Depoimento de M.ª da Conceição Barros Afonso sobre o Pe.Telmo Ferraz

Padre Telmo e Maria da Conceição Barros

Tinha eu cerca de 20 anos, quando fui dar aulas para Genísio, (Miranda do Douro).

Um dia, quase verão, foi visitar-me a Mª José Simões . Era Sábado de manhã e decidimos ir ver a barragem de Picote.

Encontrámos, por acaso, o Pe. Telmo Ferraz, que nos convidou para almoçar com ele. Aceitámos o convite e, para nosso espanto, quem cozinhava era um homem.

Após a refeição, uma parrilhada de peixe que estava uma delícia, o Pe.Telmo teve de voltar aos seus afazeres, que não eram poucos, e nós as duas ficámos à conversa com o cozinheiro que nos contou que havia sido contrabandista. Uma noite, ferido, fora o Pe.Telmo quem o trouxera para sua casa e o tratou.  De modo tão humano, sem perguntas nem censuras, que ele resolveu deixar a perigosa vida do contrabando  e ficar em casa dele. Fazia-lhe a comida, lavava e passava-lhe a roupa e até lhe cosia camisas e calças velhas.

 “Sim, porque o Pe.Telmo nunca tinha roupa nova. Dava tudo, mas tudo mesmo. De seu, só tinha a roupa que trazia no corpo. Eu via-me na necessidade de lavar-lhe as calças à noite e secar-lhas ao lume  e a ferro. Mesmo no Inverno até a roupa da cama ele dava. Muitas vezes lhe disse : ‘Pe. Telmo, olhe que este cobertor não é para dar, o senhor precisa de agasalho, senão ainda apanha uma tuberculose.’ Qal quê? No dia seguinte já não tinha o cobertor” .

Era assim, o Pe.Telmo Ferraz.

Leiria, 24 de Agosto de 2013                                        

Escrito por Júlia Barros Ribeiro 

VER:http://lelodemoncorvo.blogspot.pt/2013/08/brucomogadouro-homenagem-ao-petelmo.html