No estômago sentia ainda o peso do trigo da última Weissbier. As
duas que tinha bebido, em conjunto com o excesso de sal do Brezel,
tinham-lhe trazido uma insónia como não há memória. Mas Videira desconfiava que
não era só isso.
Mas que raio, aquele era um dia diferente, não conseguia livrar-se do
pensamento que o tinha assaltado toda a noite.
Levantou-se, vagarosamente dirigiu-se à casa de banho. Tropeçou nas calças
estendidas no chão, bateu com o ombro esquerdo na ombreira da porta e foi neste
estado que abriu a torneira do lavatório. O contacto com água fria, fê-lo
encarar a realidade de uma forma mais decidida. Ia voltar e seria ainda hoje.
Dirigiu-se ao quarto do lado, nem foi preciso bater à porta. Izet, o seu
colega de turno, turco, ia a sair apressadamente para a fábrica.
- Não vou, disse-lhe Videira num alemão praticamente impercetível.
- Como, perguntou Izet, lembrando-se dos cinquenta marcos que Videira lhe
devia e lhe prometeu pagar no fim do mês."
Excerto do início de Na Demanda do Ideal
Gostei mais do segundo livro,mais maduro.Bom sinal, o terceiro será melhor.
ResponderEliminarJ.Mendes
"Armando Sena, nasceu em 1968 em Pedome, concelho de Valpaços.
ResponderEliminarEngenheiro electrotécnico de formação, exerce a sua atividade profissional no setor dos transportes.
Editou o seu primeiro romance, Na Demanda do Ideal, em junho de 2001. Participou na Antologia, Eu Digo Não ao Não, tendo-se seguido, Colheita de Incertezas, o seu segundo romance, editado em outubro de 2012."
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