sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Na Demanda do Ideal - O início do regresso


Viajava agora, já em terras de França. A viagem de Nuremberga a Lille tinha demorado mais de quinze horas. Recordava-se ainda do percurso inverso feito seis anos atrás, como se fosse hoje.
Muito tinha mudado desde então. A maior mudança de todas, era a facilidade com que tinha passado a fronteira. Quanto não valia um simples papel rubricado por qualquer registo civil, com uma fotografia e que pomposamente se chamava de passaporte. Só de se lembrar as peripécias porque passou da primeira vez quando fazia o percurso inverso, do jogo do gato e do rato com os guardas fronteiriços...
Depois do típico Nicht Halt dentro do comboio, anunciando a fronteira com França como sendo a próxima paragem, Videira desceu os degraus que lhe permitiriam mudar de país e já no cais da estação mostrava o passaporte ao guarda fronteiriço, mais como um prémio ganho com trabalho, do que propriamente como um salvo-conduto.
Outra alteração significativa é que não viajava com fome. Agora comia quando lhe apetecia e não, como antigamente, quando o destino deixava. Tinha até uma conta no banco. Imagine-se a cara da mãe quando lhe contasse.
Para quem nunca vira dinheiro, era difícil perceber para que serviam os bancos. Conceber que um dos seus aí tivesse dinheiro guardado, era quase blasfémia.
Para além disso, viajava agora com roupas normais de um cidadão decente e não com as roupas andrajosas com que tinha fugido ao destino, na viagem de ida.
As saudades, essas tinham aumentado. Havia seis anos que não ia à terra. Nunca pensou que tal poderia vir a acontecer. Só na ausência prolongada é que damos valor às nossas origens. Nestas alturas pomos em causa o valor porque trocámos, ou melhor, vendemos o maior dos nossos valores, o nosso lugar.
Armando Sena
 

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