LARINHO -2011 |
Numa manhã, apresentou-se no edifício das
telecomunicações de Moncorvo o encarregado do posto do telefone público do
Larinho. Nem deu os bons dias.
O funcionário estranhou e disse : - Bom dia, vem com
cara de poucos amigos.
- Que cara havia eu de trazer, se todos os meses fico
roubado na conta do telefone?
- Mas fica roubado como? Quem é que o rouba?
- Sei lá? Os funcionários das telecomunicações são todos
uns ladrões, uns vigaristas...
- Ora, então diga-me lá porquê .
- Ainda pergunta porquê? Ao fim do mês tenho um prejuizo
enorme com o raio da posto telefónico.
- Isso é porque alguém telefona e não paga. Pegue no papel que todos os meses lhe é
enviado, verifique as contas e exija que quem telefona, pague .
- E de que me vale o papel e exigir ... Eles nem sabem
ler e ainda ficam de mal comigo. Só sei
que todos os meses são cem mil reis ou mais que me saem do meu bolso p’ro
catano do telefone. Quero aquilo dali
p’ra fora, já disse. E o mais rápido possível.
Dado o recado, desandou furibundo.
O Camané então conta:
- A minha equipa – dois colegas e eu - estávamos a trabalhar na estação automática de
telecomunicações no Felgar e recebemos um telefonema da central de Moncorvo
para largarmos o que estávamos a fazer e irmos ao Larinho remover o telefone do
posto público.
- Vá, sois vós quem está mais perto. Ide lá já e retirai
o telefone. E nada de discutir com o homem, que ele estava furioso.
Largámos o trabalho, metemo-nos os três na Renault 4 e
fomos ao Larinho.
- Então quer mesmo o telefone retirado?
- Quero, maldita hora em que o deixei cá pôr. Estou farto de ladroagem.
- Pronto, pronto, não se enerve. É p’ra já.
Retirámos os cabos , o telefone, o fiscalizador,
enquanto o homem continuava a insultar a torto e a direito.
Quando regressávamos ao Felgar, ao cimo do povo, junto à
capela de Santa Luzia, estava o presidente da Junta de Freguesia do Larinho que
nos obrigou a parar e, como se fosse dono do mundo, berrou:
- Alto aí, rapazinhos. O que é que andastes a fazer?
Donde vindes? (Em terras pequenas sabe-se tudo mais depressa do que pelo
telefone).
- Nós vimos do posto público telefónico. Fomos retirar o
telefone.
- E quem vos deu ordens para retirar o telefone?
- A ordem veio de
Moncorvo, porque o encarregado do posto público quer o telefone retirado
de lá.
- Aqui quem dá ordens sou eu. Eu e mais ninguém.
- Nós trabalhamos para as telecomunicações e o resto não
nos interessa.
- Aqui só recebem ordens de mim e ... sei lá quem vós
sois? Aproximou-se da janela do carro e o cheiro a vinho era de tombar para o
lado.
- Quero os nomes de vós quatro.
- Quatro? Mas nós somos três.
- Sois quatro, que eu bem vos vejo. E não admito brincadeiras.
Nós éramos realmente três. Demos os nossos nomes que o
presidente da junta do Larinho, com muito custo, foi escrevendo.
Depois meteu a cabeça no carro e apontou para um lugar
no banco de trás:
- Aí tu, seu malandro, não queres dar o nome? Pois vais
já para o chilindró.
Foi então que o Camané percebeu que o homem se referia
ao aspirador que estava no banco de trás.
É que o Camané, num dos seus muitos dias de inspiração
artística, havia desenhado dois olhos e uma boca no aspirador.
Se à pintura naïf juntarmos o palpite do Sr. Presidente da
Junta de Freguesia do Larinho, encontramos o 4º homem.
Leiria, 17, Novº 2013
Júlia Ribeiro
Interessante de facto o conto (talvez verídico), pois ainda não há muitos anos o Presidente de Junta era uma autoridade bem respeitada. Pegando agora na história do telefone púiblico, acredito que o homem de Larinho (conheço a Freguesia) se calhar tinha razão na conta que era costume pagar. Mas também convém lembrar que, se calhar os CTT (da altura hoje TELECOM) não seriam culpados da dita conta. Dado que, sempre houve e continua a ver oportunistas. Assim como à milhares e milhares de pessoas a subtrair a rede eléctrica sem pagar (por isso também estamos a pagar a energia mais cara), também há quem tente telefonar sem qualquer pagamento.
ResponderEliminarOlá,Querida
ResponderEliminarNesta tarde cinzentona e fria,nada melhor que ler mais uma "história"(neste caso verídica) da nossa estimada Julinha.Muito obrigada por mais estes momentos de boa disposição.
Beijinhos de grande amizade da :
Irene