quinta-feira, 5 de julho de 2012

Azibo - a Oitava Maravilha


Engrandecer o que à nascença detentor já era de enormidade poderá soar à tecelagem de uma pegajosa teia justificável pelo apego à génese. Corre-se o risco de sublimar o sublime, metamorfoses em aracnídeo que emaranha fios de letras, desconexas, em suave deambulação pelas pedras do éden... Talvez agora engrosse o pelotão dos crentes no Inferno; afinal, o Paraíso existe... O Azibo nem é, sequer, um local... é um entrelaçado de coisas que roçam o intangível, fronteiras traçadas a imaginário, solo opaco de transparências tantas, o infinito alcançável na inatingibilidade do finito. Talvez tudo não passe de uma incestuosa paixão, na lascívia do pecaminoso, fusões de água e fogo, indistinto corte de umbilical cordão, tal a incapacidade do tempo para ocultar a ligação. Sentir-me-ei um Carlos da Maia em luxuriante apreço pela inconfundível beleza de Maria Eduarda... Ou, contemporâneas contenções, um Sete-Sóis em amena contemplação a Sete-Luas. Seja o que for, é uma paixão de imberbes sinaléticas, indómitos arrepios e um palpitar de saudade sempre que a distância temporal supera o emocionalmente razoável.
O Azibo é uma sequência de emoções intraduzível, transpiração do âmago, sente-se ou não se sente ou, de anciãos a herança, quem a feio ama, bonito lhe parece... Suspeito serei, nesta incontrolável chama que consome, fogo ardente, história de vida que inúmeras vezes se confunde, vigores da adolescência amansados por inolvidáveis finais de tarde. Nesses idos 80, novidade da paixão, loucuras tantas, a insanidade de travessia da albufeira de "escadinhas" a "escadinhas", intempéries de um querer não amestrado, rebeldia em fusões de corpo e água. Era assim, não poderia ser de forma outra, os meses de inferno clamavam pelo que lhes aplacasse a fúria. Transfigurava-se o Azibo em bálsamo, aquática força bruta que acariciava epidermes ressequidas pelo fulgor do estio, tapa-vento líquido, parecia ensandecer a adolescência em arriscadas manobras de tropelias de anfíbios.
Cresceu a dona, da maturidade se fez o deslumbre, magnificência adornada a voos de rapina, sons de orquestra em polifónico timbre, surpresa aqui, arrepio dos sentidos acolá. Ou a redescoberta de incontidas paixões, o tempo bloqueia por lá, e regride-se. A inenarráveis tempos nunca existidos, súbitos desejos de saltar para a Ilha do Fidalgo e absorver indecifráveis histórias gravadas nas rochas, petroglifos da memória, ritualizações do endeusamento do espaço. Devagar, sem pressas, com asas discretas, planadas incursões a telas abraçadas pelo beijo do sol poente. Sente-se a brisa de lendas muitas, mitos em alvoroço, remoinhos de danças ao demo, Lua Cheia nas encruzilhadas espelhada, o dizem as crenças. Prende-se o horizonte com o olhar, sobre a Fraga da Pegada mirando, inala-se a atmosfera dos dias, a praia da Ribeira ao fundo, corre a imaginação pela superfície de calmas águas, sorve-se gelada bebida na esplanada batida por refrescantes imagens de coloridos navegadores em permanente algazarra. Policrómico tecido de água entre montes encravado... Breve intensidade de um desenho em prolongamento de uma qualquer fragilidade do ser, sinto-me pequeno na presença de ambientes assim... Limito-me a penetrar-lhe nas entranhas, apenas porque se entranha. Talvez seja uma das 7 Maravilhas. Para mim, é a Oitava, insistentemente diferente...

3 comentários:

  1. Belíssimo texto e as fotografias não lhe ficam atrás.
    Vou ver o Blog.

    Júlia Ribeiro

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  2. Joaquim Silva escreveu:o AZIbO merece

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  3. Aibo merece este belissimo texto e nós agradecemos.Tenho que ir lá.Não conheço.Bem hajam pela dica.
    Leitor

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