Muito se tem
falado e escrito, e muito há ainda para falar, sobre a obra e a vida do
distinto escritor de Mogadouro, mas muito pouco se tem falado da sua morte e
ainda menos onde aconteceu e como ocorreu, nesse trágico dia 9 de Agosto de
1908. Justamente, venho falar-vos desse assunto, que interessa a todos os Mogadourenses
e homens de cultura. È um assunto melindroso, por vezes até tabu, mas que
interessa esclarecer: como é que um talentoso escritor, prestigiado e famoso,
bom chefe de família, família que ele amava profundamente, competente
magistrado e intelectual respeitado, na flor da idade (tinha apenas 47 anos),
comete um acto de desespero tão medonho? Isto estranhou muita gente do seu
tempo, como por exemplo Alberto d’Oliveira[2] que,
comentando os suicídios de Antero de Quental, Camilo Castelo Branco e Trindade
Coelho, escreveu, a respeito deste o seguinte: “O suicídio de Trindade Coelho, a mim que estava longe e recebi de
chofre a triste notícia, a um tempo ensombrou o meu coração de velho amigo e
deixou o meu espírito atónito como perante um enigma. Todas as mortes eu
poderia imaginar ao autor de Os Meus
Amores, menos aquela. Trindade era um homem são de corpo e alma, alegre e
feliz de viver, que opunha a qualquer sofrimento uma têmpera rija e uma reacção
pronta. (…) Soube depois também, mas nunca o pude saber com suficiente nitidez
e precisão, que as suas alvoroçadas esperanças sofreram duro choque e
desencanto e que, pela primeira vez, a alma se lhe alagou de amargura e dor. A
sua saúde moral, erecta e inacessível como as serras do seu Mogadoiro,
desmoronou-se. Naquele espírito tranquilo entrou a agitação, a dúvida, a
cólera. Aqueles olhos, facilmente humedecidos de melancolia lírica, choravam
agora de pura aflição. E tal foi a tempestade do seu resistente coração que
nela se gerou o raio – o tiro inesperado, ilógico, impulsivo – que o matou. (…)
Mas Trindade Coelho, nascido para a felicidade normal, para a alegria
contagiosa, para a acção enérgica e fecunda, esse morreu, ainda mais
tristemente, às mãos de Portugal, às nossas mãos, às mãos da nossa desordem, da
nossa injustiça, da nossa secular inveja e da nossa desesperadora esterilidade
cívica.[3]”
Trindade
Coelho era um homem extremamente sensível (ou não fosse escritor…) e foi sempre
um homem honesto, sincero e íntegro. «Transmontano. Pequenino mas tesinho»,
como lhe chamou Eugénio de Castro. Como magistrado, diziam ser «um escravo da
lei», ou seja, um escrupuloso defensor e cumpridor exemplar da legislação. Bem
intencionado, verdadeiro «apóstolo» do povo, foi um incansável lutador contra o
analfabetismo, contra a ignorância, contra a superstição, que levava os simples
e humildes, a serem explorados pelos poderosos, pelos usurários, pelos
oportunistas e pelos “políticos”. Era um autêntico idealista, um sonhador, que
acreditava que a educação cívica, seria um «instrumento seguro de uma evolução
salvadora» para o povo. Foi, também, um incansável paladino da Liberdade e da
Democracia. Como se deu então o drama? Em primeiro lugar aos males que de longe vinham… Trindade Coelho era um doente, sofria
de ataques de neurastenia. Ele próprio o confessa aos seus amigos mais íntimos,
como é o caso de Louise Ey, em carta datada de 25/04/1908, poucos meses (quatro)
antes de se suicidar, quando se tinha demitido do cargo de Procurador Régio,
para não ter de fazer cumprir a lei ditatorial (da ditadura de João Franco, ou
franquismo), conhecida pela «lei das rolhas», porque impedia a liberdade de
imprensa, eis a referida carta: “Minha
boa Amiga (…) Não calcula como estou doente! Empolgou-me uma nova crise aguda
de neurastenia, que o meu médico diz ser a mais funda que tem encontrado na sua
clínica. É a nova erupção violenta de um vulcão que nunca se apaga de todo,
pois nasci assim. A minha vida tem sido sempre a de um doente, ora melhor, ora
pior, nunca bem. Ou neurastenia exaltada, manifestando-se em febre de trabalho,
ou neurastenia depressiva manifestando-se numa tristeza horrorosa e numa
absoluta falência de todas as energias. O médico proíbe-me de trabalhar durante
dois ou três meses; mas ainda que mo não proibisse, que poderia eu fazer?! Vivo
num sofrimento constante! Desalentado, esmagado, aniquilado! Um horror!
