Prof.doutor Adriano Vasco Rodrigues |
Trás-os-Montes, Beira Alta, Beira Baixa e Alentejo foram as áreas do território nacional mais povoadas pelos Judeus e também áreas da sua dispersão interna, orientada, preferentemente, para povoações portuárias do litoral.
Ao longo da Idade Média, as terras portuguesas arraianas acolheram os Hebreus fugidos de Leão e Castela e também dos Almoravidas e dos Almóadas (1086-1248).
Nos alvores da Idade Moderna os expulsos da Espanha recém-unificada pelo Reis Católicos, acolheram-se, principalmente, nas zonas raianas portuguesas
Das províncias citadas, uma se distingue pelo condicionalismo geográfico, acentuado pelo aspérrimo e fragoso recorte do profundo vale do Douro, pela vigilante, arredondada e impávida Serra do Marão e pela fronteira, outrora hostil, cerrada e cintada, contornando de Norte para Nordeste o território nacional. Essa província, Trás-os-Montes, foi a nova Terra da Promissão dos Hebreus. A região de Bragança pela ondulação dos seus montes e o atractivo dos vales, lembra a Galileia. Desde os alvores da nacionalidade portuguesa atraiu os Judeus.
D. Afonso Henriques e seu filho D. Sancho, não só procuraram alargar o território mas consolidá-lo pelo povoamento. Se o filho se distingiu nesta tarefa mais do que o pai, o Rei Conquistador iniciou-a, recorrendo a cristãos de Além-Pireneus e também aos vencidos serracenos, mouros forros livres, os mudéjares. Serviu-se ainda das pueblas judias, isto é, de aldeamentos hebraicos. Temos testemunhos em Trás-os-Montes e na Beira, onde persiste o topónimo Jueus.
Tal como faziam os mouros e os cristãos, também os Hebreus se dedicavam à agricultura, indispensável à sobrevivência da sociedade medieval. O Rei Conquistador integrou judeus no seu exército.
O Rei Lavrador aproveitou a capacidade agrícola da Gente de Nação, em terras de Bragança, ordenando por carta-régia que ali adquirissem 3500 maravedíadas de terra, das quais, uma área de 2000 reservadas a vinha; outra de 1000, para cultivo e uma de 500 para habitação. O custo de 600 maravedies seria pago ao Rei, em Agosto, no dia de Santa Maria.
D. Dinis concluiu essa carta ordenando que não fizessem mal aos Judeus e os ajudassem.
Tempos depois, chegavam às terras bragançanas israelitas, fugidos da ira de Henrique de Transtâmara, que matara o seu meio-irmão, o legitimo Rei D. Pedro I, de Castela. Estes Judeus tinham apoiado financeiramente a guerra sustentada pelo legítimo Rei, D. Pedro contra o usurpador. A partir dai, a actividade agrícola tornou-se secundária para os israelitas, dada a entrada de mercadores, artesãos e profissionais livres. O desapego das terras e de bens imóveis facilitava-lhes a deslocação em períodos de crise. Mas a agricultura estava enraizada na tradição bíblica e talmúdica, desde a sua sedentarização na Terra Santa, sendo origem de cerimónias do culto e de solenidades. O calendário litúrgico calculou-se de acordo com o tempo agrícola. As leis agrárias estão profundamente impregnadas de religiosidade, obedecendo a exploração a normas e a restrições. Admite-se o ano chemita, ou ano sabático, um período de sete anos em que as terras descansam. As colheitas dos 3 primeiros anos ficam condicionadas. Respeitam-se as primícias, bikurim.
As leis agrárias privilegiam Deus, a quem tudo se deve, mas não esquecem os pobres nem as aves, deixando alguns frutos para os rebusqueiros.
Os reis da primeira dinastia foram soberanos das três religiões: Judaica, Cristã, Muçulmanaa, reconhecendo um só Deus. Estes soberanos recorreram a conselheiros financeiros hebraicos. D. Afonso Henriques apoiou-se em D. Jahiá Aben Aich, de uma família de ricos agricultores.
D. Dinis teve como Arrabi-Mor, D. Judah, a quem sucedeu o filho, D. Guedelha Aben-Judah. Os Judeus tinham sobre os cristão a vantagem de saber operar rapidamente, pois os cristãos eram extremamente lentos e limitados, recorrendo ao ábaco e aos algarismos romanos. Os hebreus usavam os algarismos árabes e também os seus. Tentem fazer uma multiplicação com algarismo romanos…
A introdução vai um pouco longa, pois para compreender perfeitamente a abrangência do tema é indispensável fazer estas referência e também sobre a importância da educação. Sem ela, não haveria a plêiade de gente insigene, que evidenciou e evidencia o Povo Hebraico. A educação é uma imposição religiosa.
O primeiro educador é o pai, como chefe de família. Assim o refere o Deuteronomo (6.7).
Os rapazes devem estudar a Torah, a partir dos 6, 7 anos. O pai ensina aos filhos as bases do seu futuro modo de viver. Refere-o Tobias (29.a.).
