... riquíssimo vale da Vilariça |
Pelos seus muitos problemas Moncorvo está numa «zona quente». Mas em termos climatéricos a verdade anda próxima desta expressão: parte do concelho encontra-se em terra efectivamente quente, brindada com um microclima mediterrâneo que lhe possibilita as amendoeiras, as oliveiras, o vinho (do Porto e de consumo corrente), os produtos hortícolas. O restante pertence à terra fria serrana, onde predominam os castanheiros e os carvalhos. Um técnico agrícola acrescentaria especiosos considerandos. Fiquemo-nos pelo esquema, que não é incorrecto.
A poucos quilómetros de Moncorvo há o riquíssimo vale da Vilariça, tão rico que o consideram uma «super-horta». «É a região mais fértil do País» – garantiram-me.
Na Vilariça, parte da qual está no concelho de Moncorvo, dá-se de tudo. Já lá experimentaram algodão, imagine-se! Tem vinhas, amendoais, olivais, hortas, pomares, pastos, uma ribeira (da Vilariça) que desagua no Sabor, até um viveiro de trutas (possivelmente bogas, para não exagerarmos). Falaremos da «super-horta» mais de espaço.
Com tudo isto, e mais os jazigos de ferro do Carvalhal, por ora praticamente parados, Moncorvo tem em potência o que um dia, reformadas as mentalidades, reestruturada a vida, desfeito os equívocos, virá certamente a ser de uma importância extrema para a economia nacional. O seu óbice – e padece dele claramente – é geográfico: fica ao sul do distrito de Bragança, afastado da ligação natural com o Porto, que passa por Macedo de Cavaleiros e Mirandela. Os próprios caminhos de ferro jogaram às escondidas com a vila, oferecendo-lhe a via reduzida da linha do Sabor, que vai do Pocinho a Duas Igrejas. Assim, um moncorvense que queira utilizar o comboio para o Porto tem de fazer 9 quilómetros em via reduzida e ir apanhar a via larga no Pocinho; para Lisboa, vai a Vila Franca das Naves. Ironicamente é a vila do distrito de Bragança mais próxima de
Lisboa – e está a 400 e tal quilómetros dela (mas já tem uma carreira semanal de e para a capital).
Inquiri da cobertura sanitária do concelho. É como segue: um hospital concelhio (Hospital Dona Amélia) onde prestam serviço três médicos não especialistas e dois auxiliares de enfermagem não diplomados; esse hospital é subsidiário do Hospital Distrital de Mirandela, onde já há Raios X e serviços de Análises Clínicas. De Moncorvo a Mirandela são bem 60 quilómetros. Um politraumatizado, por exemplo vítima de queda de uma motoreta, está duas horas, no mínimo, entregue tanto aos cuidados médicos como à sua resistência física…
Na aldeia do Peredo abriram-me uns grandes olhos quando perguntei pelo médico. Nos Estevais, idem. Na Póvoa, pior. Conclua o leitor.
Com um pouco de paciência iremos conhecer Moncorvo por dentro, e não apenas a vila, mas algumas aldeias do concelho. Não pretendo ser exaustivo, nem podia sê-lo com uma estadia de uma semana; entretanto apercebi-me de coisas que a distância (e a ignorância) me escondiam de todo. Lá chegaremos por partes.
"Moncorvo, Zona Quente na Terra Fria", texto Fernando Assis Pacheco. “República” Março de 1974 ,"TORRE DE MONCORVO , Março de 1974 a 2009", de Fernando Assis Pacheco ,Leonel Brito, Rogério Rodrigues, edição da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo.
Tenho o livro e fiquei encantado por nos mostrar como era Torre de Moncorvo nesse tempo.A Câmara devia editar todas as obras que contam a nossa história.
ResponderEliminarG.