MTI vai construir barcaças para escoar o minério pelo rio
Douro e oceano Atlântico até ao porto de Aveiro, o que foi considerado pela
empresa ferroviária como uma "desconsideração"
A via fluvial ou um mineroduto. O transporte ferroviário
está fora de questão. São estes os cenários propostos pela MTI - Ferro de
Moncorvo SA para o escoamento do minério desde Trás-os-Montes até ao porto de
Aveiro.
O minério extraído das minas de Carviçais (Torre de
Moncorvo) será transportado em camiões até ao porto fluvial de Pocinho e daí
seguirá por barcaças pelo rio Douro e pelo oceano até ao porto de Aveiro, onde
a carga será transbordada para navios graneleiros.
Mas é no Pocinho, mesmo ao lado do porto fluvial, que se
situa uma das pontas da rede ferroviária nacional na qual a CP Carga dispõe até
de um terminal de mercadorias com espaço suficiente para ser ampliado.
"Estranhamos toda a desconsideração do modo
ferroviário, a favor do modo de transporte por via fluvial, desde há muito
considerado no projecto", disse ao PÚBLICO fonte oficial da CP Carga.
Esta empresa diz que foram desenvolvidos muitos contactos
com a MTI e com consultores, a partir dos quais se "procedeu à
caracterização das necessidades de prestação de serviço de transporte do qual
resultou a apresentação de propostas considerando o Pocinho como origem e os
vários destinos identificados à data" que eram Leixões, Aveiro, Sines,
Corunha, Vigo e Gijon.
"Desde então, aguarda a CP Carga o contacto dessas
empresas no sentido de se poder programar o início do transporte com a marcação
dos canais horários e afectação dos meios necessários à sua
concretização", disse a mesma fonte.
Esta versão, contudo, não é confirmada pela MTI, à qual o
PÚBLICO perguntou se tinha feito contactos com a CP Carga e com a Refer. Luís
Rosendo limitou-se a dizer que "a MTI recorreu à informação necessária e
suficiente para não considerar, nesta fase, a hipótese da ferrovia".
Para a empresa mineira, "a linha do Douro é uma
infra-estrutura subdimensionada", pelo que a opção ferroviária, a existir,
implicaria a construção de uma nova via férrea que ligasse o Pocinho à linha da
Beira Alta, em Vila Franca das Naves, por forma a facilmente se chegar ao porto
de Aveiro. Um investimento de 150 milhões de euros, com vários túneis e
viadutos e com a dificuldade acrescida de parte do canal que lhe estava
reservado já ter sido parcialmente ocupado pelo IC2.
Essa linha, de 50 quilómetros, tem um custo demasiado
elevado comparado com o investimento na construção de barcaças que, segundo a
MTI deverão ser adjudicadas a estaleiros portugueses. Por quanto? A empresa diz
que não sabe porque o assunto ainda está a ser estudado.
Quanto à linha do Douro, a sua electrificação entre Marco e
Pocinho e a construção de desvios com 750 metros para que neles pudessem cruzar
comboios com esse comprimento custaria cem milhões de euros.Mas este
investimento poderia, ainda assim, não satisfazer a empresa mineira, porque os
comboios que ali circulariam não poderiam transportar mais do que 2500
toneladas. Parece muito, até porque em Portugal os comboios de mercadorias mais
pesados (entre Sines e a central do Pego) transportam 2250 toneladas, mas uma
exploração mineira depende muito da capacidade de escoamento do minério
extraído. Na Suécia há composições de minério com 9000 toneladas. E na
Austrália há comboios com mais de 30.000 toneladas.
Excluídos os carris, resta o rio Douro e o atravessamento
das suas cinco eclusas. Um estudo da Consulmar diz que os investimentos
necessários para transformar o rio numa via navegável para as barcaças com
minérios rondariam os 55 milhões de euros, dos quais 25,5 milhões seriam gastos
em dragagens, 19,5 milhões na melhoria das eclusas e 9,5 milhões em
assinalamento marítimo e controlo de navegação.
Desta forma, diz esse estudo, é possível transportar 3,4
milhões de toneladas por ano, um número que triplica se se criarem condições
para o Douro ser navegável também durante a noite.
A Consulmar diz ainda que não é significativa a quantidade
de água perdida nas barragens pela passagem intensiva de navios nas eclusas.
Contactada pelo PÚBLICO, a EDP confirma. Diz que "o volume total de água
desviado seria sempre insignificante face aos volumes de água
armazenados". Mas já em relação à perda de energia, diz que "os
valores em causa já não serão tão despiciendos", sobretudo na barragem de
Crestuma-Lever por ser a última do Douro e onde a água perdida correrá imediatamente,
sem outro aproveitamento, para o mar. Questionada pelo PÚBLICO, a Refer disse que nunca foi
contactada pela MTI.
PÚBLICO - CARLOS CIPRIANO 11/06/2013
Júlia Guarda Ribeiro escreveu:Seria fantástico que arranjassem maneira rápida de escoar o ferro. Moncorvo poderia, finalmente, sair do marasmo em que vive.
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