As comunidades hebraicas sefarditas tinham o Meldar, salas de estudo para ensino básico. Os melhores alunos prosseguiam com a aprendizagem religiosa e profana, na Yeshiva, uma academia a privilegiava o ensino da Bíblia. Se havia possibilidades financeiras, prosseguiam nas Universidades.
Naturalmente, a evolução tornou hoje o condicionalismo diferente mas não invalidou a responsabilidade da base da educação pertencer à família. Esta tradição manteve-se com os conversos e os cristão-novos.
Para melhor compreensão do que vamos dizer é necessário esclarecer o conceito de cristãos-novos, designação atribuída em Portugal aos convertidos, obrigados pelas circunstancias ao baptismo.
O cristão-novo é um fruto da violência e uma negação da nobreza ecuménica cristã, descriminando e segregando os convertidos ao catolicismo.
Em Espanha, os conversos usavam de todos os direitos. Em Portugal tornaram-se cidadãos de segunda classe, constituindo uma aberração no seio da Cristandade, discriminados nos direitos religiosos e nos civis, pois o Estado e a Igreja identificavam-se. Para a hierarquia Católica, as conversões equivaliam a desconfiança, daí as recusas. Esta suspeição motivou muitos cristãos-novos a deixarem o pais e a regressarem à fé dos seus antepassados. Foi também origem de perseguições injustas da Inquisição a consersos católicos convictos. Se persistiam rituais hebraicos isto se devia à deficiente e medíocre evangalização. Aproveito, a este propósito, um documento flamengo relatando que em dado momento do século XVI chegou à Flandres um grupo de portugueses. Olhados como suspeitos de serem Judeus as autoridades interrogaram-nos em tribunais da Zelândia. Confirmaram que eram cristãos e os filhos baptisados. Todos sabiam o Pater e a Ave, mas ninguém compreendia uma palavra do que dizia. Interrogados sobre a vida de Cristo, todos disseram que nascera em Belém, mas ignoravam se ficava na Terra ou no Céu…
Esta situação foi comentada numa carta escrita por Pierre de Brel dizendo que todos em Portugal, mesmo os melhores cristãos, clérigos, desconheciam os artigos da fé e padres e curas instruíam mal os fieis, pelo que, se acabasse a perseguição aos judeus, esta pobre gente seria mais para lamentar do que para punir.
E concluiu:
Eles, lá me baixo, (na Península) não percebem que la religión n’est pás dans le genou mais dans le coeur.
A conversão forçada foi um acto repugnável. Não admira que levasse à simulação. Dada a gravidade das circunstâncias, a conversão aparente dos Hebreus não significada traição da sua própria fé. A Lei Judaica podia ser interpretada no sentido de que a
preservação da vida tinha precedência sobre os preceitos religiosos. Fundamentavam-se no Kol-midré, a expressão aramaica do início do texto referente à anulação dos votos.
Quando a Igreja impôs o baptismo aos Judeus, muitos terão recorrido ao texto do Kolmidré para anular o acto desvinculando-se do juramento.
O medo da Inquisição levou os conversos à fuga de Portugal. A oportunidade não se ofereceu na altura na conversão forçada mas mais tarde, durante a união das duas coroas, no período Filipino. O vasto Império espanhol reunido sobre a égide dos Absburgos, ligando a Áustria à Espanha, às Ilhas do Mediterrâneo, a parte da Itália, Países Baixos, Franco Condado, integrando Portugal e um vastíssimo Império Ultramarino, tão vasto, que o sol não se ocultava no reino de Filipe II. Este larguíssimo espaço oferecia possibilidades de fuga.
O Exército espanhol constituído por tércios, movimentava-se através deste extenso mundo por um corredor militar que unia os domínios da Espanha, conhecido por El Camino Español. A Tropa necessitava de alimentos, principalmente cereais, conhecidos por pão do Mar, pois chegava de barco dos países do norte, ou do Mediterrâneo, mercadejado com muçulmanos, especialmente turcos. E quem eram os intermediários? Os cristãos-novos, através de uma rede de mercadores Judeus. Por vezes, faziam circular os produtos, abastecendo ambos os contendores, como por exemplo no caso da luta entre Espanhóis e Holandeses.
O Exército espanhol recorria a apoios civis, não só para suprimento alimentar mas também recrutando médicos, cirurgiões, boticários e outros auxiliares.
Os cristãos-novos ganhavam a confiança dos Tércios, acompanhando-os e, quando a circunstancias se tornavam propicias, davam o salto. Algumas cidades da Itália eram particularmente favoráveis, entre elas Livorno (Livorna). Ainda hoje, no distrito de Bragança, em Felgar, persiste o ditado: Quem vai a Livorna, vai e não torna!
Dali, passavam para o Império turco.
Tem-se escrito muito sobre as perseguições aos Judeus, o papel da Inquisição e o comportamento dos reis de Espanha e dos de Portugal. O problema é complexo e vejo-o como reflexo de uma confrontação de duas forças, que habitualmente escapam aos historiadores, ocupados com a sequência factorológica do processo histórico.
