Torre de Moncorvo nasceu por vontade de D. Dinis, no âmbito da criação das chamadas “vilas novas”, processo iniciado por seu pai, D. Afonso III, promoveu a edificação de um pólo populacional proto-urbano nesta parcela do território transmontano. Com esta medida, datada de 1285, Moncorvo herdava o termo anteriormente vinculado a Santa Cruz da Vilariça, antiga cabeça de Terra da região, e instituía-se como principal sede administrativa e militar da zona.
O seu castelo começou a edificar-se logo após a atracção dos primeiros moradores ou em data muito próxima. Em 1295, dez anos depois do documento de criação, o próprio rei faz referência ao castelo, pressupondo-se, assim, que as obras já estariam em curso. Apesar das múltiplas fases de destruição por que a fortaleza passou, é ainda possível reconstituir o seu aspecto geral original. Assim, a cerca definia um povoado de perfil oval, tão característico das vilas muralhadas góticas, que integrava quer a povoação, quer o castelo. Três portas permitiam o acesso ao interior da cerca, de que se destaca a inexistência de qualquer abertura no final da Rua Direita, que terminava num grande torreão quadrangular. De acordo com Carlos d’Abreu, não é impossível que aí existisse uma passagem original, mas “os documentos conhecidos não a referem e a muralha é hoje inexistente nessa zona”. As principais portas situavam-se a Norte e a Nascente (São Bartolomeu e Nossa Senhora dos Remédios, ou da Vila) e eram flanqueadas por duas torres circulares. Uma terceira, localizada do lado Sul, estava anexa ao castelo, sendo defendida directamente por este e dando serventia ao principal reduto defensivo da vila.
O castelo propriamente dito era de planta quadrangular algo irregular, e integralmente construído em granito, por oposição ao xisto da muralha, o que denota uma maior preocupação pela qualidade e durabilidade da construção. Localizava-se no topo poente da povoação e as suas muralhas interiores estavam livres de quaisquer edificações, o que lhe assegurava total independência em caso de invasão da povoação. A reconstituição de António Júlio ANDRADE, 1990, p.250, baseada num antigo desenho da estrutura, realizado em 1815, assegura que a fortaleza tinha duas torres, uma voltada ao interior e a outra ao exterior, enquanto que uma porta de arco abatido, voltada a nascente, permita o acesso ao recinto. Desconhecemos, todavia, se esta configuração seria a original, ou se, em alternativa, correspoderia já a uma posterior campanha de obras, das muitas por que passou a vila de Torre de Moncorvo ao longo dos séculos.
Com efeito, foram várias as fases de reconfiguração e destruição da fortaleza medieval. De 1337 é um contrato entre a Câmara e dois pedreiros para a construção de uma barbacã, dispositivo frequente na Baixa Idade Média que pretendia dotar as fortificações (ou parte delas) de uma segunda linha de muralhas, mais baixa, mas de inegável valia. Em 1376, decidiu-se edificar oito torreões quadrangulares, empresa que conferiu à estrutura as doze torres que constam da reconstituição de Andrade. Mas estas terão sido as últimas obras de engrandecimento da fortaleza. Em 1530, já se refere que a sua cerca está “derribada” e, apesar de se terem realizado algumas obras nos finais do século XVI, a verdade é que nos séculos seguintes pouco ou nada se fez para reverter a lenta decadência da estrutura.
Em 1721 noticia-se o derrube de algumas portas e partes da cerca e o século XIX foi desastroso para a sua história. Em 1842, a Câmara Municipal já o considerava irrecuperável e, porque se localizava entre a vila velha e a nova, cujo acesso só era possível por uma estreita e íngreme artéria, o município projectou a sua demolição. Toda a zona foi, então, rebaixada e construídos novos edifícios públicos, demonstrando-se, desta forma, a modernidade do projecto camarário, que englobava ainda a constituição de um quartel, nunca efectivada.
