sábado, 1 de julho de 2017

Larinho, Torre de Moncorvo


SAUDAÇÃO
Este livro nasce de um desafio lançado pela professora Maria Amélia Madaleno. Eu apenas sugeri que fosse um trabalho coletivo e para isso transmiti o desafio a várias pessoas naturais do Larinho que conhecia no mundo da escrita. Não era eu, vindo de fora, que me atreveria a tão árdua tarefa. Sim, que livros deste tipo não podem ser escritos por um qualquer. Há coisas que só são apercebidas e só podem ser escritas por alguém que as aprendeu bebendo o leite materno na terra onde nasceu. Isso marca a nossa maneira de ser, o modo de cada um estar na vida. À expressão dessa cultura eu chamo literatura telúrica, porque crava as raízes na terra. Os homens são como a terra e como as árvores. Têm raízes na terra, têm a cor da terra e os que bebem a água das nascentes da sua terra e comem do pão que semearam são os verdadeiros possuidores da alma da terra com as suas belezas. A flor mais bonita, arrancada da terra, logo fenece. E há muita gente que nem sequer pensa que as flores têm raízes.
Numa época em que tudo convida as pessoas a esquecer as suas raízes na terra e a comunidade humana a que pertencem, transformando-se em nómadas acampados em apartamentos, gostaria que a "diáspora Larinhata" fosse um exemplo de amor à sua terra, de respeito pelos seus antepassados e paixão pelos valores culturais do passado coletivo.
Num mundo moderno em que a comunicação circula por invisíveis auto-estradas, imagino um emissor plantado no Larinho de onde enviamos este livro feito mensagem de amizade e gratidão para todos os que aqui nasceram mas foram dar a vida em chãos estranhos, dentro ou fora do País. Este livro pretende ser um meio de nos mantermos ligados uns aos outros, na emigração ou na "pátria pequena", uma oportunidade de continuarmos a viver o Larinho em qualquer parte do mundo. Sim, as aldeias, por vezes, também morrem. Mas nós não queremos que o Larinho morra.
A mais terrível das doenças será a de Alzheimer que, com a perda definitiva da memória, transforma as pessoas em meros seres vegetativos. O mesmo se passa com as terras, com as comunidades humanas que deixam de conviver. Mas nós não queremos que isso aconteça com a nossa aldeia. Nós queremos manter-nos fiéis aos nossos antepassados.
Miguel Torga escreveu que "o maior bem que se pode ter é o nome de Transmontano". Daniel de Sá, um Larinhato que foi emigrante no Brasil e que infelizmente já não está entre nós, pois foi ceifado pela morte na flor da vida, ensinou-me um maravilhoso poema que aqui deixo:
Trasmontenos? Sim, senhor!
Larinhatos? Pois então!
E exibo, de lavrador,
Com orgulho o meu brasão.

Do Reboredo ao Sabor
Há riqueza em profusão.
E há-de ver, quem lá for,
Azeite, vinho e feijão

Que produz o braço forte
Daquela gente do Norte,
Com merenda a pão e vinho,

Que tem por emblema o corvo.
É concelho de Moncorvo
 Freguesia do Larinho.

Larinho Abril de 2017
António Júlio Andrade




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