quarta-feira, 14 de agosto de 2013

NINGUÉM ESCOLHE ONDE NASCE,por Luís Borges e Amadeu Ferreira

                                          [Carvalho alvarinho. Serra da Peneda]

talvez a bolota tivesse preferido rolar encosta abaixo e aconchegar-se no abraço fresco do vale, com húmus e água bem à raiz, mas ninguém escolhe onde nasce: a ela apenas cabia desistir ou lutar por ter caído no cume da montanha, entre duras rochas, sujeita à dureza dos ventos e outros elementos; com o tempo, foram as suas raízes aprendendo o caminho dos veios da pedra e soube-lhe bem esse alimento, lançando-se num crescer lento mas seguro, e foi fazendo amizade com os mais fortes ventos, agora lhe prestando o tributo de uma suave e digna vénia, deixando que as nuvens lhe afaguem os ramos com a sua renda e puxem o lustro às folhas: a seus pés, prestam-lhe tojos e fetos uma permanente e colorida vassalagem, descem a encosta as pedras até lhe beijar o enrugado e martirizado tronco, para um e outro lado ordena-se um horizonte de céu, montes e vales, prende de espanto os olhos e deixa as bocas sem palavras: com tanto para admirar e a vida para tocar, nunca para se queixar o velho carvalho arranjou tempo.
Luís Borges e Amadeu Ferreira

1 comentário:

  1. Maria De Jesus Fernandes escreveu:Já escrevi algures: lindo o texto e linda a fotografia...

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