sexta-feira, 28 de junho de 2013

Nós Trasmontanos Sefarditas e marranos – 26

TORRE DE MONCORVO
Manuel Rodrigues Isidro. Porventura nunca em Torre de Moncorvo se assistiu a uma tão intensa luta política como nos anos de 1600. As forças em presença podemos seguramente designá-las de “partido dos marranos” e “partido da inquisição”. A liderar o partido dos marranos encontrava-se Manuel Rodrigues Isidro. E a luta ganhou tal intensidade que incluiu processos judiciais, assassinatos políticos, arruaças sem conta e cenas de pancadaria. Uma dessas cenas desenrolou-se no dia 17 de Maio de 1599 na Rua dos Sapateiros, à porta de Manuel Rodrigues Isidro que dela saiu com o dedo de uma das mãos decepado e possivelmente ali perderia a vida se não fosse tão lesto a recolher-se em casa, com a preciosa ajuda dos familiares. Outro episódio desenrolou-se em Madrid onde um fidalgo cavaleiro Moncorvense da ordem de São Tiago e líder do tal “partido da inquisição” assassinou um cunhado de Manuel Isidro. E destes e doutros episódios resultou a prisão de uns 9 homens das famílias mais nobres de Torre de Moncorvo, incluindo o presidente e os vereadores da câmara, assim como um familiar da inquisição. Presos com “baraço e pregão”, que o mesmo é dizer que foram presos e passeados pelas ruas da vila com uma corda atada ao pescoço, acabando alguns desterrados para o Brasil e outros para o couto de Castro Marim. Claro que, pertencendo eles a famílias poderosas, tinham muitos amigos nas altas esferas do poder e juravam que a vingança haveria de ser terrível. E que melhor palco havia para executar a vingança do que o tribunal da inquisição? Não eram as suas escuras e húmidas masmorras bem mais difíceis de suportar do que quantos desterros havia?


No regresso de uma viagem por Madrid e Lisboa passando em Coimbra, a caminho de Torre de Moncorvo, no dia 1º de Dezembro de 1618, Manuel Rodrigues Isidro fo efectivamente preso pela inquisição, acusado de se ter declarado seguidor da crença judaica, segundo tinha declarado uma testemunha. Nada se provou e, passados 5 anos, foi posto em liberdade sem que lhe tivesse sido decretada qualquer punição e sem comparecer em qualquer auto de fé! E isto nos convence ainda mais que se tratou de uma prisão baseada em razões políticas e não religiosas. Devolvido à liberdade, não mais voltaria a Torre de Moncorvo e nem sequer se demorou em Portugal. Antes se meteu a caminho da Flandres e foi tomar residência na cidade de Amesterdão onde se fez circuncidar e abraçou abertamente a lei judaica tomando o nome hebreu de Isaac Baruch. Halévy informa que depois ele se passou à Alemanha fixando residência na cidade de Hamburgo e ali terá sido um dos 20 fundadores do primeiro banco que houve no mundo. O mesmo biógrafo alemão transcreve os dizeres da sua lápide sepulcral encontrada no cemitério judaico de Hamburgo, nos seguintes termos: - Sepoltura do benaventurado y honrado Ymanoel Baruch. Faleceu a 6 fra 18 de Nisan. Ano de 5402. Sua alma goze da goria. Ou seja: faleceu em 18.4.1642.
Voltemos atrás, ao tempo de sua prisão. Manuel tinha então 43 anos e estava casado com Alda Cardoso e eram pais de 3 filhos e 7 filhas. Era dono de muitos bens de raiz: 4 ou 5 casas e várias propriedades agrícolas em torre de Moncorvo, destacando-se uma formosa parcela de terreno atrás das casas conhecido por Olival das Bolas, com seu monumental chafariz de horta. Tinha também olivais por longes terras como era um na vila de Lamas de Orelhão, para lá de Mirandela. E era o dono da Quinta de Meireles (hoje uma freguesia do termo de Vila Flor) que trazia arrendada por uma dezena de lavradores que em cada ano lhe pagavam 315 alqueires de pão e trigo, 7 galinhas e 4 carneiros. E tinha tulhas em muitas terras de Trás-os-Montes pois ele era rendeiro da Comenda de Mascarenhas e trazia arrendadas as Terças de toda a comarca de Torre de Moncorvo que abrangia uns 26 concelhos de Trás-os-Montes e Alto Douro. Sim, que a sua profissão era a de rendeiro. Mas tinha também interesses no porto e em Madrid, trabalhando com os irmãos, especialmente com Vasco Pires Isidro, em uma rede familiar de negócios. Por isso mesmo que Markus Schreiber coloca estes dois irmãos entre os “banqueiros do rei” de Espanha.
 António Júlio Andrade
Veja todos os artigos de António Júlio Andrade em: http://marranosemtrasosmontes.blogspot.pt/

2 comentários:

  1. Maria Adelaide Madeira escreveu: Onde é que se pode investigar os nomes destas linhagens quer em Monc. quer em Freixo? Agradeço desde já a quem me possa ajudar.

    ResponderEliminar
  2. Como investigar origens das famílias Pires e Salvador?

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.