Os Galandum Galundaina, com Manuel Meirinhos à direita, como tamborileiro ADRIANO MIRANDA |
Um grupo de músicos, artesãos e etnomusicólogos da região do
planalto mirandês deram início ao processo de "padronização" da
flauta pastoril e do tamboril para que estes dois instrumentos possam ser
tocados por vários tamborileiros em uníssono.
"O processo vai permitir que um conjunto de
tamborileiros consiga tocar estes instrumentos em grupo e ao mesmo tempo,
criando assim uma única unidade melódica. Desta forma os tocadores utilizarão o
mesmo modelo de flauta com a mesma afinação, o que não tem acontecido ao longo
dos tempos", disse à Lusa Paulo Meirinhos, instrumentista do grupo de
música tradicional Galandum Galundaina.
O tamborileiro é um instrumentista que executa
coordenadamente dois instrumentos musicais, a flauta pastoril e um tamboril.
Tocados em simultâneo acabam por se "fundir" num só "provocando
uma sonoridade única", dividida entre a parte rítmica (tamboril) e a parte
melódica (flauta).
O processo de "padronização" dos instrumentos vai
permitir a sua divulgação e ao mesmo tempo a sua utilização por novos músicos,
para que esta arte musical secular e ligada à pastorícia transmontana não se
perca. "Temos a convicção de que este conjunto de instrumentos não vai
sair descaracterizada, antes pelo contrário, vai dar uma nova vitalidade aos instrumentistas
que queiram praticar esta arte musical", frisou.
Por seu lado, Mário Correia, etnomusicólogo e director do
centro de música tradicional Sons da Terra, refere que este processo "não
vai tirar as características únicas de um instrumento de raiz tradicional".
"O importante é que o processo de padronização respeite a 'tímbrica'
mirandesa e a sua identidade e, ao mesmo tempo, que a opção da escolha da
flauta pastoril não seja apenas pela 'estética' da mirandesa, mas de um modelo
reconhecido por todos os instrumentistas", acrescentou o especialista.
A raia nordestina alberga uma forma única da expressão da
música tradicional, que corre "um sério" risco de desaparecer: a
protagonizada pelo secular tamborileiro, uma espécie de músico "dois em
um". Apesar de rudimentares, estes dois instrumentos requerem
"prática e conhecimentos", já que nem todos os músicos que os
executam de forma "coordenada".
A tradição era a de estes músicos dividirem a sua actividade
musical em duas partes. Durante o ciclo pastoril tocavam apenas a flauta por
ser um instrumento melodioso que não assustava o gado. Já num ambiente mais
festivo, era-lhe associado o tamboril, que provocava um ritmo mais intenso e
alegre, o que permitia danças de roda, ou a exibição dos tradicionais pauliteiros
mirandeses.
Para além da região nordestina, há outra zona do país onde
ainda resistem alguns tamborileiros: a localidade de Vila Verde de Ficalho, no
concelho alentejano de Serpa.
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