Alenta-me a esperança de que melhorarei com algum tempo de forçado repouso,
como tem sucedido doutras vezes.
Eu não torno a escrever para publicar! Tem sido a minha desgraça,
porque cedendo a esse capricho do meu temperamento, descurei toda a ordem de
interesses materiais, e cheguei, após 25 anos de luta, a isto que sou hoje: um
farrapo de dor, sem fortuna, sem saúde, sem o menor valor eficaz para assentar
numa base estável, o sossego que tenho ainda para viver! É medonho.[4]” A outro amigo,
confessa:”Tenho horas horríveis, em que
a vida só me oferece aspectos desoladores.” De facto, Trindade Coelho sofre
de uma depressão nervosa que se repete em alguns momentos da sua vida, agravada
pelo facto de ser, mal dos artistas, um hipersensível. Escreveu a escritora e
sua amiga, Carolina Michaelis de Vasconcelos: “Aos períodos de exaltação seguiam-se outros, raríssimos, de depressão,
enfado profundo, incapacidade de todo o trabalho de espírito.
Por duas vezes, - 1899
e 1903, - debelara violentos ataques de neurastenia, como um valente,
afugentando demónios-íncubos do desalento; e voltara ao seu natural.[5]”. É deste período
a carta dirigida à sua tradutora de alemão, e também sua amiga, Louise Ey,
carta datada de 19/10/1903: “A minha
vida, há meses, é um martírio (…) Mas o meu trabalho
de espírito, que me foi sempre tão querido, repugna-me agora inteiramente.
Desde que regressei, ainda não acendi a luz do meu gabinete, e procuro matar o
tempo a ler algum romance tolo ou…a dormir! Isto há de passar, pouco a pouco.
Já estive muito pior, e revivi. Mas estou muito doente, e apoderou-se de mim
uma descrença absoluta! E não podendo por temperamento, converter-me num pulha,
tenho de aceitar que sou um condenado, à mercê dos maus…Isto é deles, dos maus!
Não vale a pena trabalhar por ideais irrealizáveis! (…) Nasci num atoleiro e
hei de morrer nele! Portugal é um país perdido, miseravelmente abandonado pelos
seus filhos, à espera talvez de morrer…[6]” Como se pode
verificar, Trindade Coelho, para além de hipersensível, sofria de uma profunda neurastenia
nervosa. Desiludido com os “políticos” e com a mediocridade deste triste país…Portugal
foi quase sempre, profundamente ingrato para com os seus filhos mais ilustres.
