sexta-feira, 15 de abril de 2011

Farrapos da Memória leva o Nordeste a 45 países

"O blogue criado por Leonel Brito tem actualmente mais de 1400 inscritos espalhados pelo mundo Este é um espaço que já ultrapassou as barreiras do virtual, que se está a revelar um verdadeiro lugar de encontros e reencontros. Um sítio que galgou as fronteiras e se transformou num lugar onde cibernautas mais ou menos experientes vertem as suas recordações, apontamentos, trabalhos científicos ou apenas o que resta da espuma dos dias. Quase todos têm algo em comum. Ou são moncorvenses. Ou transmontanos. Ou deles descendem. Estejam no Canadá, Brasil, África, em qualquer outro lugar do planeta. Une-os a memória. "


In: Mensageiro de Bragança
Por: Glória Lopes / Secção: O Olhar

(continua nos comentários)

7 comentários:

  1. Uma fotografia tirada a uma equipa de futebol, em 1937, e postada no Farrapos de Memória fez com que uma senhora residente em São Paulo, Brasil, com 52 anos, tenha reconhecido o avô que nunca conheceu pessoalmente. Era uma família cujos membros não se viam há 50 anos. Trocaram números de telefone, endereços. Reencontraram-se e encontraram-se. O episódio ainda emociona Leonel Brito, um moncorvense, 70 anos, residente em Elvas, fundador e mentor do blogue Farrapos de Memória, que tem uma vasta carreira ligada à fotografia, à edição de livros, à realização e produção para cinema e televisão.

    Como o próprio autor explica na página primeira, destina-se este blogue à divulgação de personagens e eventos históricos e do quotidiano do passado da região de Moncorvo, através de fotografias, vídeos, correspondência, notícias de jornais, excertos de livros e revistas, encontrados em álbuns, baús, caixas, gavetas, gavetões e em outras fontes fidedignas.

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  2. Leonel Brito pegou na mais valia que é o Centro de Memória de Torre de Moncorvo, o único do distrito e um dos raros no país. Decidiu que seria interessante que deixasse de ser um arquivo morto. Um depósito das reminiscências que ilustres moncorvenses reuniram ao longo da vida e cujas famílias cederam em forma de espólios à Câmara. Avançou para a divulgação do seu conteúdo. Com a intenção única de “ajudar a memória da população”. Não a mera memória do funcionário público ou do arquivista. Não. “Este arquiva”, ressalva o autor, defendendo que faz falta uma memória viva que confronte as pessoas. Foi com este espírito que o projecto começou. Foi com esta vontade que Leonel Brito vasculhou arquivos na Torre do Tombo, Cinemateca, Biblioteca Nacional, consultou arquivos militares, o Arquivo Geral de Simancas e o arquivo de Filipe II. Andou em demanda pelas memórias de Torre de Moncorvo. Em pouco tempo juntou mais de 4500 inéditos para entregar ao Centro de Memória. Surgiu a inquietação: “Será que alguém vai ver?”. A hipótese mais evidente apontava que a investigação ficasse armazenada. Desagradava-lhe. Desse desassossego nasceu a ideia de fazer um blog para poder divulgar “o que aqui se passa”. Levanta-se a ponta do véu, que, posteriormente, pode ser aprofundado no Centro de Memória e na Biblioteca Municipal da vila.

    Começou por utilizar o material de que dispunha, a maioria é resultado das próprias investigações e património. Em 1974 fez vários documentários para a televisão, nomeadamente sobre a primeira manifestação política no Felgar ou a Encomendação das Almas no Nordeste Transmontano. Em 1977, Leonel Brito realizou um filme sobre Torre de Moncorvo. “Tudo isto resultou em muito material e muita fotografia. Um arquivo. O blogue é um bom sítio para o mostrar”, contou.

