Leonel Brito e Dr. Hirondino Fernandes |
Palavras proferidas por ocasião da
"Homenagem e apresentação do documentário Hirondino da Paixão Fernandes na
Primeira Pessoa"
(Centro Cultural Municipal Adriano Moreira,
Bragança, 2014. 06. 14, 21h30)
Ex.mo Senhor Presidente da Câmara Municipal de
Bragança
Ex.mo Senhor Vice-Presidente da Academia de
Letras de Trás-os-Montes
Minhas Senhoras e meus Senhores
Respondendo a um amável e super-generoso
convite do distinto Vice-Presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes,
Prof. Doutor António Tiza, secundado pelo programa das "Exposições no
Centro Cultural Municipal Adriano Moreira", de 11 a 14 de junho 2014, que menciona a
"Homenagem e apresentação do documentário Hirondino da Paixão Fernandes na
Primeira Pessoa", provindo das mãos do mesmo, aqui estamos dizendo
PRESENTE.
Ao fazê-lo, as nossas primeiras palavras são:
"Estas honras e este culto
Bem se podiam prestar
A homens de grande vulto.
Mas a mim, poeta inculto,
Espontâneo, popular…
É deveras singular!".
Assim respondia João de Deus, neste belo
improviso, a uma homenagem que lhe foi prestada por iniciativa dos estudantes
de Coimbra — por sinal das mais significativas, para ele, dizem que terá dito.
Como João de Deus, assim vamos dizer também
nós, agora:
"Estas honras e este culto
Bem se podiam prestar
A homens de grande vulto.
E não adiantamos mais nada nesta direcção, por
razões mais que evidentes. Antes perguntaremos: Que é que fizemos nós para
merecer a distinção em causa?!…
Não pode aspirar a voos de condor quem nasce
para piriquito — e nascer onde nascemos, bem como em tantos lugarejos
congéneres (as nossas aldeias todas, ontem, sobretudo), era/é sinónimo disto
mesmo: não passar de piriquito: conhecer o combóio quando os meninos bonitos da
cidade estavam já cansados de andar de avião…
Fomos/somos, pois, um menino feio, que sempre
se refugiou nos seus livros e para eles e com eles tem vivido: primeiramente em
Bragança e depois em Coimbra, a estudá-los; logo a seguir, em Leiria, de novo
em Bragança e, até ao fim da missão, de novo em Coimbra — sempre na
esperança/obrigação de os dar a conhecer aos outros, para formar "Home(ns)
de um só parecer, / D' um só rosto, uma só fé, / D' antes quebrar, que torcer
[…]", como diz certa carta que, certo dia, Sá de Miranda enviou a el-rei
D. João III.
Nas horas vagas desta missão …
… mas nós nunca tivemos horas vagas para
coisíssima nenhuma porque sempre ocupámos as horas que deveriam ser vagas com a
BdB, ora nas bibliotecas/arquivos de Coimbra, Lisboa, Porto, uma vez por outra
Bragança e várias vezes em Vila Flor, ora em casa …
Certo, em casa, porém, como?… qual o fim a
darmos ao que íamos recolhendo?…
Por estranhíssimo que possa parecer, tinha-nos
dado a resposta o Padre António Vieira, em 22 de Junho de 1657, lá de longe, do
colégio de Jesuítas de S. Luís do Maranhão, Brasil: "Arranca o estatuário
uma pedra dessas montanhas, tosca, bruta, dura, informe; e depois que desbastou
o mais grosso, toma o maço e o cinzel na mão e começa a formar um homem:
primeiro, membro a membro e, depois, feição por feição, até à mais miúda.
Ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa, rasga-lhe os olhos […]". Ele é
tão … lindo este Sermão do Espírito Santo que custa ter de o truncar, mesmo
sabendo que V. Excelências o conhecem bem.
Material reunido, foi, portanto, desbastar o
mais grosso, tomar o maço e o cinzel na mão …
Não, minhas Senhoras e Meus Senhores, não
vamos falar-lhes, pelo menos em pormenor, de como nasceu e cresceu a BdB
propriamente dita — os seus IV volumes iniciais, hoje esgotados e esquecidos, +
os IX completados há dias, + o X, que há-de aparecer brevemente, para não
falarmos dos eventuais XI e XII, que já deram os primeiros passos — os
primeiros IV + os IX ultimamente publicados, com as suas virtudes, que
esperamos sejam … muitas, e os seus defeitos, que presumimos serem poucos …
certos, todavia, de que são alguns.