Essas duas forças debatem-se amplamente, marcando a transição da Europa Medieval e do Renascimento, para a Europa da Idade Moderna. Uma é representada pelos partidários da Ordem Tradicional; a outra, pelos da Ordem Moderna, ou Ordem Nova. O Renascimento, ocorre no final da Idade Média e, apesar de se procurar o retorno a ideais greco-latinos persiste a tradição medieva da Respublica Christiana.
As guerras de religião são um aspecto desse conflito e a Inquisição, uma arma mais violenta do que as armas de fogo, que então foram inventadas.
A Ordem Tradicional foi sustentada pelo Império Romano-Germânico, agrupando os apoiantes da Casa de Áustria e dos Habsburgo, atingindo o apogeu com Filipe II de Espanha. O desejo de domínio está patente nas legendas das baixelas do Palácio Imperial, onde se lia A.E.I.O.U., significando em Latim: Áustria est imperare omnia universus! Significa: Que a Áustria impere sobre todo o Universo.
Esta Ordem defendia uma Europa vertical, hierarquizada, obedecendo ao Papa e ao Imperador. A Ordem Moderna, recebendo implicitamente o apoio católico do Cardeal Richlieu, inimigo dos Áustrias, pretendia uma nova ordem, gerida pelos ideais Renascentistas.
Os Judeus foram apanhados no meio da confrontação pela ortodoxia católica e espanhola, seguida da portuguesa, esta algumas vezes mais fanática do que aquela, usando a Inquisição.
O declineo deste poder começou com Filipe IV de Espanha e III de Portugal.
Os Tércios, agrupamentos militares terríveis, foram derrotados na Guerra do 30 Anos (1618-1648), sendo a Espanha obrigada a assinar o Tratado de Westfalia, de profundas consequências. A Espanha foi também vencida pela França, que lhe impôs, em 1659, o Tratado do Pirinéus, excluindo Portugal, que teve de continuar a lutar pela independência. Mas em 1668, os portugueses venciam a Espanha. Foi assinado o Tratado de Lisboa. Infelizmente, não acabou a Inquisição. Os seus meandros tinham amarrado Portugal ao fanatismo religioso e afastado o país da evolução seguida pelos países protestantes e pela própria França, católica.
O essencial da nova ordem europeia, reconhecido pelo Tratado de Westfalia, levou ao abandono da concepção hierárquica tradicional, baseada na Respublica Christiana e na aceitação da autoridade pontifícia, dando ainda lugar a um mosaico de Estados independentes e soberanos, onde os Hebreus se sentiram em liberdade. Infelizmente, para as Monarquias Peninsulares, a poderosa arma, que foi a Inquisição, manteve-se e só o triunfo dos ideais da Revolução Francesa, seguidos em Portugal pela Revolução de 1820, a aboliram em 1821. Na Espanha, só anos mais tarde seria extinta.
A História dos mais importantes vultos hebraicos de Trás-os-Montes, ou dos seus descendentes, reparte-se por dois períodos:
- Um, antes da conversão forçada;
- Outro, o dos cristãos-novos e seus sucessores. Importante foi a saída para Espanha, no período Filipino e, depois, o salto, ou diáspora, pelo velho e novo mundo.
Um dos mais insignes pensadores e filósofos da gente de nação transmontana, natural de Bragança, foi Baltazar Oróbio, ali nascido no ano de 1620 e, mais tarde, imigrado para os Países Baixos, a Holanda, onde foi circuncidado e se afirmou Judeu, mudando o nome para Isaac Orobio de Castro. Faleceu em Amesterdão, em 1687.
A sua carreira intelectual foi brilhante. Tinha estudado na Universidade de Salamanca, sendo para ali mais fácil deslocar-se de Bragança, do que para Coimbra. Foi professor de Metafísica na Universidade salmantina, onde o consideraram um sábio. Formou-se também em Medicina, que exerceu em Sevilha, como médico do poderoso Duque de Medina Celi e, também, da família de Borgonha do Rei Filipe IV.
Suspeito de judaizar esteve 3 anos preso mas conseguiu iludir o Santo Oficio. Os portugueses em Espanha eram suspeitos de heresia, a tal ponto que português e judeu eram equivalentes. Este ápodo, em terras de fronteira, particularmente entre Vilar Formoso e Fuentes de Oñoro manteve-se pelo século XX a dentro.
Baltazar Oróbio conseguiu fugir para França, vindo a ser catedrático na Universidade de Tolosa e Conselheiro do Rei. Passou finalmente para a Holanda, onde havia um importante núcleo de judeus portugueses. Ali mudou de nome. Concentrou-se no ataque à Igreja Católica de que foi tenaz adversário. Escreveu dissertações em Castelhano, com carácter teológico e filosófico.
Atacou também a posição panteísta do judeu português Espinosa. Das teses de ataque ao Catolicismo que classificou de Idolatria, damos exemplo de um título:
- Prevenciones divinas contra la vana idolatria de las gentes.
