terça-feira, 8 de janeiro de 2013

EmbORA de Ti ,por Raquel Serejo Martins

EmbORA de Ti



Portugal,
quem vai segurar
as asas do teu caixão?
Guardar-te a memória?
Cantar-te uma canção?

Portugal,
envelheceste!
A pele em rugas.
Cinza o cabelo.
Pesados os pés.
Mirrado o corpo.
Pareces pele e osso, Portugal.
Pele de açafrão.
Osso de betão.
E eras tão verde e tão azul,
a correr pela praia da minha infância.

Ficaste amargo.
Amargurado?
Aqui entre nós,
era expectável!
Nunca foste dado a grandes alegrias.
Mas, porém, todavia, contudo.
Na tua tristeza, parecias feliz.
E o tempo passava.

Alado.
Como se fado!

Portugal,
afinal,
faltam-te poetas!
E arquitectos,
agricultores,
pescadores,
sonhadores
e outros doutores,
mas, principalmente,
Senhores,
em geral,
e em particular!

Paralelamente,
paralelo da calçada,
portuguesa, com certeza!
Sobram-te vendedores,
dos que vendem bandeiras e bandeirinhas,
mães, tias e sobrinhas.

E sombrinhas!
Que o mesmo é dizer guarda-chuvas.
É pró menino e prá menina,
Faça chuva ou faça sol.
Cantam como um rouxinol!

E como vai o negócio?

O negócio vai mal!
Era preciso sol na eira
e chuva no nabal!

Portugal,
Olha, também eu cresci!

Envelheci!

Já podemos falar os dois.
Já não sou menina.
Já percebo das coisas.
E, quando não percebo, pergunto.
Assim que diz-me,
como, sem o amparo da inocência,
podem os meus olhos olhar para ti?

Agora que em coro instigam e trovam:
Que desista!
Que te deixe!
Que deste mar não sai peixe!
Que não me mereces!
Que melhor desdém!
Que nem mais um vintém!

Desgraçado que me desgraças,
dizem a tia e a avó,
como se corvos na praça!

O problema.
Há sempre um problema!
O problema português. Será?
É o tamanho da saudade!
Não há mala, malinha ou maleta onde a guarde!

Portugal,
o meu nome é Raquel,
o meu nome é Pedro, é Joana,
é Renato, é Miguel,
e vou-me embora,
Brasil, Angola, Macau, Moçambique,
embora de ti.
Vai dando notícias,
e tem cuidado
com os caminhos que escolhes,
com os escolhos,
com as lágrimas nos meus olhos.
Vê bem onde pões os pés
não vás pisar mais uma vez meu coração.
In :

3 comentários:

  1. Grande canção para o Rui Veloso.
    Afonso G.

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  2. Emigrar é preciso
    Viver cá não é preciso
    Desde Fernão Mendes Pinto que anda sempre alguém por fora.
    J.

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  3. Parabéns, Raquel !
    Muito ritmo e imenso conteúdo.

    Abraço
    Júlia

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