Isto é uma realidade que, infelizmente se repete nos nossos dias…
Em
segundo lugar, a sua colocação no
Tribunal da Boa-Hora, na cidade de Lisboa. Trindade Coelho tinha uma justa
e exacta consciência dos seus direitos e dos seus deveres, era um cidadão
exemplar. Desde Novembro de 1895, que Trindade Coelho exercia o cargo de
Procurador Régio no 2º Distrito Criminal de Lisboa. Segundo ele próprio, era o
tribunal mais trabalhoso do reino e, nesse tribunal, desempenhava o cargo mais
ingrato e antipático pois, entre outras funções, tinha de fiscalizar
oficialmente a imprensa de Lisboa, por causa da odiada “lei das rolhas”. Obviamente
que os jornalistas atacavam-no violentamente, no entanto ele gostava que o
fizessem, porque, como escreveu na sua Autobiografia: “era uma maneira indirecta de atacar a lei a que o público chamava a
“lei das rolhas”, por arrolhar a boca dos jornalistas, chamando-lhe também
outros a mordaça”. Embora não concordasse com a referida lei, Trindade
Coelho, como magistrado, tinha de a aplicar, cumprindo o seu dever, embora
contrariado. Essa missão ingrata valeu-lhe muitas críticas de jornalistas, que
não compreendiam como é que um democrata como Trindade Coelho, aplicava uma lei
tão repressiva. O governo de Portugal era, então, como se disse, a ditadura de
João Franco, mais conhecida por franquismo. O franquismo era atacado pelos
partidos monárquicos (Regenerador e Progressista, que não estavam no poder),
Republicano e outros partidos oposicionistas. João Franco, governava em
ditadura, apenas apoiado pelo rei D. Carlos. Um dos jornalistas que mais o
atacou foi Pádua Correia, em cinco artigos no jornal “A Voz Pública”, acusando
violentamente Trindade Coelho de «duplicidade:
a seu juízo, o homem era contra as leis de excepção, enquanto que o agente do
ministério público servia todos os despotismos que se traduziam em problemas
governamentais»[7].
Trindade Coelho respondeu-lhe desta maneira: “Eu, como magistrado, aplico as leis; como escritor, critico-as e
colaboro no aperfeiçoamento ou substituição das que me parecem más. Onde está
aqui a contradição? Não será cumprir dois deveres? Não será conjugar a
obrigação e a devoção, no interesse das nossas instituições jurídicas? Então eu
por ser magistrado estou impedido de escrever livros? E escrevendo livros não
hei-de defender neles a melhor doutrina,
até contra as leis, quando a minha experiência de magistrado me demonstra que
elas são más?[8]”
A verdade, porém, é que, um democrata como Trindade Coelho não aguenta
aplicar uma lei que, a sua ética e sensibilidade repugna e apresenta a sua
demissão do cargo de magistrado. Não tem alma de inquisidor, nunca foi um
“instrumento” de partidos ou de “políticos”. João Franco, logo se apressa a
confirmar, sete dias depois, a sua exoneração. O problema é que Trindade Coelho
e sua família vivem exclusivamente do seu ordenado e, agora, as dificuldades
económicas são imensas. Toda a oposição, monárquica e republicana, exultou com
esta atitude de verdadeiro Homem de Trindade Coelho. Escreveu o seu amigo e
escritor, Júlio de Lemos: “Os partidos
monárquicos, hostis à ditadura do varão do Alcaide, rejubilaram, os respectivos
marechais correram à residência do prestigioso Escritor, a abraçá-lo e
felicitá-lo e a imprensa de todas as parcialidades políticas, incluindo a
republicana, aplaudiu-o entusiasticamente. Pudera! No lance, o grave servidor
da Lei havia-lhes prestado – a despeito dele nem nisso pensar – um inapreciável
serviço”[9]. Trindade Coelho,
fiel à sua coerência, apenas respondia que «Fiz o que nem podia deixar de
fazer». Entretanto, Trindade Coelho abre escritório de advogado – ironicamente
na Rua do Crucifixo – mas, praticamente sem clientela, o seu escritório estava quase
sempre vazio. Não admira, na medida em que ele foi sempre magistrado. Pobre,
só, abandonado pelos “políticos”, com pouco dinheiro para sustentar a família,
Trindade Coelho sofre, sente-se cada vez mais deprimido. Escreveu Carolina
Michaelis de Vasconcelos, no Prefácio à “Autobiografia e Cartas”:”Pela terceira vez, vendo-se sustado na sua
actividade regular, sem colocação, sem trabalho, perdeu por completo a
faculdade de reagir por força de volição, que parecia ser um seu apanágio
inalienável. Concentrado na sua dor, cedeu aos embates de mal-entendidos,
malquerenças, insidias, injustiças, ingratidões”. Entretanto dá-se o
regicídio. Cai o governo de João Franco e com ele, a odiosa lei. Estão no
poder, unidos, os partidos Progressista e Regenerador, há jornais que apelam à
reintegração de Trindade Coelho no seu antigo cargo. É da mais elementar
justiça! Contudo…esses “políticos” que muito lhe devem, não o reconduzem no seu
lugar…Trindade Coelho sofre com a ingratidão dos “políticos”, mais uma vez
eles…Como escreveu Júlio de Lemos, no seu citado trabalho:”curtido de desilusões, esgotadas as reservas morais, reconhece a
ingratidão dos políticos, que o não reconduzem no seu lugar, reconhece que lhe
faltam a saúde e os meios de subsistência, vê-se ante irremediável catástrofe ”.