Provease que tudo quanto se havia de inventar contra la Lei de Moshé prevenio Diós a Israel en los 5 libros de Ley, para que advertidos no pudiesen caer en tales errores.
Este é um livro de violento ataque à religião cristã. Está filosófica e teologicamente bem estruturado, com fundamentação lógica e conhecimento profundo da doutrina Cristã e da Judaica.
Também nascido em Bragança, em 1691, se distinguiu Henrique de Castro Sarmento, que em Londres mudou o nome para Jacob de Castro Sarmento. Ali faleceu em 1760. Era filho de Francisco de Castro Almeida e Violante de Mesquita. Estudou na Universidade de Évora, onde foi Mestre de Artes, passando para Coimbra e ali obteve o grau de Bacharel em Medicina. Em 1721 deixou Portugal, fixando-se em Londres, vindo a ser rabino da Sinagoga portuguesa.
Em 1725, pelo seu saber, foi nomeado membro do Real Colégio de Médicos, e em 1730, feito sócio da Real Sociedade Inglesa.
A Universidade Escocesa de Aberdeem nomeou-o Doutor Honoris Causa, em 1736.
Foi autor de vasta obra religiosa tratando temas como o Dia Santo do Kipur e também de figuras bíblicas. No campo da Ciências fez trabalho de investigação sobre águas medicinais, geologia, estudo de fósseis e de minerais. Estudou as marés, comentando Isaac Newton.
Além de um Tratado de Cirurgia deixou dissertações sobre o uso das águas em Inglaterra e em Portugal, referindo as das Caldas da Rainha. A Farmacologia tornou-se científica graças às investigações de Jacob de Castro Sarmento.
Outro personagem insigne foi Jacob Rodrigues Pereira, cujos pais, Magalhães Rodrigues Pereira e a mãe, Abigail Ribeiro Rodrigues, eram naturais de Chacim, no distrito de Bragança. Passaram para Espanha e de lá para Bordéus, onde aos 8 anos terá conhecido um menino surdo-mudo que o motivou para toda a vida, tornando-se um dos criadores do método de ensino dos surdos-mudos. A partir de 1734 e durante 10 anos, prosseguiu a sua formação para a instrução destes deficientes. A 22 de Novembro de 1746, apresentou à Academia de Caen o primeiro aluno. O naturalista Buffon, em 1749, patrocinou a sua apresentação na Academia das Ciências em Paris recebendo público louvor do Rei Luís XV, uma pensão e, ainda, o cargo oficial de Interprete e Tradutor das Línguas Portuguesa e Espanhola.
Foi sócio da Real Sociedade de Londres cobrindo-se internacionalmente de prestígio. Jean Jacques Rousseau entre outros vultos da Cultura francesa e o enciclopedista D’Alember, elogiaram-no.
Não só os Reis de França mas também o Imperador da Alemanha, os Reis da Polónia, Dinamarca e Suécia, distinguiram-no com mercês e honras.
Um baixo-relevo em Paris testemunha a gratidão nacional au Premier Instituteur des sourds et muets – 1734-1780.
Foi autor de uma memória lida na Academia de Ciências de Lisboa, a 11 de Junho de 1749. Em 1762 apresentou outra.
Pelo seu prestígio obteve ainda do Rei de França o cargo de Representante dos Judeus portugueses de Bordéus e Bayona, intervindo na aquisição do terreno para o cemitério hebraico português de Paris.
São muitos, os distintos médicos Judeus e seus descendentes cristãos-novos. Referiremos apenas alguns, entre eles o Doutor Francisco da Fonseca Henriques conhecido por Doutor Mirandela, por ali ter nascido em 1665. Formou-se em Medicina na Universidade de Coimbra e distinguiu-se como sifilígrafo, estudando a sifílis, doença então terrível.
Alguns dos seus livros tornaram-se muito populares, entre eles A Medicina Lusitana e o Socorro Délfico, publicado em 1711. Outra obra privilegiando a Higiene foi a Âncora Medicinal, saída em 1721. De grande mérito foi a sua tentativa da Hidrologia portuguesa, o Aquilégio Medicinal, publicado em 1726.
Outro clínico transmontano, considerado percursor da patologia exótica, foi João Cardoso, de Miranda. Estudou em Salamanca e trabalhou em África. Escreveu, em 1752, a Relação Cirúrgica, estudando o escorbuto.
Também com ascendência em conversos transmontanos era o médico José Bomtempo, nascido em 1774. Exerceu o cargo de Físico-mor em Angola e foi professor no Rio de Janeiro. Deixou vários manuais de estudo, entre eles o Compêndio Prático de Medicina, 1715 e Trabalhos Médicos, 1725.