Fotos Lb
Para publicarem,transcrevi:
ResponderEliminarEntrevista da arquitecta Ana Rodrigues, funcionária da Câmara Municipal de Moncorvo
“ VERÃO TOTAL” – 12-09-2013
Sónia - Cumprimentou e pediu para fazer uma observação geral.
Arquiteta- " Estamos na zona mais antiga de Torre de Moncorvo, a Zona Medieval, e aonde nos encontramos existia a zona da alcáçova, onde existiam as torres de menagem e a casa do castelão. Esta zona foi a zona primitiva que teve o seu início no séc. XIII com o foral de D. DInis, e esteve a uso, digamos assim, até ao fim do séc. XIV. Aquando da consolidação do território, já foi possível sair para fora das muralhas e então é que se dá a expansão a partir do fim do séc. XV, início do séc. XVI.
Sónia- E o local aonde nos encontramos era certamente um dos mais seguros.
Arquiteta- " Era, era, era o local mais seguro, onde havia aqui as torres e havia a Alcáçova que tinha dois torreões que, entretanto, foram destruídos com o advento do automóvel, a necessidade de alargar os arruamentos. Foram destruídos e agora estamos confinados aqui a esta planta pesoidal e onde está previsto implantar um museu naquela rua do castelo, onde se pretende dar a conhecer a história do castelo, utilizando meios audiovisuais e também escritos para que os locais, e quem nos visita, fiquem a conhecer as origens de Torre de Moncorvo.
Sónia - "As escavações arqueológicas ainda decorrem?"
Arquiteta - " Neste momento não, fizemos 5 sondagens, aliás encontrámos uma cisterna e uma muralha antiga que servia a muralha primitiva que era em xisto. No tempo de D. Fernando, manda reforçar o castelo porque na altura ainda andávamos em guerras e era uma linha importante de defesa, daqui do concelho de Torre de Moncorvo.
Sónia- A própria origem do nome Torre de Moncorvo também tem a sua história, não é? De onde vem o nome?
Arquiteta - " Segundo a lenda, portanto Moncorvo teve o seu início em Santa Cruz da Vilariça, que era concelho e teve foral de D. sancho em 1225. Entretanto aqui, Moncorvo já estaria no limite desse concelho e haveria aqui uma torre que seria do senhor Mendo Corvo e teria um corvo e depois entra a história da esposa. Ele quis testar a sua fidelidade e se ela conseguisse guardar um segredo, e então contou-lhe a história que o corvo teria tido, segundo julgo saber, estaria a chocar uns ovos, e a notícia correu e, como era impossível, ele então já sabia.
Sónia- De onde estamos, podemos observar a Igreja Matriz. Tem sofrido obras de requalificação?
Arquiteta- Desde que começou a ser construída até à actualidade, teve sempre com obras de requalificação, mas no séc. XX sofreu obras de requalificação.
Sónia- Se eu lhe pedisse uma visita guiada começaria por onde?
Arquiteta- O Museu do Ferro, único exemplar no país, que é o espólio das Ferrominas, depois a Oficina Vinária que é um museu particular e que tem, onde está patente o processo de fabricação do vinho. Depois o Centro de Informação Turística, ou seja, o Posto de Turismo, onde foi posto à vista um traço da muralha e uma fosso que as pessoas podem observar. Nós estamos aqui, não temos a noção que isto tinha uma cerca à volta e que posteriormente as casas foram-se encostando, já tinham uma parede, e só se precisavam de fazer 3 paredes. E então em várias habitações já estão colocadas à vista traços de muralha, o que dignifica e dá a conhecer o património que temos e é importante.
Não é verdade,ela não disse tal.Há cópias do programa ou é mais uma manipulação de alguém que quer denegrir a Câmara e serve-se destes episódios.E nem assim ganham.
ResponderEliminarmoncorvense
António Baptista Lopes escreveu: O rei lavrador ligado a uma das mais belas vilas transmontanas
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