Escreveu o seu amigo Paulo Osório: “quando
viu que aqueles que na primeira hora do seu sacrifício tinham corrido a
abraça-lo, maravilhados com a nobreza heróica do seu gesto, eram os primeiros a
esquece-lo desde que o acaso os conduziu de novo ao usufruto das horas de
fortuna, que a mesma mão que fora, trémula de enternecido entusiasmo, apertar a
sua, num momento de obsessiva loucura, o próprio futuro dos que no mundo com
tão acrisolado afecto estremecia, era a que friamente, sobre uma pomposa
secretária de ministro, assinava, meses depois, na hora da recompensa e do
triunfo, a sentença do seu desterro para centenas de léguas longe de Lisboa,
onde todos os interesses da vida e do coração o tinham preso.[10]” De facto, os
“políticos” em vez de o reintegrar no seu antigo cargo, em Lisboa, onde tinha a
sua família, os seus amigos e a sua vida, mandam-no para Vieira do Minho,
muitas léguas longe de Lisboa (toma posse desse lugar a 22-7-1908)[11]. A
Trindade Coelho, esta ingratidão, feriu-o de morte. Trindade Coelho,
suicidou-se, com um tiro no coração, no dia 9 de Agosto de 1908, pelas quatro
horas da tarde, na sua casa da Rua de S. Roque, número 20, 4º andar. Tinha,
aberto na sua secretária, o livro “Imitação de Cristo”. O jornal “Vanguarda”,
Diário Republicano Independente, desses dias, explica assim a morte de Trindade
Coelho: “Parece que na trágica e
lamentável resolução do Sr. Dr. Trindade Coelho influiu bastante uma notícia
que lhe foi dada anteontem, e pela qual perdeu a esperança de voltar para a
delegacia do 2º distrito.
Segundo consta, estava
feita uma combinação pela qual o delegado Dr. Castro Lopes, seria promovido a
juiz, sendo nomeado em comissão para o Cairo e, indo o Sr. Trindade Coelho para
a Boa-Hora. Mas, à última hora, o Sr. Alberto Navarro, irmão do Sr. Campos
Henriques, apeteceu a comissão do Cairo, e o ministro da justiça fez por isso
saber ao Dr. Castro Lopes que não podia nomeá-lo. Renunciou, pois, o Sr. Dr.
Castro Lopes a ser promovido, porque só podia sê-lo indo para o Cairo, assim o
fez saber ao Dr. Trindade Coelho, anteontem.
A perda dessa
esperança parece ter sido a causa próxima do suicídio do ilustre homem de
letras”. Poderá ter sido a “gota de água”, que fez “transbordar o copo.
Também o Jornal “O
Mundo”, desses dias, debruçando-se sobre este tema, conclui que Trindade Coelho
se suicidou, após a saída do Dr. Castro Lopes, que lhe veio dar a má notícia.
Trindade Coelho tinha ainda a esperança de continuar em Lisboa, no tribunal da
Boa-Hora. A notícia que, sempre teria de ir para Vieira do Minho, arrasou-o. O
jornal “O Mundo”, completa assim, a notícia já por nós transcrita de “A
Vanguarda”: “Tendo saído o Sr. Dr.