A discriminação dos cristãos-novos levou o Cabido da Sé de Miranda, em 1611, a recusar dar posse de Cónego ao padre Jerónimo da Fonseca. Também atacou o Cónego tesoureiro Bernardino Ramires e o Cónego Mendes, acusando-os de terem sangue judeu. O Deão, os Cónegos e o Cabido da mesma Sé de Miranda, solicitaram ao Rei de Portugal, em 1647, que as pessoas de Nação e seus descendentes não fossem admitidos nos benefícios eclesiásticos. Apesar de todos os obstáculos os cristãos-novos progrediram e evidenciaram-se.
Em Lisboa, em 1675, descendentes de Gente de Nação de Mogadouro, gozavam de excelente situação económica como importadores e exportadores. Também eram eles que, secretamente, passavam cristãos-novos para Inglaterra. Tiveram de fugir. Descendentes dessa família, os Mogadouros, possuem actualmente uma das mais ricas ourivesarias e joalharias de Londres. Em França, também judeu e português eram equivalentes. No decorrer do processo que se seguiu à Revolução de 1789, judeus portugueses de Bordéus e de Bayona reivindicaram direitos de voto distinguindo-se algumas famílias de ascendência transmontana: Azevedo, Silveira, Furtado, Nunes Tavares, Lopes e Fonseca. Em Abril de 1789 obtiveram direitos políticos, consagrados depois na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 2 de Setembro de 1791, sendo Abrão Furtado eleito para a Assembleia dos Notáveis. Esta conquista da igualdade de direitos assemelhando-os aos cidadãos franceses, teve consequências em Vila Nova de Foz Côa, na altura das invasões francesas, levando cristãos-velhos a atacarem os descendentes dos cristãos-novos, acusando-os de estarem feitos com os inimigos da Pátria, o que resultou no morticínio de mais de uma centena. Muitos tiveram de se refugiar em Torre de Moncorvo, sob protecção daquele que viria a ser o General Claudino. Por lá se fixaram.
É principalmente fora de Portugal que encontramos os mais distintos descendentes de Cristãos-novos transmontanos, principalmente fugidos durante a União das Duas Coroas. Vejamos alguns:
Nos começos do século XVII, um comerciante nascido em Bragança, distinguiu-se na Corte de Madrid. Chamava-se António Lopes Cortiços. Estava casado com Dona Luísa de Almeida e enriquecera importando pedras preciosas do Oriente e do Brasil, assim como tecidos de linho da Flandres. Tornou-se fornecedor da Casa Real, pelo que fixou residência em Madrid, acompanhado da família, judaizando secretamente. A filha Luísa casou com um primo chamado Sebastião Ferro. O filho, Manuel, casou com uma irmã de Sebastião, também de nome Luísa.
Manuel tornou-se um dos maiores financeiros ao serviço de Filipe IV. Com apenas 26 anos já era arrendatário dos impostos sobre as lãs castelhanas. Enriqueceu tanto, que foi distinguido como cavaleiro da Ordem de Calatrava e Secretário da Contadoria Real, gerindo as finanças de Castela. Era protegido do Conde-Duque de Olivares, do qual diziam que tinha sangue judeu e protegia os conversos. Manuel Cortiços chamou, como colaborador, o irmão mais novo, Sebastião, que em 1630 tinha 22 anos. Entre 1630 e 1650, fez enormes empréstimos à Coroa Espanhola, endividada com as muitas guerras em que se envolveu. O prestígio dos Cortiços era tão grande, que em 1637, os próprios Soberanos foram acolhidos em sua casa, onde lhes ofereceu uma festa, que custou rios de dinheiro, em luxo, prendas, banquete e músicos.
Durante a guerra da Catalunha os Cortiços emprestaram à Rainha, a título pessoal, oitocentos mil escudos (moeda de ouro), recusando receber jóias em penhor.
Manuel Cortiços morreu novo, 1649.Talvez o seu poder financeiro o tenha salvo da Inquisição, devido às ajudas à Coroa. A mesma sorte não tiveram os restantes membros da família. A revolução de 1640, seguida da Guerra da Restauração, a morte do Conde-Duque de Olivares, protector, abriu campo ao Tribunal do Santo Ofício e à crescente perseguição aos cristãos-novos portugueses, residentes em Espanha.
A viúva de Manuel Cortiços e a mãe, Dona Luísa de Almeida, residente na Corte, foram presas, em 1654. Dona Luísa foi transferida para Cuenca e encarcerada, apesar de idosa.
As razões da Inquisição basearam-se nas chorudas esmolas que Dona Luísa Ferro ordenara ao Mordomo para dar durante os 9 dias, que se seguiram ao óbito do marido, visando pessoas e instituições carenciadas, a fim de rezarem pela sua alma.
Os 9 dias foram a denúncia à Inquisição de que continuavam a judaizar. Então, segundo a Igreja Católica, deviam as esmolas ser dadas até à missa do 7º dia… Pelas listas elaboradas pelo Mordomo, verificaram que todos os beneficiados seguiam a Lei do Moisés, incluindo comunidades judaicas na Itália e na Terra Santa, em Hebron, Jerusalém e Safed.
