domingo, 20 de janeiro de 2013

Uma birra no “El Corte Inglés”,por Júlia Ribeiro

SEVILHA...
“Grande é a poesia, a bondade e as danças ... Mas o melhor do mundo são as crianças"

Fernando Pessoa

Pelos finais do mês de Julho de ’69, tinha o meu filho uns 6 anitos, fomos até Espanha passar duas semanas de férias. Começámos por Sevilha e já levávamos os tickets para plantar a tenda num certo espaço num determinado Camping. Montada a tenda e também já com a lição turística estudada, começámos a nossa visita a Sevilha pelo Alcazar. Salas e mais salas de arte mudejar, lindíssimas, um esplendor.
O meu marido e eu maravilhados, mas os dois miúdos fartinhos de arte; já deitavam arquitectura e pintura pelos olhos. Deixámos o grupo em que estávamos inseridos e fomos para os jardins. Enormes, cheios de lagos, regatos , fontes e repuxos . Um deslumbre. Os garotos até espinoteavam.
O nosso grupo chegou e o guia começou a falar. Os garotos tiveram de parar as correrias e fomos sentá-los num banco à sombra. O guia continuou a explicar o emaranhado das canalizações para as fontes e repuxos. De súbito, a água deixou de correr. Todos os turistas olharam espantados, o guia também, porque nunca tinha acontecido tal.
  Pediu-nos um minutinho ou dois e foi ver o que se passava.

Vem de lá com o puto agarrado por um braço : o meu filho tinha descoberto a torneira geral e só teve de a rodar.
Tivemos de saír e fomos ao Corte Inglês comprar uns legos para os catraios se entreterem e acalmarem. Só que o António Júlio viu um equipamento de cowboy e ficou doido. Foi paixão fulminante pela pistola. Mas o meu marido era totalmente avesso a brinquedos que se relacionassem com tiros e guerras. Viemos embora.
“ Se continuas a chorar, já não levas lego, já não levas nada”. A pequenita muito caladinha, que o pai estava zangado. Aí eu disse, dando-lhe um lenço para limpar ranho e lágrimas: “Para que é esse berreiro, Tojú? Tu que és um menino bonito, até ficas feio de tanto chorar”. O meu marido acrescentou : “Ficas feio? Ficas é com umas ventas... Pára lá com a birra”.
Quando vínhamos a sair, vimos que no átrio enorme havia faixas gigantes com a legenda “VENTAS DE JULIO” . (Era nessa tarde o começo dos saldos).
O garoto já sabia ler. Ficou estático. O pai disse-lhe então : “Vês a figura que fizeste? Até escreveram aqui em letras tão grandes VENTAS DE JULIO. Estás a ver? Vamos já embora depressa, que isto é uma vergonha”.
Chegados à rua, as ditas faixas estavam por todo o lado. O meu marido repetia: “Vês o que arranjaste? Está escrito na cidade inteira”.
O miúdo não deu mais um pio. Coitadinho, acreditou mesmo. Claro que depois traduzimos a frase e explicámos-lhe a coincidência. Riu às gargalhadas. Tinha ( e tem) grande sentido de humor.

Leiria, 9 de Dezº de 2011, Júlia Ribeiro
Nota do editor: texto publicado em 21/01/11

19 comentários:

  1. Júlia, que episódio hilariante! Também ri! Nada como as crianças, e então misturadas com sentido de humor, melhor ainda!

    Beijinho e votos de um santo Natal!

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  2. Só há uma palavra : HILARIANTE !!!!

    J.S.

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  3. Bendita coincidência,que tem o condão de me fazer rir às gargalhdas.Podemos andar tristes,indignados ou revoltados nesta época de crise,mas,como alguém disse, "tudo se transcende com humor".E é verdade!
    Há mais estorinhas passadas com o Tojú,não é verdade?Queremo-las todas,escritas por quem tão bem as sabe contar.