Castro Lopes de casa do Dr. Trindade Coelho, recolhido o filho deste antigo
magistrado ao seu quarto, pode calcular-se por isso, a surpresa anciante que
daí a instantes se ouviu um ruído em toda a casa, e que, dirigindo-se as várias
pessoas de família ao gabinete de trabalho do infortunado escritor, depararam
com ele sentado no seu fauteuil, empunhando ainda de encontro ao coração, a
arma que, num segundo, lhe despedaçara a existência.
Estivemos em casa do
Dr. Trindade Coelho, por volta das cinco e meia da tarde, pouco depois do seu
desesperado acto, e podemos nessas circunstâncias, constatar a aflição da
esposa e do filho amantíssimos que assim, vinham de perder um ente querido, que
não mais voltará a (?) com a prática de nenhum acto, mas que, à certa, lhes
lega um nome puro e honrado”. Para concluir este trabalho, vou dar notícia
do seu enterro. Trindade Coelho, foi sepultado no Cemitério dos Prazeres, em
Lisboa, em jazigo da família Lessa. Os seus restos mortais foram transladados
para o cemitério de Mogadouro, em 1961, aquando do Centenário do seu
nascimento. Diz assim, o referido jornal, que não conseguimos identificar, por
a fotocópia que nos foi fornecida, não possuir o cabeçalho do referido
periódico: “Narram os jornais da manhã
de ontem pormenorizadamente, o trágico fim de Trindade Coelho e isso nos
dispensa de reeditar essas dolorosas notas acerca do fúnebre sucesso.
Registaremos apenas quanto diz respeito ao funeral do ilustre escritor,
realizado ontem, às cinco horas e meia da tarde, e revestido de singular
imponência.
Desde as três horas da
tarde que na residência em luto, compareciam grande número de amigos e
admiradores do ilustre extinto, de modo que à hora marcada para o funeral a
concorrência era numerosíssima, enchendo a escada e algumas salas de habitação,
vendo-se também nos passeios da rua de S. Roque em frente ao prédio aludido
grande quantidade de povo.
Eram 5 e meia da tarde
quando chegou o Rev. Prior da Encarnação, acompanhado de um acólito, após as
orações fúnebres, começou a organizar-se o cortejo, que como acima dizemos
revestiu grande imponência, acompanhando o féretro cerca de oitenta carruagens.
A urna funerária que
encerra os restos mortais do ilustre magistrado, foi transportada para o
cemitério num carro funerário negro tirado a duas parelhas, seguindo-se uma
carruagem tirada a uma parelha, conduzindo o sacerdote e o acólito.
Guarneciam o topo e os
lados do carro funerário vários ramos de flores naturais, e as seguintes
coroas”. O jornal descreve todas as coroas e o que diziam os respectivos
cartões. A título de exemplo, vamos falar de apenas de duas dessas coroas e
respectivos cartões: “Rosas e fitas
pretas – Ao seu querido e devotado Irmão e grande cidadão, Dr. Trindade Coelho;
o Grande Oriente Lusitano Unido; Amores perfeitos e violetas com fitas cor de
rosa – A Trindade Coelho – Saudades da sua esposa e filho.” Depois descreve
todas as pessoas importantes que iam no cortejo fúnebre, bem como alguns
telegramas que sua esposa e o seu filho Henrique recebera.
Hoje,
Trindade Coelho, está sepultado na sua terra, como ele tanto queria, ou seja «Oh! A minha terra!...(…) Como seria bom
repousar aí! Em parte alguma repousaria melhor, decerto, do que além - debaixo
daquele céu que enviou aos meus olhos, mal nasci, o primeiro beijo de luz, como
se fora uma carícia de Deus…”.
