Por: Armando Sena
Laura revia-se, desfeita, à volta da poça pública a lavar o vestido de chita, eternamente à espera que chegasse a sua vez de se arrumar e continuar a miserável vida dos seus antepassados.
Videira tinha um sentido mais filosófico da situação, imaginava-se a perder a esperança de vida que lhe surgia, o despontar de um amor, a terra prometida, os jardins suspensos da Babilónia em forma de uma torre de aço de mais de trezentos metros de altura.
Compenetrados que estavam nesta deambulação coletiva, nem se aperceberam que estavam há mais de quinze minutos sozinhos no largo.
- Vamo-nos, agora era a voz de Luc.
Levantaram-se todos sem entender a situação.
- Lá se foi o lucro desta, dizia Luc para o outro passador.
- Salva-se a honra, retorquiu-lhe o outro.
Mais tarde estes acontecimentos seriam esclarecidos. Lá como cá, nesses tempos, as forças da ordem ditatorial também eram subornáveis e os homens, mesmo os legionários como este basco, tinham palavra. O suborno foi simples. Naquele tempo, como agora, haja dinheiro…
excerto de Na Demanda do Ideal
Ler Armando Sena é deliciosamente agradável. Eu recomendo. Um abraço para o Armando e outro para os Farrapos.
ResponderEliminarO livro "Na Demanda do Ideal" na Poética: http://poetica-livros.com/loja/index.php?route=product/product&filter_name=demanda%20ideal&product_id=145
ResponderEliminarBelo texto.Tenho o livro,comprei na POÉTICA em Macedo.Outra Laura,esta de José Afonso:Era um redondo vocábulo
ResponderEliminarUma soma agreste
Revelavam-se ondas
Em maninhos dedos
Polpas seus cabelos
Resíduos de lar,
Pelos degraus de Laura
A tinta caía
No móvel vazio,
Congregando farpas
Chamando o telefone
Matando baratas
A fúria crescia
Clamando vingança,
Nos degraus de Laura
No quarto das danças
Na rua os meninos
Brincando e Laura
Na sala de espera
Inda o ar educa