelo o soalho, as engarelas e os estadulhos
O carro era usado no transporte de tudo podendo carregar cerca de mil quilos, podia também transportar à volta de 20 pousadas de cereal( cada pousada quatro molhos). Quando bem carregado podia cantar e ouvir-se a léguas de distância. O lavrador usava uma vara para guia dos animais, chamada de aguilhada, com um ferrão na ponta.
A.C.
São lindos! ..ainda me lembro da música que eles faziam em tempo de grandes trabalhos..parecia que tinham vida , gemiam , parecia que tinham vida. E, havia quem soubesse quem era o dono pelo chiar do carro... São tempos que já foram..eu tenho a sorte de ter autenticas replicas em miniatura desses tesouros feitos pelo meu querido PAI.
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