O que mais me impressionou neste vídeo foi a forma
calma, serena, como a Dona Sofia Gaspar falou. Distanciada no tempo, dirá o
leitor. Não, não só. Há uma total
resignação e aceitação dos factos vividos, como se não tivesse consciência dos
direitos que, como ser humano, lhe assistiam. E mais, como parturiente,
aceitava como natural, o facto de ter de parir os filhos sozinha, sem qualquer
tipo de assistência médica ou outra.“ …ia buscar uma tesoura e linhas e ia para
o quarto… e lá me amanhava”.
Controlo de natalidade? Mas o que era isso? Filhos?
Vinham os que Deus queria. Era a
fatalidade. Era o destino dos pobres.
Nesse tempo vivia-se em ditadura. A mulher nem
precisava de saber ler. E mesmo o homem,
quanto menos estudos tivesse, menos pensamento crítico… O que convinha a quem
governava.
Mas onde é que eu já ouvi isto bem recentemente?
Vejamos:
.Hoje, a educação é cada vez menos pública, o que
quer dizer, cada vez mais pesadamente paga (pelos pais e por todos nós).
Consequência: forte abandono escolar.
. O trabalho é cada vez mais escasso, o desemprego
sobe em flecha; daí salários cada vez mais baixos. Objectivo: trabalhadores
mais obedientes e passivos.
. Os jovens licenciados, com mestrados e
doutoramentos, cuja formação ficou caríssima ao país ( a nós todos) vão dar o
rendimento do seu trabalho a países estrangeiros.
. A informação que temos – jornais, programas
televisivos – é cada vez mais manipulada a fim de obter mentes formatadas de
acordo com os desígnios de quem nos governa.
. A saúde !
Deixei a saúde para o fim, porque é o bem que mais prezamos. Pois a saúde está
cada vez menos pública, ou seja, cada vez mais privada e, obviamente , cada vez
mais cara. Escasseiam já medicamentos para certas doenças e que os pobres
(somos cada vez mais e cada vez mais pobres) não podem pagar. Consequência :
alargar cemitérios e ter cada vez menos filhos.
Agora cabe uma pergunta: será que não estamos já a
assistir a um modo de vida em que um club restrito de muito ricos tudo possuem
e em todos mandam, mesmo nos políticos, na justiça, na informação? E nós, os
trabalhadores mal pagos, os pensionistas, os sem-emprego, que não temos o
cartão do club, ficamos de fora. Isso tornar-nos-á tão obedientes e passivos
como em ditadura? Irão as minhas netas,
um dia, viver a situação de mães a parir um filho como a Dona Sofia ? “ …Fui buscar uma tesoura e umas linhas e lá
me amanhei…”
Não ! Prefiro pensar que ninguém lhes subjugará a
mente e um dia dirão : BASTA!
Leiria, 17 de Março de 2013
Carlos Areosa escreveu:Impressionante!
ResponderEliminarBeatriz Martins escreveu: Este vídeo faz pensar e muito, trabalhei no Hostital de São João no Porto, no início da minha carreira de educadora de infãncia, na pediatria A, não vos descrevo o que vi porque iria fazer-vos chorar. Também estive oito dias agora no hospital de Bragança, tentando ajudar na partida de meu pai, MY GOD!... qundo a família é quentinha e bem resolvida eu preferido o amor à técnica e hoje fico por aqui para não ser inconveniente. A senhora é linda.
ResponderEliminarAmélia Rocha Correia escreveu: Espero que as coisas melhorem e o mundo não seja só par os ricos...
ResponderEliminarImpressionante, sem dúvida!
ResponderEliminarParabéns!
Isabel
É de estarrecer.
ResponderEliminarO relato desta senhora arrepiou-me. Ainda estou abalada. O texto é muito bom.
ResponderEliminarUm abraço para a Dona Sofia e outro para a Dona Julia.
Ana Sofia
A minha colega Ana Sofia já escreveu o que sentiu, mas quer que eu diga qq coisa. Eu fiquei com um nó na guarganta.
ResponderEliminarTambém os meus avós sofreram muito. Que Deus os compence a todos.
Kátia
A Cátia diz que ficou com um nó na garganta, eu também. Tenho a certeza que gente nova não entende e nem acreditará. Inch Alá que não venham a viver situações de miséria extrema como a Dona Sofia Gaspar. O texto é notável. Minha senhora, continue a escrever assim e nunca as mãos lhe doem.
ResponderEliminarA.S.Dias
ONTEM foi assim.HOJE,felizmente,tudo melhorou.Tenhamos esperança de que AMANHÃ as futuras mães não tenham de se "amanhar"com tesoura e linhas como muitas pobres mulheres faziam no passado.
ResponderEliminarBelo texto,Julinha.Mas eu sou optimista:já não nos deixamos vergar.Lá diz a canção:"o povo é quem mais ordena" ...
Abraço.
Uma moncorvense
Simplesmente surreal!
ResponderEliminarTempos distantes,que espero e desejo não se voltem a repetir.
Bem haja,querida Julinha,pela coragem que tem ao abordar estes temas.
Beijinhos.
Irene