    Uma moncorvense

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  4. Mais uma bonita estorinha, e tão bem contada!
    Na verdade não há nada como as crianças!
    Um bom Natal para todos.
    Arinda Andrés

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  5. Quanto eu me ri! A realidade ultrapassa sempre a fição, não é?
    Obrigada por estas estorinhas que no meio de tanta miséria que por aí vai , ainda nos faz dar uma boa gargalhada.

    Maria do Carmo

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  6. Eu pelo-me todo por estas estorias dos raparigos ( e tambem por as do Camane que ja é um raparigo grande ). Ia-me partindo a rir.
    As vezes venho aos Farrapos para ver fotos, as evemerides e as estorinhas da canalha e do Camane. Façam um livro, caraças.
    Dra. Julia um livro ... um livro...um livro

    Ze do Carrascal

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  7. Lourdes Nogueira disse:olha gostei da história!!!!

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  8. Gostei da cena das duas laranjas, aliás gostei de todos estes episódios que a Julinha tem contado, mas este é o melhor de todos. O meu neto esta´ a dizer que este é super.

    Beijinhos e Bom Natal
    Maria Augusta

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  9. LLLLLOOOOOLLLLL!!!
    Até me rebolei a rir.

    Hugo L.

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  10. Olá Julinha!Nem sei que lhe dizer.Simplesmente fantástica!Já nos rimos a valer sabe.Amanhã quem é que irá calar o Luís ,mas deixe que lhe diga que tive "pena" do pequenito.A inocência é sem dúvida o que mais bonito existe.Bijinhos e um FELIZ NATAL da Irene

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  11. A liberdade das crianças originou uma feliz coincidência,que quarenta e três anos depois faz rir os leitores do blogue.
    Mérito da D. Júlia, que descreve o episódio como se tivesse sido ontem.
    De facto, a nossa memória permite, que o tempo não tenha distâncias.
    Interessante a sua maneira de presentear os leitores do blogue, com as suas histórias e momentos de felicidade.
    Parabéns e obrigado pela partilha.
    Um bom Natal.
    Manuel Sengo

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  12. Eu ja escrevi praqui umas coisas mas não saiu nada. Pesco pouco desta marosca. Ri-me muito gosto destas cenas dos putos e estou a espera de um livro com isto tudo e com as cenas do caraças do Camané pois então .

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  13. António Espírito Santo disse:‎....acabei o texto...a rir....és magnífica Júlia e as tuas histórias...

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  14. També me ri muito. Concordo com o António Espirito Santo : a Julia é magnífica e as suas estórias merecem livro, não acham ?

    Leitora

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  15. Grande contista a Dra. Júlia Ribeiro. E grande amiga.
    Estou de acordo : estas estorias merecem um livro. Alguém cá nos Farrapos sabe desenhar bem? Isso seria ouro sobre azul !
    Obrigada por estes momentos tão felizes.

    Fernanda

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  16. Olá julinha!Ontem deitei-me a rir...hoje acordei a rir...e sempre que me recordar vou continuar a rir...Bjs da Irene
    Peço desculpa mas queria agra decer ao António o comentário que fez ao meu Natal e que me comoveu imenso...Obrigada amigo e BOM NATAL.

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  17. Olá julinha!
    Que vergonha!Ainda bem que o meu nome não é de um mês do ano no calendário Espanhol.
    Olhe se eu visse VENTAS DO LUIS aqui na Régua...

    Bjs do
    luis e bom natal

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  18. Olá, Luis!
    Tu tens um nome muito lindo: Luis foi Camões e Henrique, o Navegador.
    Também te desejo um Natal muito feliz e com muita alegria no seio de toda a tua Família.
    Amanhã recebes o meu livrinho, porque o mandei hoje em correio azul. Espero que te agrade.

    Um beijinho de uma avó com 4 netos.
    ( Mas quando eu estou a contar contos aos meninos de várias escolas, chego a ter mais de uma centena de netos. É que todos me chamam "Avó Júlia". E eu fico encantada ).

    Júlia

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  19. A todos os Amigos e Blogueiros (comentadores ou apenas visitas) estou grata pelas palavras de amizade que aqui me deixais. Grande gentileza a vossa.

    Para todos FESTAS FELIZES !

    Abraços
    Júlia

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