Visitar a pré-história no Museu do Côa
Em 1997, Portugal classificava a arte do Vale do Côa como
Monumento Nacional. No ano seguinte, foi a Unesco a considerar o achado
Património Mundial. Para trás ficava o projeto de construção de uma barragem
no Baixo Côa, que se tivesse avançado deixava debaixo de água um dos maiores
testemunhos dos nossos antepassados.
Há dez anos, arrancava a construção do Museu do Côa.
Abriu portas três anos depois e hoje é uma referência internacional, com mais
de 40 mil visitantes por ano, em média.
A ideia dos arquitetos era fazer um miradouro. Um palco que
permitisse ver uma paisagem classificada duas vezes: o Alto Douro Vinhateiro e
o Parque Arqueológico do Vale do Côa. A obra, em betão com a cor e
a textura do xisto, não desilude!
Logo à chegada, é a paisagem que prende o olhar e suspende a
respiração; o Vale do Côa, com o rio que segue sereno e uma traquilidade
pouco habitual a quem chega da cidade.
Imaginamos os nossos antepassados a caçar nas margens e a fazer
aquilo que nos traz ao museu: verdadeiras obras de arte, cravadas no xisto há
mais de 20 mil anos! "Não sei se conseguem 'encaixar' o que é que são 20
mil anos. Quando nós dizemos que as pirâmides do Egito são muito antigas e
têm 5 mil anos, nós estamos muito mais perto das pirâmides do que as pirâmides
estão destas gravuras", faz questão de sublinhar António Jerónimo, um dos
guias do museu.
Na verdade, este espaço não é 'apenas' um museu; é uma
viagem no tempo. "Há gravuras aqui no Côa, e pinturas, de quase todos os
períodos da pré-história até aos nossos dias. Do paleolítico superior, passando
pelo neolítico, pelo calcolítico, pela idade do ferro, dos séc. XVI, XVII até
às figuras do moleiros do séc. XX."
"A maior parte das figuras representa animais de
médio/grande porte, cabras, cavalos, os veados e o auroque que era uma
'besta' de um touro que tinha mais de dois metros de altura", explica
António Jerónimo ao avançar pelas salas com ecrãs onde vão passando imagens de
algumas dessas gravuras. Há casos em que "só é possível ver a réplica no
Museu, uma vez que a rocha original não está acessivel aos visitantes".
O museu propõe ao longo da visita uma viagem virtual e
interativa sobre o Vale do Côa. Há também instrumentos e armas usados na
pré-história e não falta a cabana de peles, a grelha de secar o peixe ou
a fogueira que estava sempre por perto.
Um corredor com figuras florescentes em azul e vermelho
leva o visitante a uma outra sala onde a História é mais recente. As
gravuras são da idade do ferro e representam já figuras humanas.
A terminar a visita, a sala da arte intemporal apresenta uma
instalação de Alberto Carneiro. Em forma de mandala, com tronco ao centro,
o trabalho apresenta em redor quatro placas de xisto gravadas: Arte-Vida,
Natureza-Cultura. Um resumo do Museu do Côa.
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