Pequenos os que se nos têm deparado neste
total de volumes até hoje publicados, 4+9 = 13, e ninguém tem querido
apontar-no-los, para os corrigirmos! Por favor, façam-no. Agradecemos.
A hora é de júbilo.
De júbilo, pela querida presença de V.
Excelências nesta hora e lugar, porque ela é a prova provada:
a) de que não errámos quando nos lançámos
nesta "ciclópica" tarefa (assim houve quem a já tivesse designado),
de anos e mais anos, quase uma eternidade em bibliotecas e arquivos;
b) de que não erraram o Prof. Engenheiro
Dionísio Afonso Gonçalves e o Prof. Doutor Francisco José Terroso Cepeda
(Instituto Politécnico) que, juntos à Câmara Municipal e ao Arquivo Distrital
publicaram os 4 volumes da Série Documentos;
c) e de que igualmente não erraram o saudoso
Presidente (da Câmara citada, Bragança), Mestre Eng. António Jorge Nunes, que
inciou a sua publicação, e o actual Presidente (da mesma Câmara) Dr. Hernâni
Dinis Venâncio Dias, que a continua, publicando a Série Escritores,
Jornalistas, Artistas.
A hora é de júbilo, dissemos e repetimos,
porque temos a alegria de saber que, entre V. Excelências, estão vários dos
muitos que, desde longe, nos vem dando com o seu exemplo e a sua palavra amiga
a coragem necessária para não baixarmos os braços:
O primeiro deles todos, de corpo e alma, a
toda a hora e em tudo sempre presente, por razões múltiplas que não pôde
anular, falta agora aqui, mas já esteve telefonicamente connosco, como acontece
quase todos os dias, com as suas informações e o seu conselho prudente. Sem a
sua ajuda, tudo teria sido deveras mais difícil. Obrigado, Prof. Doutor Telmo
Verdelho.
O segundo temos o grato prazer e a subidíssima
honra de o vermos mais uma vez entre nós — a bem dizer ele está também sempre
connosco desde o dia em que nos encontrámos, já lá vão anos, na Biblioteca
Nacional de Lisboa e nos animou a seguir em frente, com determinação. Desde
então, a sua postura tem sido invariavelmente a mesma, culminando com a
gentileza da nossa nomeação para sócio honorário da Academia de Letras de
Trás-os-Montes e agora, cremos, com a indicação do nosso nome para figurar na
lista dos documentários a levar a efeito pela mesma Academia. Não falando nas
muitas informações, sempre que solicitadas de imediato remetidas. Obrigado,
Prof. Doutor Ernesto Rodrigues.
E os Patrocinadores da obra acima referidos
que, sem nunca a terem visto, não hesitaram minimamente em a mandar para a
Tipografia?!… Como lhes estamos grato — pela publicação, sim, mas, acima de
tudo, pela confiança que sempre lhes merecemos!… O gesto de V. Excelências não
tem preço. Obrigado, mil vezes obrigado Prof. Engenheiro Dionísio Afonso
Gonçalves e Prof. Doutor Francisco José Terroso Cepeda, Mestre Eng. António
Jorge Nunes e Dr. Hernâni Dinis Venâncio Dias.
E o Juiz Conselheiro Francisco Diogo
Fernandes, que há poucas horas, com vontade de ficar, partiu … porque de há
muito se comprometera a estar presente na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro
do Porto, a estas horas!… Quanto não valem as informações tantas vezes
prestadas e a certeza do seu apoio moral nunca regateado!… Obrigado,
Conselheiro Francisco Diogo Fernandes.
E outros, com múltiplas informações, a
respeito de A e B e C, D e etc., o alfabeto todo quase não chega, não é
verdade, Prof. Doutor António Tiza, Prof. Doutor Carlos d' Abreu, Prof. Doutor Armando Palavras, Mestre Amadeu
Ferreira, Mestres Ana Maria Afonso e Élia Mofreita, Dr. Pires Cabral, Dr. Artur
Barracosa Mendonça ?… Ele foram/são tantos …
Não é verdade, Mestre Amadeu Ferreira?!
Diga-nos que sim, querido Amigo, o Mirandês precisa de si e nós precisamos
ainda mais. Mande a doença para os infernos. Grite-nos a dizer que o mau tempo
já lá vai. Diga-nos que já está bom. Breve, que estamos intranquilos, o coração
a doer. Já está bom, ora já?!…
E há mais, muitíssimos outros, que agora não
temos tempo para referir mas que, a seu tempo, haveremos de lembrar.
Cremos estar a alongar-nos demasiado. Coisas
destas são para duas palavras, Muitíssmo Obrigado e disse. Temos de terminar, pois, para ir
embora.
