domingo, 28 de dezembro de 2014

DO CULTO DOS MONUMENTOS À POLÍTICA DO PATRIMÓNIO, por António Ponte

No contexto europeu oitocentista, o fenómeno monumental tornou-se uma realidade incontornável na área da cultura. Nas palavras plenas de atualidade de A. Riegl (1858-1905), este fenómeno configura um verdadeiro culto. Segundo a teorização de Riegl, os critérios em que se apoia o culto monumental oscilam entre a intenção e a receção, ou seja, entre os monumentos criados para permanentemente lembrarem alguém ou alguma coisa e aqueles cuja significação monumental constitui uma aquisição resultante do modo como as mensagens de que é portador são percecionadas pelos indivíduos num dado momento histórico. A publicação que ora temos a honra de apresentar estrutura-se a partir de monumentos cuja significação monumental decorre, justamente, da receção / perceção: os monumentos são-no na medida em que, no tempo presente, a(s) sua(s) mensagem(ns) são significantemente atualizadas. Eis o como e o porquê dos monumentos se constituírem em trama para uma infinidade de narrativas. Com a publicação do presente livro - dedicado aos monumentos do Vale do Douro - cumprimos o propósito de demonstrar que a relação com a(s) Pessoa(s) e a estima que nela se constrói e fortalece, é uma verdadeira seiva que mantém vivos os monumentos / património.
O presente livro dá pois rosto a uma política do património; política que se faz com e para a(s) Pessoa(s) e as Comunidades.
 No exercício da missão que legalmente lhe foi confiada nos termos do Decreto Regulamentar n° 114/2012, de 25 de maio «A Direção Regional de Cultura do Norte tem por missão, na respetiva circunscrição territorial e em articulação com os organismos centrais da Secretaria de Estado da Cultura, a criação de condições de acesso aos bens culturais, o acompanhamento das atividades e a fiscalização das estruturas de produção artística financiadas pelo Secretaria de Estado da Cultura, o acompanhamento das ações relativas à salvaguarda, valorização e divulgação do património arquitetónico e arqueológico e, ainda, o apoio a museus», entendemos dever ter sempre presente que «... o essencial não está na conservação do que é material e visível. O que torna o quotidiano ainda habitável e poético são as artes, inúmeras e secretas, da memória e do esquecimento.  Que as narrativas que publicamos possam suscitar e renovar o envolvimento da(s) Pessoas(s) com os seus monumentos.
O Diretor Regional
António Ponte
Abril 2014

Fonte: "ONDE NADA SE REPETE" - crónicas à volta do património.

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