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  3. Um escaparate com imenso potencial

    Inesperadamente o Farrapos de Memória teve uma aceitação imprevista, excedendo todas as expectativas. Os farrapos aos bocados, meias conversas, uma fotografia solta, meio texto tornaram-se motivo de visita. “Tudo serve”, explicou. A curiosidade primeiro dos moncorvenses e depois dos transmontanos ditou o sucesso. Começaram a querer contribuir também. Remexeram nas próprias recordações e memórias. “Entenderam que este é o álbum de fotografias de todos os moncorvenses. Começaram a pedir-me para pôr no blogue a fotografia dos anos 50 da aldeia onde nasceram. Os investigadores começara a enviar-me material do século XVI. Começaram a aderir. Alguns vivem em Inglaterra ou noutro país qualquer”, enumerou. O blogue foi-se formatando por si. Nada foi programado. “Começamos a pôr uns farrapos, onde se misturava investigação do século XVI com uma fotografia da família ou de uma equipa de futebol. Há sempre um filho que foi para doutor outro que se perdeu. Todas essas vivências é que nos interessam”, justifica Leonel Brito.

    Os leitores colaboram muito com o sítio na Internet. Mandam material. Postam comentários. Todos os dias é actualizado com cinco ou seis posts e até já têm material a mais. A divulgação através da rede social Facebook também ajudou a dinamizar e a angariar amigos. “Isto numa terra com poucos habitantes”, ressalvou. O Farrapos de Memória tem actualmente mais de 1400 inscritos, oriundos de 45 países, onde os moncorvenses e outros nordestinos estão espalhados. Por vezes o crescimento rápido assusta o mentor. “Para onde é que já vais?”. Arrisca-se a deixar de ter o espírito inicial, com os farrapos, para ser quase uma instituição. “São as informações dos que morrem, do teatro, das notícias. Os textos dos escritores transmontanos como Pires Cabral, Antero Neto, Manuel Cardoso”. Este é um escaparate com um imenso potencial. “Ainda estamos para cá do Marão. Isso sente-se com este blogue. As pessoas ainda não conseguem passar o Pocinho, ainda se sentem arrumadas para aqui. O seu carácter nordestino e a sua pujança batem todas as dificuldades”, considera. Leonel Brito lamenta que toda a gente ande com muita pressa e ninguém veja ninguém. Defende que é preciso parar um momento para olhar. O blogue é como se fosse o apito do árbitro. “Há aqui uma camada humana de muito valor”, diz, recordando o passado e os tempos de juventude, mas sem lamechices. “Nós éramos a geração do desenrasca. Não tínhamos nada. Mas tínhamos de sobreviver”, recordou.

    Reafirma a sua vontade de que seja um blogue de todos para todos. Não sabe qual é o percurso que o Farrapos de Memoria vai seguir, mas está certo de que vai ser o que as pessoas quiserem. “Eu apenas faço de feitor da quinta. O caminho faz-se caminhando”.

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  4. Maria Jose: As novas tecnologias tem os seus prós e contras, mas não haja dúvida que nos uniu com os nossos Portugueses espalhados pelo Mundo, e pelo o que constatei, eles sentem-se gratos por noticias do seu País e este carinho da partilha.

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  5. Tirar partido das novas tecnologias e generosamente partilhar o que de positivo elas oferecem é algo que se deve louvar.Como moncorvense da diáspora,aqui deixo o meu muito obrigado ao Leonel.

    Maneldabila

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  6. Os Farrapos de Memória são um presente diário de que já não se prescinde. À pertinência da informação junta-se a generosidade do Lelo ao disponibilizar este espaço de consulta, de partilha, de intercâmbio, de divulgação. Generosidade que também revela na entrega dos documentos que,entusiástica e pacientemente, procura em tantos arquivos e que são uma fonte preciosa para os investigadores. Preciosa e próxima. Desejo que se mantenha, com o mesmo entusiasmo,a gerir este imenso - e cada vez mais imenso - abraço transmontano.

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  7. Carla Gonçalves: tenho visto o teu trabalho, Glória, parabéns! Tu e a Ana fazem um excelente trabalho com aquele jornal, pena é que sejam apenas vocês as duas..

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