Valeram à velha senhora e à nora as relações do filho Sebastião, para que passados 2 anos, em Abril de 1656, fossem libertadas, após abjurarem de levi.
A fixação do primeiro núcleo de judaízantes portugueses na Inglaterra ocorreu pouco tempo depois do estabelecimento da Inquisição em Portugal. Eram comerciantes e saíram clandestinamente de barco, estabelecendo-se em Bristol e Londres. Não me foi possível ainda comprovar se teriam tido ligações a Trás-os-Montes e saído pela barra do Douro. Sabemos, sim, que um dos mais antigos mercadores se chamava António Noronha, conhecido por Loronha e pejorativamente por Ronha. Na casa de um Alves Lopes funcionava, clandestinamente, a sinagoga. Ao Domingo iam às igrejas protestantes, não se apresentando como judeus.
O embaixador de Espanha, em Londres, denunciou-os, sendo presos e perdendo os bens pelo que, na quase totalidade dos residentes, deixaram o país.
No tempo de Isabel I viviam em Londres 12 famílias de portugueses mercadores, dos quais os mais importantes eram Álvaro de Lima, Bernardo Luís Freire e a família Anes.
Interrogado sobre estas famílias, um espanhol, que residia em Londres, afirmou:
- Pelo que sei e conheço e é público e notório em Londres, todos os portugueses são de raça judia e é notório que nas suas casas vivem e observam os ritos judaicos mas em público vão às igrejas protestantes e escutam sermões e comem pão e bebem vinho como os outros heréticos.
No tempo de Cromwel, aproveitando as tréguas entre a Holanda e a Inglaterra, uma delegação de mercadores ingleses visitou a Holanda. Os judeus de Amesterdão aproveitaram para discutir a possibilidade de regressarem à Inglaterra. O debate foi conduzido pelo Rabino Samuel Menasseh ben Israel, autor do célebre livro a Esperança de Israel, já então traduzido para inglês.
Foi convidado a visitar a Inglaterra, para lá se deslocando em 1654, acompanhado por Manuel Martins Dormido, que tinha antepassados transmontanos, saídos para o Brasil, depois ocupado pelos Holandeses durante o domínio Filipino. Libertado por portugueses, depois de 1640. Manuel Martins acompanhou os holandeses na retirada mas perdeu todos os seus bens no Brasil.
Quando chegou à presença de Cromwel expôs a sua situação, pedindo-lhe para intervir a seu favor junto do Rei de Portugal.
Em 22 de Fevereiro de 1655, Cromwel escreveu ao Rei de Portugal pedindo para ajudar Manuel Martins a recuperar os bens.
Tempos depois daquela visita, Menasséh e Manuel Martins Dormido solicitaram para os Judeus portugueses se fixarem na Inglaterra. Os pedidos foram renovados e a resposta difícil, mas Cromwel foi-os protegendo.Um filho de Manuel Dormido, chamada Salomão, foi um dos primeiros a obter autorização, confirmada mais tarde por Carlos II. Ali criou um forte centro comercial.
Distinguiu-se o médico Dr. Jacob de Castro Sarmento (1691-1762), contribuindo para a comercialização do quinino, antifebril usado nas colónias para tratar o paludismo.
Este médico tinha antepassados transmontanos, tal como os membros da firma Machado e Pereira, estabelecida em 1688.
Notável e digna de referência pelo sentido humanitário judaico da caridade, foi a criação de instituições de solidariedade social em Inglaterra, por judeus de origem portuguesa e espanhola, em 1663, especialmente para assistirem doentes. Também, nesse ano, foi criada uma escola. Entretanto, um grande legado deixado por um abastado comerciante, com origem transmontana, Diogo Rodrigues Marques, permitiu fundar em 1675 a Mehil-Sedaca, instituição destinada a dar o dote a jovens órfãs pobres. Creio que ainda persiste. Foram também criados hospitais.
Muitos nomes comuns em Trás-os-Montes e nas Beiras, persistem em famílias sefarditas britânicas, dos séculos XVII a XIX: Azevedo; Rodrigues; Costa; Maldonado; Sequeira; Neto; Henriques; Mendonça; Almeida. Ali vivem, actualmente, 20 mil sefard
Em 1940 residiam na Holanda 160 mil judeus, dos quais, 4 mil trezentos e três com origem portuguesa. Amesterdão era conhecida pela Jerusalém do Norte. Muitos tinham origens beirãs e transmontanas. Apesar dos esforços feitos para provar que estes judeus eram de raça ariana, como os alemães e, também, do empenhamento do Cônsul de Portugal em Roterdão, Dr. Artur Simões de lhes das em pernis d’imigration, para regressarem ao pais de origem, Portugal. A criminosa fúria nazi, dos 4303 só deixou escapar 200, que se refugiaram em casa de amigos neerlandeses. Conheci um que viveu escondido debaixo de um soalho durante quase 2 anos.
Sobre os Cristão-Novos do Brasil muito se tem escrito e as listas da Inquisição referem, por vezes, as suas origens transmontanas. Não vamos deter-nos sobre este ponto, o que nos levaria tempo mas ficará para aprofundar numa publicação.
