SAUDAÇÃO
Este livro nasce de
um desafio lançado pela professora Maria Amélia Madaleno. Eu apenas sugeri que
fosse um trabalho coletivo e para isso transmiti o desafio a várias pessoas
naturais do Larinho que conhecia no mundo da escrita. Não era eu, vindo de
fora, que me atreveria a tão árdua tarefa. Sim, que livros deste tipo não podem
ser escritos por um qualquer. Há coisas que só são apercebidas e só podem ser
escritas por alguém que as aprendeu bebendo o leite materno na terra onde
nasceu. Isso marca a nossa maneira de ser, o modo de cada um estar na vida. À
expressão dessa cultura eu chamo literatura telúrica, porque crava as raízes na
terra. Os homens são como a terra e como as árvores. Têm raízes na terra, têm a
cor da terra e os que bebem a água das nascentes da sua terra e comem do pão
que semearam são os verdadeiros possuidores da alma da terra com as suas
belezas. A flor mais bonita, arrancada da terra, logo fenece. E há muita gente
que nem sequer pensa que as flores têm raízes.
Numa época em que tudo
convida as pessoas a esquecer as suas raízes na terra e a comunidade humana a
que pertencem, transformando-se em nómadas acampados em apartamentos, gostaria
que a "diáspora Larinhata" fosse um exemplo de amor à sua terra, de
respeito pelos seus antepassados e paixão pelos valores culturais do passado
coletivo.
Num mundo moderno
em que a comunicação circula por invisíveis auto-estradas, imagino um emissor
plantado no Larinho de onde enviamos este livro feito mensagem de amizade e
gratidão para todos os que aqui nasceram mas foram dar a vida em chãos
estranhos, dentro ou fora do País. Este livro pretende ser um meio de nos
mantermos ligados uns aos outros, na emigração ou na "pátria
pequena", uma oportunidade de continuarmos a viver o Larinho em qualquer
parte do mundo. Sim, as aldeias, por vezes, também morrem. Mas nós não queremos
que o Larinho morra.
A mais terrível das
doenças será a de Alzheimer que, com a perda definitiva da memória, transforma
as pessoas em meros seres vegetativos. O mesmo se passa com as terras, com as
comunidades humanas que deixam de conviver. Mas nós não queremos que isso
aconteça com a nossa aldeia. Nós queremos manter-nos fiéis aos nossos
antepassados.
Miguel Torga
escreveu que "o maior bem que se pode ter é o nome de Transmontano".
Daniel de Sá, um Larinhato que foi emigrante no Brasil e que infelizmente já
não está entre nós, pois foi ceifado pela morte na flor da vida, ensinou-me um
maravilhoso poema que aqui deixo:
Trasmontenos? Sim, senhor!
Larinhatos? Pois então!
E exibo, de lavrador,
Com orgulho o meu brasão.
Do Reboredo ao Sabor
Há riqueza em profusão.
E há-de ver, quem lá for,
Azeite, vinho e feijão
Que produz o braço forte
Daquela gente do Norte,
Com merenda a pão e vinho,
Que tem por emblema o corvo.
É concelho de Moncorvo
Freguesia
do Larinho.
Larinho
Abril de 2017
António
Júlio Andrade
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.