Também só nos falta a resposta a uma forçosa
pergunta: Que dizer do documentário, produção e realização do distinto
cineasta — foi vê-lo e tê-lo por Amigo —
Leonel Brito?
Apenas que, se de lupa na mão alguém descobrir
alguma imperfeição ou erro, a culpa é do modelo: feio que nem chimpanzé,
palrador que nem corujo, a memória já semi-avariada … Deixe lá, prezadíssimo
Leonel Brito. Cá por nós, o documentário do Hirondino … está mais que bem.
Disse: mais que bem, repare. Obrigado.
E falta isto que, sendo pouco, nos parece mais
que super-relevante: Felicitar, muito de alma e coração, os promotores ou
promotor desta iniciativa da Academia — onde há muito quem, por direito muito
próprio, nela, iniciativa, mereça figurar e a nós, por generosidade, nos
encaixaram — o Prof. Doutor Ernesto Rodrigues, se não único, principal
promotor, por certo. Que ela se torne o grande centro de recolha de dados de
que Bragança poderá ser exemplo.
Em frente, com isto ou algo como isto mesmo. E
que todos se dêem as mãos porque só a união faz a força … para tudo
necessária.
Obrigado, mil vezes Obrigado!
Agora sim, terminamos, minhas Senhoras e meus
Senhores, socorrendo-nos de António Ferreira, poeta do séc. XVI, tantas vezes,
graças a este mesmo dístico, lembrado:
“Eu desta Glória só fico contente
que minha terra amei e a minha gente”.
Dissemos.
Hirondino Fernandes
Sobre o piriquito e o condor, penso que muito spiriquitos chegam onde muitos condores não conseguem, apesar das vicissitudes referidas. Exemplo disso é o caso do Sr.Dr. e de muitos outros nomes referidos por si,como por exemplo, o Sr: Dr. Pires Cabral, de quem fui aluno na Escola Industrial de Moncorvo.
ResponderEliminarFrequentei a Escola Industrial de Bragança, no S.P.I.(Secção Preparatória aos Institutos)nos anos lectivos de 72/73 e 73/74, durante os quais era Director O Sr. Dr. Hirondino. Nunca fui seu aluno, embora o tivesse sido da sua mulher(em Ciências).
Vou relatar um pequeno episódio que demonstra bem a nobreza de alma do Sr. Dr Hirondino.
Um dia, eu e o Rui Luzio, tivemos um percalço no bar da Escola e partimos dois ou três copos. Assustados, fugimos pelos terrenos baldios por detrás da Escola, que penso que iam dar ao liceu. Logo o contínuo Lopes foi no nosso encalço a berrar com toda a força dos pulmões para que voltássemos.Parámos e o Lopes disse-nos que era o Sr. Director que nos chamava. " Olha Lopes! Dizes ao Sr. Director que já não nos conseguiste ver.Se disserres o contrário, levas nas fuças".
O Lopes lá voltou atrás, cabisbaixo. No dia seguinte, na aula de Física - era sempre na aula de Física, vá-se lá saber porquê! - fomos informados para irmos ao Gabinete do Sr. Director.Lá fomos nós com o credo na boca e negámos que O Sr. Lopes nos tivesse informado. " Eu juro que não vi o Sr. "Lopes , Sr. Director- disse o Rui. Eu também juro - reforcei.
Não sei se por telefone ou se por campainha, mandou chamar o Sr. Lopes.Quando o Lopes entrou, foi fuzilado por quatro olhos, com bombas de napalm.
Então Sr. Lopes, diga-me lá:" Estes meninos não o ouviram chamar?". Ó Sr. Director, eu chamar chamei, agora se me ouviram, já não sei, pois eles já iam lá longe e nunca olharam sequer para trás.
O Sr.Director levantou-se , deu duas volta à sala pensativo e disse: " Bom! Não gosto de castigar ninguém na dúvida, por isso, desta vez passa".
E assim nos safámos de um castigo. Isto só é próprio dos Homens de grande carácter e de sentido de justiça.
Luís Carvalho
Só um homem da grandeza intelectual e da simplicidade do Dr. Hirondino Fernandes poderia ter produzido este texto extraordinário!
ResponderEliminarQueira aceitar os meus humildes cumprimentos.
Júlia Ribeiro
Não posso deixar de expressar o meu enorme apreço ao Leonel Brito pelo seu imenso trabalho na divulgação de todos os aspectos da cultura transmontana.
ResponderEliminarUm grande abraço
Júlia