A imigração para os Estados Unidos fez-se, inicialmente, a partir da Inglaterra, de Londres, e também dos Países Baixos.
Na América do norte aparecem nomes portugueses entre os judeus: Rodrigues da Costa; Touro; Gomes; Mendes; Seixas; Morais; Nunes de Carvalho; Cardozo; Moisés Lindo. Alguns foram personagens ilustres, atingindo altos postos no exército e na vida pública, como jornalistas, professores universitários, comerciantes e industriais.
A longa diáspora dos judeus portugueses, velha de mais de 500 anos, passou, de início, por Marrocos. A expulsão ou Gerush deu ali lugar a um novo grupo étnico, os megorashim (os expulsos), contrastando com os tochabin (os residentes).
Interessante é celebrar ainda hoje o purim de Alcácer Quibir, correspondente no seu calendário ao dia 4 de Agosto de 1578, em que foi morto D. Sebastião. Declamam poemas e é feita a leitura de uma memória registada numa megillah (rolo).A derrota de D. Sebastião impediu a expansão da Inquisição no norte de África.
Com mais tempo e sem martirizar os ouvintes, poderemos escrever sobre os que fugiram para a Itália e em algumas cidades tiveram bom acolhimento, antes de seguirem para a Turquia. Em Ferrara viveu Dona Beatriz Mendes, historicamente conhecida por Dona Gracia Nasi.
Altamente favorecido pelos dotes intelectuais e pela fortuna ali se distinguiu Duarte Pinel, com raízes transmontanas, cujo o nome mudaria para Abraham Usque. Manteve uma tipografia onde imprimiu a Consolação às Tribulações de Israel e também a primeira edição da Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro.
Alguns judeus portugueses não tiveram tanta sorte. Em consequência do Concilio de Trento acabaram por ser presos e levados para Roma, onde sofreram morte pelo fogo, entre eles Gabriel Henriques, que mudara o nome para Joseph Abraham Saralvo. Encarou a condenação com tanta coragem, que foi considerado um santo mártir – Há-Kadosh.
Na América latina, nas antigas colónias espanholas, foi permanente e constante a presença de judeus portugueses, também seguidos pela Inquisição. Teríamos muitos para dizer sobre os vários casos apontados pela Inquisição. Limitar-me-ei a relatar o de um prestigiado cristão-novo, com raízes em Torre de Moncorvo, onde funcionou um importante rabinato, que superintendia sobre a região transmontana.
Trata-se de Luís de Carvalhal, o Velho, que em Espanha adoptou o nome de Luís de Carvajal y de La Cueva. Ficou órfão aos 8 anos e foi educado por um familiar, que, entre os 18 e 20 anos, o enviou para Cabo Verde de onde saiu para servir a Coroa Espanhola, durante 13 anos, como tesoureiro. Fez bons amigos da Corte de Felipe II de Espanha, vindo a obter o comando de uma frota, que conduziu o novo Vice-rei ao México.
Na viagem encontraram um barco de piratas, que venceram tendo descoberto a bordo um valioso tesouro, que remeteu ao rei. No México, o Vice-rei nomeou-o director do porto de Tampico e ali saiu vencedor de vários ataques de corsários ingleses e holandeses entre eles Francis Drake e Haukins. Quando fazia prisioneiros protestantes, era cruel e remetia-os à Inquisição. Entre 1568 e 1578, ajudou ao povoamento de várias regiões protegendo colonos vindos de Espanha. Mas era duro os ameríndios.
O seu empenhamento mereceu-lhe o reconhecimento real e, em 1578, regressou a Espanha, ali lhe sendo prestadas honras e concedido o direito a ser governador dos territórios que ocupasse na América.
A esposa e os parentes desta pediram-lhe que não regressasse à América mas que os acompanhasse para a Turquia, para onde queriam fugir. Argumentou-lhes que na América seriam livres, pois era um homem poderoso. Esta decisão resultou em tragédia.
Obteve autorização para que famílias espanholas viessem povoar os territórios que ocupasse. A maior parte deste colonos eram cripto-judeus.
Os clérigos espanhóis, desconfiados, forçaram o Vice-rei a, em 1583, a ordenar que o prendesse. Ficou encarcerado até à morte, ocorrida em 1590. e o mais triste foi terem-no condenado, na certeza e parece ser verdade, que ele era um católico sincero. Mas o castigo foi-lhe aplicado por não ter denunciado a família à Inquisição. Esta foi julgada e condenada, perecendo pelo fogo num auto-de-fé, em 1590.
A partir de 1580, Portugal foi integrado nos domínios de Felipe II de Espanha o que aumentou o fluxo de homens de negócios portugueses para o México, onde os seus descendentes fundaram pequenas comunidades, que se tornaram prosperas.
O Prof. Leonardo Senkman, da Universidade Hebraica de Jerusalém, apresentou uma lista com o nome dessas povoações: cidade do México, Guadalajara, Puebla, Queratoro, Pachica, Oaxaca, Taxco, Zacateras e ainda outras. Comerciavam com Manilha e com as Filipinas.
