terça-feira, 3 de julho de 2012

Pequenas Memórias - “ Kê Kálôrrr !” (II), por Júlia Barros Ribeiro

“Grande é a poesia, a bondade e as danças ... Mas o melhor do mundo são as crianças “ Fernando Pessoa

Ainda as modas na Pedagogia e no Sistema Educativo

Quando a minha neta Inês passou para a 2ª classe, tinha 7 anos (tem agora 14) , entrou o Inglês no currículo das crianças. A Directora da escola, que tinha uma amiga inglesa, convidou-a para dar Inglês aos miuditos. A senhora inglesa ia à escola duas vezes por semana. Mas a senhora inglesa não era e nunca tinha sido professora. Trabalhava no sector farmacêutico e casara em Viana.
Depois da primeira aula de Inglês (que foi em Janeiro), perguntei à miúda: “O que aprendeste hoje em Inglês?” . Muito satisfeita, a Inês respondeu : “Aprendi a contar até 5 e desbobinou: one, two, three, four, five” . Nessa semana repetiram o “one, two, three, four, five”. Na semana seguinte contaram até 10 e repetiram. No mês seguinte , quando eu perguntava: “E hoje o que aprendeste?” , a miúda dizia: “Não sei” . E disse “não sei” mais uma data de vezes.
Até que um dia, já pelos finais de Abril ou princípios de Maio - os dias já estavam quentes - a garota vinha muito contente e disse logo, sem que ninguém lhe perguntasse: “Hoje aprendi a dizer ‘está calor’ em Inglês”. “Aprendeste? Que bom! Então como se diz? “ . Esperava eu que a miúda dissesse : “It’s hot” ou “It’s very hot” . A Inês pegou num caderno de tamanho A4, movimentou-o como se fosse um leque, ergueu a cara sobre o seu ombro direito, e disse com a mais correcta entoação de uma lady inglesa : “ Kê Kálôrrr !”
Claro que a gargalhada foi enorme e a criança sem perceber porquê, pois tinha imitado na perfeição a professora de Inglês.
Não era ela quem estava errada. Quem errou foi o Ministério da Educação que não soube definir o perfil do professor necessário para tal tarefa. Quem fez a lei nem sequer pensou que não é qualquer nativo de uma Língua que pode ser professor dessa Língua. Pode ter boa pronúncia e isso é crucial na iniciação, especialmente com crianças. Mas não basta: esse professor tem de ser excelente, pois tem de gizar o seu plano muito objectivo e claro; de preferência com base em contos e jogos simples, com poucos objectos, poucas pessoas e animais e bem identificáveis, cores vivas, linhas bem definidas... Mas não foi isto o que aconteceu em muitas das escolas primárias onde se iniciou o Inglês, como 1ª Lingua Estrangeira, que ficou coxa logo à partida.
Estou para aqui a perorar e não pretendo dar lições a ninguém. Isto é deformação profissional. Desculpai. Às vezes passo-me, porque há coisas que se metem pelos olhos dentro. Mas parece que o Ministério da Educação nunca aprende....

Júlia Ribeiro , 17 Agosto, 2011

7 comentários:

  1. Olá, professora Júlia,
    No planeta Terra, o nosso Ministério da Educação deve ser o que mais reformas educativas tem feito, mais modas tem copiado dos mais diversos países, mais modelos disto e daquilo tem inventado e mais leis, que se contradizem, tem posto cá fora, para mal dos alunos e de nós, professores.

    MªLuz Martins

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  2. É isso. São as tais leis "em manadas" do Ministério, como dizem os meus alunos.
    Em manadas que vêm marrar com todos nós: alunos, pais e professores.
    Qualquer dia escrevo uma das estorinhas passadas nas minhas aulas. Também as tenho. Mas não sei contar tão bem como a professora Júlia, que não conheço, mas conheço uma sua antiga estagiária que fala de si com muita admiração.

    V.V. (Oeiras)

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  3. Vou contar um caso que aconteceu comigo e que corrobora a opinião da Julinha(e,creio, de todos os professores responsáveis):um dia apareceu,numa das minhas aulas de português para estrangeiros,um indivíduo de nacionalidade portuguesa,amigo de um dos meus alunos.Perguntei-lhe por que razão queria ele assistir à aula.Resposta:"É que tive um convite para dar um curso de 250 horas de português numa localidade espanhola e gostava de saber o que tenho de fazer para ensinar..."."Mas o senhor não é professor?",indaguei."Não,penso que basta ser português,e com as dicas que levo da sua aula, cá me arranjo..."Como se deve imaginar,fiquei estupefacta,embora já tivesse conhecimento de casos idênticos na região.

    Abraços para os/as colegas de

    Uma moncorvense

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  4. Peço desculpa, mas vou corrigir a professora Júlia. Onde escreve "Parece que o Ministério da Educação nunca aprende", deveria dizer "O Ministério da Educação nunca aprende".
    É a minha opinião. E não sou professor, mas fui aluno e sou pai de dois garotos que já estão no Básico, como agora se diz.

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  5. A senhora inglesa ao ver o Reboredo a arder : “ Kê Ôrrôrrr !”

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  6. COISAS BOAS QUE VI NA NET.POR FAVOR ,VEJAM E DIVULGUEM.PARA TODAS AS "INÊS"E AVÓS.Isto é como as cerejas...se não fosse este antológico texto não me deliciava também com estes filminhos.Procurei na net para poder participar nestes comentários e dizer a autora que lhe estamos muito agradecidos.Espero pelo nº 3.

    MixRepública é um projecto de cinema de animação dirigido às crianças em idade escolar que percorreu todo o país e cujo saldo foi a realização de 25 novos filmes.
    Estas novas obras de arte foram realizadas por crianças de diversos pontos do país, no âmbito do projecto MixRepública, levado a cabo pela Monstra e co-produzido e apoiado pela Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República.
    Desenvolvido por uma equipa de profissionais de cinema de animação, o projecto MixRepública teve como orientadores Tânia Duarte, Ícaro e Vitor Hugo. Os cineastas percorreram Portugal de Norte a Sul, passando por diversas localidades onde foram criando oficinas de cinema de animação que tiveram sempre como pano de fundo o tema relativo à República.
    Muitas dezenas de crianças participaram neste projecto com o seu trabalho técnico e com as suas ideias. Nas escolas os pequenos realizadores imaginaram filmes a partir de motivos republicanos locais .
    As oficinas realizaram-se um pouco por todo o país, tendo em Trás-os-Montes envolvido algumas crianças das vilas de Mogadouro, Miranda do Douro, Alfândega da Fé e Montalegre.

    Os resultados obtidos com este projecto que foi levado a cabo entre 2010 e 2011 podem ser vistos no portal do Centenário.
    Filmes:
    Oficina de animação de 6 e 7 de Junho de 2011, Biblioteca Municipal Trindade Coelho – Mogadouro.
    Oficina de animação de 8 e 9 de Junho de 2011 Escola Eb1 de Miranda do Douro.
    Oficina de animação de 16 a 18 de Junho de 2011 Associação LEQUE - Alfândega da Fé.
    Oficina de animação 1, 2 e 3 de Junho de 2011, Pavilhão Multiusos de Montalegre

    Leitor

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  7. Obrigada a todos os Amigos e comentadores , e um agradecimento especial ao LEITOR . Já fui ver à NET o que aqui recomendou e o meu tempo não foi perdido. Tem muito interesse e de facto gostei. Recomendo também.

    Abraços
    Júlia

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