quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

"Moncorvo, Zona Quente na Terra Fria" (1974)

AO SUL DO DISTRITO


... riquíssimo vale da Vilariça
Pelos seus muitos problemas Moncorvo está numa «zona quente». Mas em termos climatéricos a verdade anda próxima desta expressão: parte do concelho encontra-se em terra efectivamente quente, brindada com um microclima mediterrâneo que lhe possibilita as amendoeiras, as oliveiras, o vinho (do Porto e de consumo corrente), os produtos hortícolas. O restante pertence à terra fria serrana, onde predominam os castanheiros e os carvalhos. Um técnico agrícola acrescentaria especiosos considerandos. Fiquemo-nos pelo esquema, que não é incorrecto.
A poucos quilómetros de Moncorvo há o riquíssimo vale da Vilariça, tão rico que o consideram uma «super-horta».
«É a região mais fértil do País» – garantiram-me.
Na Vilariça, parte da qual está no concelho de Moncorvo, dá-se de tudo. Já lá experimentaram algodão, imagine-se! Tem vinhas, amendoais, olivais, hortas, pomares, pastos, uma ribeira (da Vilariça) que desagua no Sabor, até um viveiro de trutas (possivelmente bogas, para não exagerarmos). Falaremos da «super-horta» mais de espaço.
 Com tudo isto, e mais os jazigos de ferro do Carvalhal, por ora praticamente parados, Moncorvo tem em potência o que um dia, reformadas as mentalidades, reestruturada a vida, desfeito os equívocos, virá certamente a ser de uma importância extrema para a economia nacional. O seu óbice – e padece dele claramente – é geográfico: fica ao sul do distrito de Bragança, afastado da ligação natural com o Porto, que passa por Macedo de Cavaleiros e Mirandela. Os próprios caminhos de ferro jogaram às escondidas com a vila, oferecendo-lhe a via reduzida da linha do Sabor, que vai do Pocinho a Duas Igrejas. Assim, um moncorvense que queira utilizar o comboio para o Porto tem de fazer 9 quilómetros em via reduzida e ir apanhar a via larga no Pocinho; para Lisboa, vai a Vila Franca das Naves. Ironicamente é a vila do distrito de Bragança mais próxima de
  Lisboa – e está a 400 e tal quilómetros dela (mas já tem uma carreira semanal de e para a capital).
Inquiri da cobertura sanitária do concelho. É como segue: um hospital concelhio (Hospital Dona Amélia) onde prestam serviço três médicos não especialistas e dois auxiliares de enfermagem não diplomados; esse hospital é subsidiário do Hospital Distrital de Mirandela, onde já há Raios X e serviços de Análises Clínicas. De Moncorvo a Mirandela são bem 60 quilómetros. Um politraumatizado, por exemplo vítima de queda de uma motoreta, está duas horas, no mínimo, entregue tanto aos cuidados médicos como à sua resistência física…
Na aldeia do Peredo abriram-me uns grandes olhos quando perguntei pelo médico. Nos Estevais, idem. Na Póvoa, pior. Conclua o leitor.
Com um pouco de paciência iremos conhecer Moncorvo por dentro, e não apenas a vila, mas algumas aldeias do concelho. Não pretendo ser exaustivo, nem podia sê-lo com uma estadia de uma semana; entretanto apercebi-me de coisas que a distância (e a ignorância) me escondiam de todo. Lá chegaremos por partes.

 "Moncorvo, Zona Quente na Terra Fria",    texto Fernando Assis Pacheco. “República” Março de 1974 ,"TORRE DE MONCORVO , Março de 1974 a 2009", de Fernando Assis Pacheco ,Leonel Brito, Rogério Rodrigues, edição da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo. 

1 comentário:

  1. Tenho o livro e fiquei encantado por nos mostrar como era Torre de Moncorvo nesse tempo.A Câmara devia editar todas as obras que contam a nossa história.
    G.

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