A amplitude da rede do trato mercantil foi sempre uma característica judaica. Estes colonos casavam com famílias de cristão-velhos, muitas vezes, da nobreza, e enviavam os filhos para Universidades espanholas, o que não travou a fúria da Inquisição.
Em 1596, quarenta e seis judeus secretos portugueses foram presos, entre eles 2 de origem transmontana: Fernando Rodrigues Ferreira e Tomás da Fonseca.
Em 1649, houve um cortejo com 108 penitentes, dos quais, 13, foram queimados. Entre eles estavam Domingos Martes e Matias Pereira Lobo, com idênticas origens. A quase e totalidade destes mártires eram portugueses.
Por toda a América Latina há testemunhos de judeus secretos saídos de Portugal.
São evidentes na Martinica, no Chile, no Peru, no rio da Prata, no Surinam, no Brasil.
O fundador da Corporação dos bombeiros Voluntários do Panamá, chamava-se David de Castro e tinha raízes em Mirando do Douro.
El Salvador teve importantes políticos de origem judaico-portuguesa, descendentes da família Lindo, proveniente de Torre de Moncorvo. De 1841 a 1842, ali foi presidente da República o Dr. Juan Lindo, que se evidenciou como um notável impulsionador da Instrução Pública, criando uma ampla rede de escolas, reduzindo o elevadíssimo índice de analfabetismo daquele pequeno pais.
Entre 1847 e 1852, foi novamente Presidente da Republica, impondo-se como um dos mais queridos e apreciados. A família Lindo distribui-se por EL Salvador, Brasil e Panamá, evidenciando-se muitos dos seus membros, entre eles o banqueiro Joshua Lindo, ligado à construção do canal do Panamá.
Hoje, é praticamente impossível negar que nas famílias radicadas há gerações em Portugal, não haja mistura de sangue hebraico.
Já antes da fundação da Nacionalidade portuguesa havia judeus no território portucalense, descendentes das duzentas famílias deportadas para a Península pelo Romanos, dentre as mais prestigiadas de Israel. Mais de mil anos depôs em plena Idade Média, as sucessivas fugas de hebreus de Leão e Castela e, no Século XVI, a expulsão de milhares de Espanha para Portugal levaram na sequência da conversão forçada à mistura de cristãos-novos com cristãos-velhos.
No século XVII o anti-semita Manuel Faria e Sousa, com base no testemunho de um jesuíta, escrevia na sua História del Reyno de Portugal que 70% das famílias nobres se tinham misturado sem impedimento, afirmando: perigam na honra, bebem os erros no perigo e são perpétua mancha na nobreza.
No Século XVIII, fidalgos pretenderam fazer uma associação com base na pureza de sangue mas só duas famílias não tinham mistura. Até a própria Família Real dos Branganças era de origem judeia.
O povo foi mais lento nos cruzamentos mas processaram-se a partir do Marquês de Pombal, quando acabou com a distinção entre cristãos-velhos e cristão-novos. Aceleraram-se também com a extinção da Inquisição depois da Revolução de 1820 e mais tarde com a Revolução de 1910, separando a Igreja do Estado. Por todas estas razões, os judeus não podem em Portugal ser visto como um povo estranho, um povo à parte, mas como parentes próximos dos portugueses.
Certamente a xenofobia recusará esta realidade. Nos começos do século XX, Mário Saa, no seu livro a Invasão dos Judeus, apontou-os como gente à parte, influenciado pela onda de anti-semitismo dos finais do século XIX, princípios do XX. Mas isto não o impediu de exaltar o mérito dos judeus trasmontanos, citando:
- António Granjo natural de Garção, Bragança; Ínclito democrata; Chefe do Governo, na 1ª Republica, assassinado em 1921.
- José Henriques Tota – nascido em Bragança; fundador do Banco Tota.
- Trindade Coelho – oriundo de Mogadouro. Jurista e escritor. Autor da colectânea Os Meus Amores e do In Illo Tempore, de leitura agradável e bom humor, sobre a vida académica do seu tempo.
- Mário de Sá Carneiro – natural de Bragança. Estudou na Sorbone: colaborou no Orfeu e foi poeta de sentimentos profundos, coloridos e metafóricos como corifeu do modernismo.
Senhoras e Senhores:
Foi um prazer e uma honra falar-vos desta gente, que na sua disporá levou tão longe o nome de Portugal e continua tão perto de nós, na mistura étnica, que nos acompanha e no profundo sentido humano que os princípios judaico-cristãos imprimiram e deram sentido à Civilização Ocidental em que nos integramos[1].
Prof.doutor Adriano Vasco Rodrigues*Palestra na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro de Lisboa, em 21.09.2007.[1] Obs – Como se trata da transcrição de uma palestra, baseada num livro a publicar, só depois da sua publicação serão indicadas, a bibliografia e as fontes documentais.
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