Trindade
Coelho é o verdadeiro símbolo de todos os portugueses que tentaram modificar
este triste país. Amante da sua terra, um autêntico Dom Quixote, sempre pronto a lutar pelo bem do povo, contra as
trevas da ignorância, contra os usurários, os “políticos” e outros parasitas
que exploraram e exploram o povo, ele é o símbolo dos homens livres e de bons
costumes que, contra tudo e contra todos, estão dispostos a derramar o seu
próprio sangue para libertar o povo humilde. Incompreendido, usado por homens
sem escrúpulos, que apenas vêem os seus mesquinhos interesses. Verdadeiro
lutador, sacrificou tudo pelo bem comum. Trindade Coelho é, nos dias de hoje,
uma referência para todos nós, farol de civismo e de ideais nobres. Foi um
verdadeiro lutador pelo bem comum. Para todos nós, que lutamos por um mundo
melhor, é uma referência, um verdadeiro símbolo de um mundo melhor, mais humano
e solidário. Neste nosso mundo de trevas, em que o ter é mais importante que o
ser, o seu testemunho aí está para que nos empenhemos numa luta por um mundo
melhor. Foi este o seu grande legado para nós e para as gerações vindouras. O seu
sacrifício não foi em vão.
Ajoelho e
rezo pela alma de Trindade Coelho, agradecendo-lhe o quanto me ensinou, o
quanto nos ensinou, a gostar de Mogadouro, da Liberdade, da Igualdade e
da Fraternidade. O quanto nos ensinou a gostar da sua terra e tentar
transformar este “vale de lágrimas” num mundo melhor, em que vale a pena ser
vivido. Obrigado, pela tua lição. Que o Criador te dê a Luz, Tu bem o mereces!
António Pimenta de Castro
[1] - Licenciado em História,
Membro da Academia de Letras de Trás-os-Montes, sócio honorário do “Clube dos
Poetas Vivos, das Terras da Nóbrega e Valdevez”, docente no Agrupamento de
Escolas de Torre de Moncorvo, colaborador da revista Epicur, dos jornais “O
Guerra-Zoelae” e “O Vianense”, e investigador.
[2] -
Alberto d’Oliveira era amigo íntimo de Trindade Coelho. Foi ele que lhe mandou
de Berna o livro de educação cívica de Numa Droz, que haveria de inspirar o
escritor de Mogadouro a escrever o seu monumental livro “Manual Cívico do
Cidadão Português”.
[3] -
Alberto d’Oliveira, “Vida, Poesia &
Morte”, páginas 205 a 208, “Atlântida” Livraria Editora, Coimbra, 1939.
[4] -
Coelho, Trindade, “Autobiografia e Cartas”, A Editora, Lisboa, 1910.
[5] -
Vasconcelos, Carolina Michaelis de, Prefácio do livro “Autobiografia e Cartas,
A Editora, Lisboa, 1910.
[6] -
Coelho, Trindade, “Autobiografia e Cartas”, A Editora, Lisboa, 1910.
[7] - Lemos,
Júlio de, “Trindade Coelho – Mestre de Civismo”, separata da «A Aurora do
Lima», página 5, Viana do Castelo, 1957.
[8] - Coelho, Trindade, “A Voz
Pública”, Porto, de 18-08-1907.
[9]
Lemos, Júlio de, “Trindade Coelho – Mestre de Civismo”, separata da «A Aurora
do Lima», Viana do Castelo, 1957.
[10] Osório, Paulo, “Trindade
Coelho”, página 14, 1908.
[11] - No
livro “Vieira do Minho – Notícia
Histórica e Descriptiva”, do P.e José Carlos Alves Vieira, Edição do
«Hospital João da Torre», Vieira do Minho, 1923.
Colega Pimenta de Castro:
ResponderEliminarGosto muito dos seus textos e agradeço pele informação que deles colho.-
Abraço
Júlia Ribeiro
Descobri hoje mesmo este nosso escritor e já me apaixonei pela sua obra. Peguei por acaso em "Os meus Amores" e a leitura foi correndo sem eu dar por isso. Não podia deixar de vir saber um pouco mais sobre ele à internet. Graças a Deus dei com este texto. Obrigado pelo trabalho!
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